Estado civil: ausente
Estamos em 2018 e, ainda assim, o estado civil “solteiro” continua a ser sinónimo de encalhado, solidão e “vais ficar para tia”.
Não foi em combate, mas, a verdade, é que estão desaparecidos. Ninguém sabe deles. Escondidos, camuflados ou simplesmente perdidos. Mal deram à luz um relacionamento, “morreram para vida”. Só vivem para a sua cara-metade, ora não fosse um mais um igual a um ou, mais tarde, a três – quase nunca é igual a dois.
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Não foi em combate, mas, a verdade, é que estão desaparecidos. Ninguém sabe deles. Escondidos, camuflados ou simplesmente perdidos. Mal deram à luz um relacionamento, “morreram para vida”. Só vivem para a sua cara-metade, ora não fosse um mais um igual a um ou, mais tarde, a três – quase nunca é igual a dois.
Estamos em 2018 e, ainda assim, o estado civil “solteiro” continua a ser sinónimo de encalhado, solidão e “vais ficar para tia”. Existe uma derradeira busca por um parceiro que nos faça feliz e nos complete. Continuamos a acreditar que a solo não cantamos grande coisa. Paira no ar uma anti-sabedoria de que as chaves da porta da felicidade podem estar nos bolsos de qualquer pessoa menos nos nossos. Isto torna-nos ansiosos e sedentos por uma relação. Com o passar do tempo, aumenta a pressa e diminui a fasquia. Como diz o fotógrafo e músico João Tamura: “Quem nunca teve amor, qualquer carinho pega”.
Mas porque será que todos conhecemos alguém que, após ter entrado num relacionamento, desapareceu por completo? Será que começou a namorar com uma cela prisional ou com uma estação de serviço? Estaremos nós a levar o termo “exclusividade” demasiado à letra?
De um dia para o outro, o nosso telefone deixa de tocar. A disponibilidade e a iniciativa evaporam-se por completo. Vamos às redes sociais e confirma-se o pior: está a namorar. Deixa de haver tempo para tudo. Assume-se que existe uma obrigação de escolha entre os amigos e a relação. Parece que existe um medo de que a outra pessoa se chateie connosco por só passarmos 24 horas por dia com ela. A identidade própria começa a mirrar. Vamo-nos esquecendo de quem realmente somos. Da paixão à obsessão sem passar pelo amor, é um instante.
Ainda existem aqueles que desenvolvem dupla personalidade. Quando estão com o seu parceiro parecem um carro a tentar acelerar na auto-estrada com o travão de mão puxado. Não podem extravasar nem dar demasiado nas vistas. Alguma atitude mais ousada pode dar direito a cumprir uma pena de oito horas no sofá. Por outro lado, quando se apanham com “a rédea solta” é um ver se te avias. Assistimos a um espectáculo de descompressão e alívio que só pode ser interrompido por uma chamada do “Mor”.
Quando o relacionamento fraqueja, o ser comprometido realiza outra actividade paranormal. O desespero, essa voz que fala mais alto que as outras todas, leva estas pessoas a ligarem a um amigo para desabafar. Estão muito mal e precisam de ajuda. Debitam as suas inquietações e ouvem de forma atenta os conselhos de quem se preocupa com elas. Prometem que tudo irá mudar, assim não dá mais. Dão-nos tanta razão que ficamos com equivalência a psicólogo. Passam um, dois, vinte sete dias e nada. Pelo número de fotos juntos no Instagram, ficou tudo bem — para o lado deles. Nós continuamos por cá para as ocasiões, mas só para as aborrecidas.
Não me parece de todo saudável vivermos para alguém. Se um dia o “para sempre” acabar, com que cara é que regressamos ao mundo? Eu concordo que os amigos são para as ocasiões, mas não é por isso que os vamos enfiar num frasquinho até serem novamente necessários. Até aos 20 anos, é plausível sermos engolidos pelo deslumbramento e ficarmos completamente vidrados em alguém. Felizmente, o tempo, para além das rugas e dos cabelos brancos, também traz coisas boas. Uma delas é a experiência e, caso estejamos para aí virados, a sabedoria. Se a vossa relação não for demasiado grande para esta carapuça, marquem um jantar com aquele amigo do “havemos de combinar qualquer coisa”. As vossas relações agradecem.