Morreu António Rafael, o polémico bispo emérito da diocese de Bragança-Miranda

Sempre muito interventivo, prelado chegou a apelar aos emigrantes para não enviarem as suas poupanças para Portugal durante governo de Mário Soares.

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D. António Rafael em 1996 Manuel Roberto

O bispo emérito da Diocese de Bragança-Miranda, António Rafael, morreu neste domingo aos 92 anos, tendo ficado conhecido pelas posições polémicas que assumiu ao longo episcopado.

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O bispo emérito da Diocese de Bragança-Miranda, António Rafael, morreu neste domingo aos 92 anos, tendo ficado conhecido pelas posições polémicas que assumiu ao longo episcopado.

Numa nota enviada às redacções, a Diocese de Bragança-Miranda dá conta de que o corpo encontra-se no Santuário da Família, na Fundação Betânia, em Bragança, até às 19h, seguindo depois para a catedral, onde terá lugar uma vigília de oração, às 21h. A missa exequial terá lugar na segunda-feira, às 16h, sendo depois sepultado no átrio dos Bispos na catedral, em Bragança.

António Rafael resignou por ter atingido o limite da idade e passou testemunho, em 2001, a António Montes Moreira, entretanto já substituído também pelo mais jovem bispo de Portugal, José Cordeiro, o actual bispo diocesano.

A insistência durante 22 anos na construção de uma nova catedral em Bragança marcou o episcopado de António Rafael. Ficou conhecido como o "bispo polémico", pelas suas intervenções na vida da diocese e do país, que foram muito além do que à Igreja diz respeito.

Ao longo do seu episcopado pediu ao governo que criasse incentivos para as famílias numerosas de forma a combater a desertificação que assola o Nordeste Transmontano. "Façam filhos", apelou insistentemente aos diocesanos, da mesma forma como combateu a legalização do aborto, comparando-o ao holocausto nazi, e ameaçou não dar os sagrados sacramentos a quem se dissesse a favor desta prática.

Defendeu que os salários dos mais abastados deviam ser congelados até que todo o país recebesse, pelo menos, o salário mínimo nacional. A sua discordância com a governação de Mário Soares, enquanto primeiro-ministro, foi ao ponto de apelar aos emigrantes portugueses para não enviarem as suas poupanças para Portugal, porque o dinheiro cairia "num saco roto".

Contra a proposta política votou "não" no referendo sobre a regionalização, apesar de se assumir como um regionalista. Com a mesma frontalidade, aplaudiu a descriminalização do consumo de drogas, considerando que não se deve castigar um toxicodependente, que é um doente, mas sim os traficantes que são os verdadeiros criminosos. Contestou também a atribuição do prémio Nobel da Literatura a José Saramago.

Dentro da Igreja foi criticado pelo seu "autoritarismo e reacções repentinas", entre as quais aquelas em que expulsou os jornalistas do Paço Episcopal em situações controversas como a manifestação dos populares de Vilares da Vilariça contra o pároco local. Enfrentou a contestação das gentes de Miranda da Douro à "despromoção" da Sé de Miranda, ao construir a "igreja mãe", em Bragança, e à colocação em segundo lugar da terra berço da diocese, na nova designação — "Diocese de Bragança-Miranda".

D. António Rafael ingressou no sacerdócio aos 22 anos. Foi ordenado bispo em 1977, no mesmo ano em que foi nomeado bispo auxiliar de D. Manuel de Jesus Pereira, o então bispo da diocese.