Memórias de uma viagem ao Japão
Tiago Silva passou 23 dias no Japão, naquela que foi a melhor viagem da sua vida. Da aventura resultou uma série de fotografias que retratam o quão peculiar é a cultura japonesa.
Quando chegou à estação de Shibuya, em Tóquio, Tiago Silva pousou as malas e durante largos minutos ficou parado, a olhar em redor. “Era demasiada informação para absorver”, conta. Foi no dia 1 de Junho, por pura coincidência Dia Mundial da Criança, uma vez que era mesmo esse o espírito com que Tiago embarcou nesta viagem: o espírito de uma criança que quer descobrir o mundo à pressa, tudo de uma vez.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Quando chegou à estação de Shibuya, em Tóquio, Tiago Silva pousou as malas e durante largos minutos ficou parado, a olhar em redor. “Era demasiada informação para absorver”, conta. Foi no dia 1 de Junho, por pura coincidência Dia Mundial da Criança, uma vez que era mesmo esse o espírito com que Tiago embarcou nesta viagem: o espírito de uma criança que quer descobrir o mundo à pressa, tudo de uma vez.
Poucos dias antes despediu-se (ou melhor, disse “até já”) da agência onde trabalhava como redactor publicitário há cerca de cinco anos. “Tinha chegado a altura de me retirar e explorar outras vertentes da criatividade, nomeadamente a fotografia”, conta, ao telefone de Lisboa, ainda em “depressão pós-viagem”.
Vinte e três dias, oito cidades, um país. “Foi a melhor viagem da minha vida." Partiu para terras nipónicas “com a melhor companhia que podia ter”: a sua Fujifilm X-T10. Especialista em captar "fotografias que não se encontram no Google" nos tempos livres, Tiago viu nesta aventura de quase um mês pelo seu “destino de sonho” a oportunidade ideal para explorar a fotografia sem pensar em mais nada: “Sem deadlines, sem briefings, sem ter alguém a aprovar as ideias.”
Da viagem, trouxe memórias que não cabem nos quatro cartões que encheu com fotografias. “Quando se viaja sozinho acaba-se sempre por conhecer mais pessoas”, e quando se passeia de câmara na mão ainda mais amigos se fazem. Para o jovem de 24 anos, “quando fotografas alguém é como se a cada ‘clique’ estivesses a dar um 'passou bem'.”
Partiu sem saber quantos dias iria ficar, “ia com o flow”. Marcava as estadias no comboio, pelo caminho, e se gostava do sítio ficava mais tempo. “Só tinha as primeiras duas ou três noites marcadas, planeava ficar cinco dias em Tóquio mas gostei tanto que fiquei o dobro”, recorda Tiago. Em Nara aconteceu a mesma coisa: chegou ao hostel, fez amizade com o proprietário – grego, por ali há 17 anos –, e depois de uma boa conversa disse: “Hei, podes marcar mais uma noite? Estou mesmo a gostar de estar aqui.”
Um mundo à parte
Para Tiago, o Japão é um mundo à parte: “É como se chegasses e tivesses não só um jet-lag físico, mas também emocional.” A cultura, a educação e os hábitos dos japoneses fizeram com que o regresso a Lisboa, há algumas semanas, parecesse um “choque cultural”.
Mesmo que 23 dias seja pouco tempo, a experiência foi tão imersiva que Tiago sente que passou um ano naquele país. “De manhã já ia comprar o pequeno-almoço de robe e chinelos e tirava os sapatos no restaurante, como eles”, exemplifica.
Para além de Tóquio, visitou outras cidades como Quioto, Osaka, Naoshima, Kobe e Nara, onde viveu uma das experiências mais marcantes desta viagem. A 16 de Junho acordou sobressaltado com o solo a tremer. Apenas teve tempo de se vestir, pegar nas malas e sair do hostel. “Quando dou por mim chego à rua, superassustado, e está toda a gente normal porque era só mais um terramoto.” Apesar da calma que se vivia em Nara, a 30 quilómetros, em Osaka, o sismo de 6,1 graus na escala de Ritcher (o mais forte alguma vez registado naquela cidade) provocou três mortos e duas centenas de feridos.
Tiago já esteve no Brasil, Cuba, Istambul e outros locais igualmente interessantes, mas nada se compara a esta aventura. São várias as recordações (fotográficas e mentais) que guarda: desde os jantares “à luz do tradutor da Google”, ir ao karaoke vestido de astronauta, ser atacado por veados selvagens, comer o “melhor e o pior” sushi da sua vida ou visitar um templo cheio de macacos.
Quase como uma “cronologia inconsciente”, as fotografias espelham a forma como, a pouco e pouco, se foi aproximando dos japoneses e absorvendo os detalhes desta cultura. “À medida que a viagem vai avançando, os sorrisos deles são maiores porque já estou muito mais à vontade e, se calhar, antes de tirar uma fotografia já conversei um pouco com eles”, analisa Tiago.
Através da fotografia, conheceu muita gente e criou amizade com pessoas com quem ainda se mantém em contacto. Ao mesmo tempo, Tiago sentiu-se sempre apoiado pelos seguidores que já tinham visitado o Japão e lhe davam sugestões. “Sinto que se cria uma comunidade, agora quando vejo [nas redes sociais] pessoas no Japão faço o mesmo: estive lá, tenho de as ajudar como me ajudaram a mim.”
Para Tiago, viajar sozinho tem ainda outras vantagens: “Estás só tu e a tua câmara, se quiseres podes passar 20 minutos no mesmo sítio à espera que um camião passe para tirares a foto perfeita.”
Antes de voltar ao trabalho, o criativo tenciona fazer outra viagem do género desta mas ainda não pensou em destino. “Logo se vê”, diz. Nós cá esperamos por mais fotografias.