Movimento #MeToo ganha força na China após denúncias de abusos sexuais

A hashtag #MeToo já apareceu 77 milhões de vezes em publicações no Weibo, apesar da maioria das publicações que a possuem terem sido removidas.

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O movimento #MeToo está a fomentar um debate acerca da conduta sexual na sociedade chinesa Issei Kato

Inúmeras denúncias de abusos sexuais estão a surgir na China, aliadas à proliferação do movimento #MeToo nas redes sociais do país. Milhões de utilizadores têm partilhado notícias de abusos sexuais envolvendo figuras proeminentes da sociedade chinesa.

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Inúmeras denúncias de abusos sexuais estão a surgir na China, aliadas à proliferação do movimento #MeToo nas redes sociais do país. Milhões de utilizadores têm partilhado notícias de abusos sexuais envolvendo figuras proeminentes da sociedade chinesa.

O Governo de Pequim tem censurado grande parte destas publicações, apesar de muitas ainda continuarem disponíveis.

Num país onde o assédio sexual é um tema negligenciado pela sociedade civil, o movimento pretende alterar as consciências e sensibilizar sobretudo os mais jovens para os efeitos nocivos das agressões sexuais.

Estas denúncias originaram um debate sobre a violência sexual na sociedade chinesa. As questões relacionadas com a conduta sexual e as diferenças entre sexo consentido e violação são alguns dos temas que estão na ordem do dia. Na sexta-feira, o tópico "indícios de abusos sexuais" era o segundo mais popular na rede social chinesa Sina Weibo.

Durante esta semana, para além de mais de 20 mulheres terem denunciado casos de má conduta sexual, surgiu uma denúncia que visava uma associação não-governamental humanitária. Lei Chuang, fundadora da associação, afirmou que foi alvo de agressões sexuais. Depois da confissão, feita através das redes sociais, abandonou a organização. O depoimento de Lei tem sido veiculado em vários órgãos de comunicação estatais, incluindo o China Daily.

Contudo, a denúncia mais concreta foi feita por uma mulher de 27 anos que se apresenta sob o pseudónimo de Little  Spirit. A mulher acusou Zhan Wen, reconhecido jornalista e comentador político chinês, de a ter violado em Maio depois de um banquete. Depois desta acusação, mais outras seis mulheres apresentaram queixas, acusando o jornalista de assédio sexual.

Na quarta-feira, Wen negou as acusações, garantido que o caso que teve com Little Spirit foi consentido.

Mas as queixas de assédio e violência sexual visando o veterano jornalista continuam a fazer eco. Várias jornalistas chinesas acusaram Wen de as forçar a ter relações sexuais com ele.

Devido ao número de denúncias, o jornalista respondeu, em comunicado, que "tirar fotos juntos, dar abraços e beijos depois de beber alguns copos é uma prática habitual nos meios mediáticos e intelectuais".

Na quinta-feira, um docente da Universidade de Pequim foi acusado de assédio sexual por um estudante. Os factos denunciados ocorreram em 2016 e a universidade decidiu abrir uma investigação. A instituição prometeu tratar do caso com “tolerância zero” se vier a confirmar-se.

Uma figura importante da televisão estatal chinesa (CCTV) foi acusada na quinta-feira de ter molestado sexualmente uma estagiária. Mas, a publicação que denunciava os abusos foi rapidamente retirada do Weibo. Nem a estação televisiva nem o acusado se manifestaram até ao momento sobre as acusações.

Depois do vasto leque de denúncias, os termos “Metoo” e "Me too" estavam  no oitavo e no nono lugar da lista das palavras mais pesquisadas no Weibo.

A revista chinesa Portrait, através do seu site, apelou aos leitores para que partilhem as suas histórias de agressões sexuais. A publicação revelou que recebeu mais de 1700 histórias de abuso sexual em menos de 24 horas. Entretanto, o artigo foi removido de outra popular rede social chinesa, o WeChat. 

O movimento MeToo nasceu nos Estados Unidos, depois de dezenas de mulheres terem acusado o produtor cinematográfico Harvey Weinstein de crimes de abuso sexual, incluindo violação. O movimento, que tem uma grande implementação online, espalhou-se por muitos países, servindo de plataforma de denúncia de violência sexual.

O movimento chegou à China em Dezembro do ano passado, quando uma americana residente no país escreveu no seu blogue que foi assediada sexualmente por um professor da Universidade de Pequim.

O movimento continua a crescer na China. A hashtag #MeToo já apareceu 77 milhões de vezes em publicações no Weibo, apesar da maioria das publicações terem sido removidas.