Líder máximo da Igreja Católica chilena acusado de encobrir casos de pedofilia

A acusação ao cardeal Ricardo Ezzati feita pelo Ministério Público é o mais recente choque que a Igreja Católica no país sofre nos últimos meses.

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Ricardo Ezzati diz estar disponível para colaborar com a justiça Reuters/Ivan Alvarado

O chefe da Igreja Católica chilena, o cardeal Ricardo Ezzati, foi intimado a comparecer em tribunal, onde em Agosto irá responder pela acusação de encobrimento de casos de abusos sexuais cometidos por membros do clero. A acusação do arcebispo de Santiago é considerada um profundo golpe contra a hierarquia católica no país, que nos últimos tempos tem enfrentado as décadas de abusos sexuais continuados perpetrados por padres.

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O chefe da Igreja Católica chilena, o cardeal Ricardo Ezzati, foi intimado a comparecer em tribunal, onde em Agosto irá responder pela acusação de encobrimento de casos de abusos sexuais cometidos por membros do clero. A acusação do arcebispo de Santiago é considerada um profundo golpe contra a hierarquia católica no país, que nos últimos tempos tem enfrentado as décadas de abusos sexuais continuados perpetrados por padres.

Tem sido uma semana negra para a Igreja Católica no Chile. Na segunda-feira, o Ministério Público revelou um relatório exaustivo onde figuram todos os casos de pedofilia envolvendo figuras da Igreja actualmente sob investigação e que abarcam factos que vêm desde os anos 1960. O documento diz que foram ou estão a ser investigadas 158 pessoas ligadas à Igreja, entre sacerdotes, laicos ou responsáveis próximos de instituições religiosas.

Foram identificadas 266 vítimas, das quais 178 eram menores de idade na altura dos factos, diz o El País.

A Igreja Católica chilena enfrenta a sua mais grave crise desde que foi lançada uma investigação às suspeitas de abusos sexuais cometidos por padres e figuras próximas da vida religiosa. O esforço de “limpeza” da hierarquia eclesiástica tem sido promovido pelo Vaticano desde que em Maio o próprio Papa Francisco chamou a Roma os 34 bispos chilenos que, após três dias de reuniões, apresentaram a sua demissão em bloco.

Em Janeiro, Francisco visitou o Chile e, confrontado com as acusações de encobrimento que pendiam sobre o bispo Juan Barros, disse que não existiam provas e acabou por desvalorizar o que descreveu como “calúnias”. As vítimas de abusos ficaram chocadas com a reacção do Papa que, meses depois, admitiu ter cometido “erros graves”.

Há duas semanas foi detido o influente sacerdote Óscar Muñoz, ex-encarregado da Cúria do Arcebispado de Santiago, acusado de ter cometido abusos sexuais sobre menores.

O Ministério Público acusa agora o arcebispo da capital chilena de ter encoberto vários crimes e quer ouvi-lo em tribunal a 21 de Agosto.

Ezzati diz estar disponível para colaborar com a justiça, embora negue ter encoberto qualquer caso. “Tenho a convicção de nunca encobri nem obstruí a justiça e, como cidadão, irei cumprir o meu dever de revelar todos os antecedentes que contribuam para esclarecer os factos”, afirmou o arcebispo, através de um comunicado.

Juan Carlos Cruz, uma das vítimas do ex-padre Fernando Karadima, na linha da frente das acusações, saudou a decisão do Ministério Público e disse que "se vão seguir muitos mais".