Tsipras assume responsabilidade política pelos incêndios na Grécia

Oposição ataca Governo, que promete um plano para corrigir as décadas em que se fechou os olhos à construção em áreas de risco, como Mati, a zona devastada pelas chamas.

Foto
Alexis Tsipras no centro de operações dos bombeiros em Atenas, na noite dos incêndios, 23 de Julho EPA

Com a oposição a atacar o Governo grego, acusando-o de arrogância e extrema incompetência por não ter posto em prática medidas que pudessem salvar as 87 pessoas que morreram nos incêndios de segunda-feira – e espera-se que esse número continue a subir –, o primeiro-ministro, Alexis Tsipras, reuniu esta sexta-feira o executivo de emergência e chamou a si a responsabilidade.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Com a oposição a atacar o Governo grego, acusando-o de arrogância e extrema incompetência por não ter posto em prática medidas que pudessem salvar as 87 pessoas que morreram nos incêndios de segunda-feira – e espera-se que esse número continue a subir –, o primeiro-ministro, Alexis Tsipras, reuniu esta sexta-feira o executivo de emergência e chamou a si a responsabilidade.

“Quero assumir total responsabilidade política pela tragédia”, afirmou Tsipras, citado pelo jornal grego Kathimerini, no início do Conselho de Ministros.

Tsipras prometeu que o seu Governo vai desenvolver um plano para corrigir as décadas em que se fechou os olhos à construção em áreas onde nunca deveriam existir edifícios – como no caso da estância balnear de Mati, a área mais afectada, onde 49% das cerca de quatro mil casas deixaram de ser habitáveis por causa das chamas. Estes imóveis foram construídos sem licença, no meio de um pinhal, que já noutras ocasiões ardeu, e com maus acessos. “Toda a zona deve ser redesenhada, é preciso abrir estradas, reabrir o acesso ao mar”, afirmou o ministro do Interior, Panos Skourletis, citado pelo Le Monde francês.

Skourletis reconhecia que seria “preciso entrar em conflito com os interesses organizados, pois toda a Grécia está construída desta forma”. O único país da União Europeia sem um cadastro dos terrenos é a Grécia – e a falta de certezas sobre os direitos de propriedade e usos dos terrenos é um grande obstáculo ao investimento, ao desenvolvimento e até à recolha de impostos.

Resolver este assunto não é fácil e exigirá tacto – como percebeu demasiado tarde Panos Kammenos, o ministro da Defesa, que foi o primeiro membro do Governo a visitar a zona sinistrada. Suscitou a ira dos moradores ao atribuir a culpa da tragédia à construção ilegal. “Deixaram-nos sozinhos para arder, como ratos”, disse à televisão Skai Chryssa uma das sobreviventes do incêndio em Mati. “Não veio ninguém pedir desculpa, apresentar a demissão, ninguém.”

O que foi diferente neste incêndio foi ter morrido tanta gente numa área de apenas 1300 hectares, diz um estudo de Efthymios Lekkas, da Universidade de Atenas, citado pelo Kathimerini. No incêndio de Pedrógão Grande, em Portugal, morreram 66 pessoas, mas a área ardida chegou a 53 mil hectares. No grande incêndio de Ilia, no Sul da Grécia, em 2007, foram destruídos 271 mil hectares.

As sondagens estão a dar uma confortável vantagem à Nova Democracia, sobre o Syriza, o partido de Tsipras. Kyriakos Mitsotakis, o líder deste partido de direita, foi dos primeiros políticos a visitar a zona afectada – ao contrário do primeiro-ministro, que ainda não foi lá. Tsipras quer terminar a legislatura e convocar eleições no Outono de 2019. Mas há um rumor em Atenas sobre eleições na Primavera.

Curiosamente, nos últimos dias não se tem falado em eleições, diz a enviada do El País. Talvez por estarem ainda vivos na memória de todos as consequências dos incêndios de 2007, quando o conservador Kostas Karamanlis tentou superar um mau período político dando a palavra aos eleitores. Teve a vitória por pouco, mas foi forçado a convocar novas eleições dois anos depois – ganhas pelos socialistas.