Há alguma maneira eficaz de evitar aquele “Já chegámos?”
Nas viagens de carro, ou até mesmo de avião, há uma mão cheia de jogos para entreter os miúdos e ajudá-los a passar o tempo.
Quem já viu aquela cena do Shrek 2, em que Eddie Murphy, a voz do divertido burro, entoa de todas as formas e feitios sempre a mesma frase, sabe bem do que aqui tenciono falar: “Are we there yet?”. Ou, na versão portuguesa, “já chegámos?”, “Falta muito?”, “Quanto tempo falta?”, “Quando é que vamos chegar?”, “Estou com fome!”, “Estou farto de andar de carro!”, “Podemos parar?”, “Mãe, o Tiago, está-me a bater!”, “Pai, a Inês não me dá o carro!”. Isto a cada 40 segundos, de forma a impacientar o mais zen dos progenitores. E se pode ser assim nas viagens diárias para a escola ou em cada deslocação que demora mais do que 15 minutos, percebe-se que possa haver algum pânico entre os pais que se vão abalançar numa viagem para atravessar o país de carro para ir a banhos (seja de mar, seja de montanha), ou entre os que sabem que não há maneira de parar um avião para os deixar descansar e mudar de ares.
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Quem já viu aquela cena do Shrek 2, em que Eddie Murphy, a voz do divertido burro, entoa de todas as formas e feitios sempre a mesma frase, sabe bem do que aqui tenciono falar: “Are we there yet?”. Ou, na versão portuguesa, “já chegámos?”, “Falta muito?”, “Quanto tempo falta?”, “Quando é que vamos chegar?”, “Estou com fome!”, “Estou farto de andar de carro!”, “Podemos parar?”, “Mãe, o Tiago, está-me a bater!”, “Pai, a Inês não me dá o carro!”. Isto a cada 40 segundos, de forma a impacientar o mais zen dos progenitores. E se pode ser assim nas viagens diárias para a escola ou em cada deslocação que demora mais do que 15 minutos, percebe-se que possa haver algum pânico entre os pais que se vão abalançar numa viagem para atravessar o país de carro para ir a banhos (seja de mar, seja de montanha), ou entre os que sabem que não há maneira de parar um avião para os deixar descansar e mudar de ares.
Mas, como dizia Pedro Abrunhosa, é preciso ter calma. Afinal, manter as crianças a bordo entretidas pode ser mais fácil do que parece, e pode, até, dispensar os famosos jogos electrónicos, smartphones e o visionamento de DVD.
Tão importante como o carácter lúdico das actividades que aqui propomos pode ser o exercício mental que algumas envolvem e que, mais cedo ou mais tarde, revelarão ser benéficas para a destreza mental de que todos precisamos no dia-a-dia. Os exemplos que aqui trazemos foram todos testados no terreno, feitos por quem já perdeu a conta às horas que passou em autocarros, comboios, aviões, barcos, automóveis e autocaravanas. Seja numa viagem à volta do mundo com uma criança de cinco anos, seja em roadtrips ao Sul de Portugal com um casal de crianças com diferentes idades (mais concretamente, de 11 e de três). O segredo é os pais participarem sempre — e prometo só dar exemplos que nem distraem, para o caso de um dos pais estar a desempenhar a função de motorista. Aqui vai disto.
O jogo das matrículas e das cores dos carros
Para quem anda de carro, este é um clássico que pode ser jogado em várias versões. Quando os miúdos conhecem as letras do alfabeto, o jogo pode ser inventar um nome próprio que use as iniciais das matrículas do carro que vai na frente, e perde o primeiro ocupante que não conseguir inventar um nome, ou repita um que já foi dito. Um carro com AC na matrícula daria baptismos variados, como Ana Carolina, Anatólio Carapau, Anacleto Conceição…. No caso de o alfabeto ainda não estar assimilado, podemos tentar as cores. Cada criança escolhe uma cor e vai contar o número de carros que passam com a que escolheu, durante um determinado período de tempo. Três minutos, por exemplo. Ganha aquela que tiver escolhido a cor mais usada.
