Porque são únicos e valiosos os vinhos da Borgonha?

Prova didáctica da Maison Chanson põe em evidência as propriedades dos diversos climats que marcam a diferença no reino dos Chardonnay e dos Pinot Noir.

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Se a França e os preços que lá se conseguem praticar são um caso à parte no mundo dos vinhos, a Borgonha é, por outro lado, uma região distinta dentro do país vinhateiro. E nem seria necessário o recente reconhecimento da UNESCO, ao classificar como Património da Humanidade as suas parcelas de vinha, em 2015, que também há muito a região detém o estatuto de maior prestígio a nível global, tal como os seus vinhos. 

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Se a França e os preços que lá se conseguem praticar são um caso à parte no mundo dos vinhos, a Borgonha é, por outro lado, uma região distinta dentro do país vinhateiro. E nem seria necessário o recente reconhecimento da UNESCO, ao classificar como Património da Humanidade as suas parcelas de vinha, em 2015, que também há muito a região detém o estatuto de maior prestígio a nível global, tal como os seus vinhos. 

E distingue-se a Borgonha desde logo por dois aspectos que valorizam extraordinariamente os seus vinhos e vinhas. O primeiro é que os vinhos são reconhecidos e valorizados pelo lugar onde estão as vinhas (e é isso que é obrigatoriamente destacado nos rótulos) e não pelas marcas; o segundo é que a tradição e antiguidade contam mesmo e não são meros chavões.

Quer isto dizer que são os vinhos de parcelas específicas e com provas dadas através dos tempos que são os mais valorizados, independentemente de técnicas, conceitos ou estilos. São os chamados climat, a designação local para o conceito mais abrangente de terroir, que levam em conta não só os solos. Também o subsolo, altitude, neves, águas, a influência dos ventos ou a incidência do sol são valorizados. E tudo isto apurado ao longo dos tempos e com um historial de produção que atravessa os séculos. Daí que, na Borgonha, o valor de cada hectare de vinha facilmente ultrapasse os 150 mil euros — em muitos casos vai aos milhões — e se diga também que quando se fala de clima o olhar não se dirige para o céu, antes se baixa em direcção à terra.

Mas é claro que nem tudo são vinhos de topo, e daí a classificação dos vinhos em Gran Cru e 1er Cru — em função do local/climat —, a par dos Comunais e Regionais. Pelo que, tendo em atenção o custo da vinha, os Gran Cru correspondem a apenas cerca de 1,8% da produção e os 1er Cru a 10,4%, facilmente se percebe que por mais altos que sejam os preços para os vinhos da Borgonha raramente são especulativos.

Porque são raros, reputados e valiosos, a oportunidade para os poder provar e apreciar é também um caso à parte. E assim foi com o jantar didáctico com vinhos da Maison Chanson promovido pela Direct Wine, organização que, a par das actividades de formação na área do vinho, se dedica também à distribuição de vinhos do mundo. Ainda por cima, sob a batuta de Raul Riba d’Ave, que é um dos mais completos conhecedores da realidade da vinha e dos vinhos por esse mundo fora.

Sim, porque nem os afortunados borgonheses que têm acesso facilitado aos melhores vinhos do mundo os podem saborear com “o extraordinário arroz de lavagante do [restaurante] Gaveto”, que Raul Riba d’Ave propôs para os Corton Charlemagne Gran Cru, das colheitas de 2008 e de 2016.

Um dos melhores vinhos brancos do mundo, que sai da parte superior das encostas de calcário de Corton, na Côte de Beaune. De uma pureza e balanço extraordinário, acidez fantástica, mineral, complexo e um poderoso e longo final de boca. O privilégio de ter em confronto duas colheitas com quase uma década de diferença (2016 e 2008) mostra como o tempo faz bem a estes vinhos, que refinam nas qualidades de elegância e envolvência. Polido, redondo, encorpado e potente, o 2008 mostrou-se um vinho perfeito.

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Antes, o confronto tinha sido entre dois Chablis 1er Cru, da mesma colheita (2014) mas de climats diferentes, pondo em evidência como cada parcela marca a personalidade do vinho, mesmo quando estão ao lado uma da outra. A destacar a excepcional mineralidade o climat de Montmais, mais longo, intenso e envolvente o de Montée de Tonnerre. E provenientes das mesmas uvas (Chardonnay), cuidadas e vinificadas da mesma forma. Apenas de parcelas vizinhas.

Igualmente extraordinários os Puligny  Montrachet 1er Cru Champs de Grains, de 2004 e 2016. Ricos, largos e minerais, com uma elegância e envolvência de boca fabulosa o de 2014, que, mais do que em processo de envelhecimento, mostrou estar ainda a enriquecer.

Por fim, os tintos do Clos de Féves Beaune 1er Cru, que o reconhecido guia Bettane & Dessauve elegeu a colheita de 2015 como o melhor tinto de França (19 pontos em 20 possíveis). Um Monopole — uvas de uma única parcela de 2,8ha — cuja colheita de 2015 se provou em garrafa magnum, em paralelo com a colheita de 2008. Fruta na sua mais pura e saborosa expressão apenas amparada por uma textura sedosa, taninos finos e um manto de elegância. Mesmo que na Borgonha se deva à terra a qualidade dos vinhos, é impossível não agradecer aos céus tamanhas bênçãos!

Numa região povoada de pequenos produtores, a Maison Chanson tem 45ha de vinha, o que, não sendo muito, a coloca como o mais pequeno dos grandes proprietários da Borgonha. A Chanson nasceu em 1750, mas foi adquirida em 1999 pela conhecida casa de champanhes Bollinger. A par de alguns climats distintos que proporcionam vinhos únicos, a empresa assinala também a particularidade dos estágios na sua adega, instalada num antigo forte militar com muros em pedra com mais de 7m de espessura. Durante as vindimas, a uvas passam por um túnel de frio, onde estabilizam à temperatura de 1º/8º, de onde passam para tanque de pré-fermentação onde permanecem sem desengace durante oito a dez dias.