Sob o signo do ansiolítico

O novo filme do autor de Amor e O Laço Branco é uma angustiante câmara lenta dos nossos dias mas que nada traz de novo ao seu cinema.

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Os blockbusters americanos gostam muito de se apresentar como feel-good movies, ou seja, filmes que deixam o espectador bem disposto e animado – Michael Haneke poderia bem descrever o seu cinema, com a fina e devastadora ironia que lhe conhecemos, como feel-bad movies, visto que o olhar impiedoso e cirúrgico com que desmonta os reversos da sociedade contemporânea tem o resultado de deixar o espectador a questionar a sanidade mental do mundo que o rodeia. Happy End é o sucessor do devastador Amor (2012), com o qual aliás invoca um grau de parentesco mais ou menos solto através da presença de Jean-Louis Trintignant e de Isabelle Huppert. E, como seria de esperar do título, de feliz não tem nada: assistimos à dissolução em câmara lenta de uma família abastada de Calais, pelo meio de crises pessoais e profissionais contra as quais parece não haver defesa possível.

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Os blockbusters americanos gostam muito de se apresentar como feel-good movies, ou seja, filmes que deixam o espectador bem disposto e animado – Michael Haneke poderia bem descrever o seu cinema, com a fina e devastadora ironia que lhe conhecemos, como feel-bad movies, visto que o olhar impiedoso e cirúrgico com que desmonta os reversos da sociedade contemporânea tem o resultado de deixar o espectador a questionar a sanidade mental do mundo que o rodeia. Happy End é o sucessor do devastador Amor (2012), com o qual aliás invoca um grau de parentesco mais ou menos solto através da presença de Jean-Louis Trintignant e de Isabelle Huppert. E, como seria de esperar do título, de feliz não tem nada: assistimos à dissolução em câmara lenta de uma família abastada de Calais, pelo meio de crises pessoais e profissionais contra as quais parece não haver defesa possível.

Trintignant é o patriarca viúvo que, à beira do seu aniversário, parece apenas desejar a libertação deste “casulo mortal”; Huppert, a filha que assumiu o controlo da empresa familiar, tem que lidar ao mesmo tempo com um acidente industrial e as inconstâncias de um filho que se sente enjeitado; Mathieu Kassovitz, o filho cirurgião, vê-se na obrigação de acolher a filha que nunca conheceu realmente depois da ex-mulher se tentar suicidar. Ao seu redor, tudo é problemático – sindicatos em greve, inspectores do trabalho, condutores com pressa, cães agressivos, migrantes ilegais, conversas em segredo, um constante acumular de grandes irritações e pequenas tragédias que só os ansiolíticos conseguem controlar. E tudo isto sob o olhar de Eve, a menina que cai de repente no meio dos Laurent e vê logo aquilo que eles acham que ninguém compreende, mediado através da câmara do telemóvel.

Pela multiplicidade de pequenas histórias que se cruzam e pelo modo como o “tema” central apenas vai emergindo aos poucos, Happy End remete para um filme como Código Desconhecido (2000), do qual poderia aliás ser uma versão sob o efeito de Xanax. E se não se coloca em nenhum momento em causa o talento de Haneke para criar o absoluto desconforto no espectador e ir directo ao assunto com o mínimo de elementos, fica também a sensação de que, depois de dois filmes mais “radicais” como Amor e O Laço Branco (2009), Happy End é filme mais resguardado, mais confortável (se é que tal é possível com o austríaco…), com algumas pontas pior rematadas do que é normal. Não se descobrirão aqui surpresas, apenas um autor a trabalhar ao seu bom nível habitual, revelando pelo meio de um elenco impecável uma jovem actriz a reter (a miúda Fantine Harduin) e capaz de arrancar momentos fulgurantes de cinema (como a conversa na praia entre pai e filha).

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