O jogo do stop
Estamos todos habituados a papel e caneta, e a esconder as palavras que escrevinhamos da curiosidade do adversário. Mas, no caso de se tratar de uma viagem de carro, e como não dá para pedir ao condutor para largar o volante, há a opção de fazer o jogo só na base do exercício mental. A regra principal mantém-se: um jogador canta o abecedário em surdina, até o outro gritar “stop!” e com isso escolher a letra que vai comandar o jogo. Por exemplo, a letra H. Depois, cada jogador diz uma palavra de cada categoria (nomes próprios, países, cidades, animais, profissões, plantas, objectos, actividades, etc., etc.) até o vocabulário se esgotar (é permitido dar ajuda aos mais novos!)
De A a Z, o que é que vês?
Uma outra variável para exercitar o vocabulário e o alfabeto é levar os passageiros a pensar em coisas que comecem com cada letra, por ordem alfabética. Peça a cada uma das crianças para se fixar num dos lados da estrada. Por turnos, peça-lhe para encontrarem coisas começadas por uma letra de cada um dos lados. O primeiro encontra algo com a letra A no lado direito — uma árvore, por exemplo. O segundo encontra algo com a letra B do lado esquerdo: um burro, se assim calhar. E assim sucessivamente.
Gosto de ti mais do que…
Para terminar as sugestões com o alfabeto, outro jogo muito engraçado, que permite combinações hilariantes e uns momentos bem passados e muito amor esbanjado em frases começadas com um “Gosto de ti mais do que…” . Começamos na letra A para arrancarmos, por exemplo, que “gosto mais de ti do que da águia mais rápida do mundo”, e seguimos para a letra B para o passageiro seguinte declarar que “gosto mais de ti do que da bola nos pés do Cristiano Ronaldo”. O mais novo pode não saber o alfabeto, mas não lhe falta imaginação para terminar frases começadas com um “Gosto mais de ti do que…”
O jogo do minuto
Os miúdos e graúdos têm sempre dificuldade em entender quanto é, de facto, um minuto . A missão é conseguir acertar o momento exacto em que um minuto chega ao fim, a partir do momento que a mãe ou o pai arrancam a contagem com um “Já”. Um deles tem o cronómetro na mão. O outro tenta adivinhar quando chegam os 60 segundos. É garantido: passado pouco tempo são peritos em estimar o tempo.
Telefonar para o carro do vizinho
Observe os passageiros que viajam no carro ao lado, ou no banco da frente do avião e imagine que pode telefonar-lhes e fazer perguntas. O que é que lhes iria perguntar? E o que é que eles responderiam? Peça a uma das crianças para perguntar e a outra para responder. E surpreenda-se com os intrincados enredos que dali poderão sair.
Canções de contar
Peça aos miúdos para inventarem, com a melodia que preferirem e o ritmo que entenderem, cantigas malucas que incorporem números. Pode dar o exemplo citando o Gabriel, o Pensador, “2, 3, 4, 5, meia, 7, 8, está na hora de molhar o biscoito, estou no osso mas eu não me canso, está na hora de afogar o ganso.” É muito provável que um deles se saia com o “Sete e sete são 14, com mais sete são 21, tenho sete namorados e não gosto de nenhum.” Mas deixe-os levar pela imaginação, e prepare-se para pérolas tipo esta: “10, 9, 8, 5, 6, 7, quando é que a minha mãe muda de cassete?”
Contas de somar e de sumir
Cada dia pode ser um passatempo diferente: num dia contamos quantos botões há na roupa de cada um (e cada botão vale um ponto), no outro quantas peças de roupa, noutro ainda quantas cores trazemos vestidas. Não interessa quem ganha, interessa que todos contem. Outro exercício para pôr os mais novos a contar de forma divertida é usando beijos em vez de números — para crianças com idades inferiores a quatro anos, o sucesso é garantido. Em vez de perguntar quanto é um mais um, faça o som de um beijo para cada número. “Quanto é (beijo) mais (beijo, beijo, beijo)?”
Para as contas de sumir, fale-lhes das guloseimas que a avó tem em casa para os netos. “A avó tinha seis 'chupas' e dois chocolates no armário. Chegaram a Matilde e a Mariana e comeram um 'chupa' cada uma. Quantas gulodices ficaram?”.
Com tanta sugestão, é provável que, no fim de todos estes jogos, já tenha chegado ao destino. A não ser que, tal como Shrek, esteja a deslocar-se para o reino do “Far, Far, Away”.