O texto seguinte foi produzido por um dos participantes do 3.º Workshop Crítica de Cinema realizado durante o 26.º Curtas Vila do Conde – Festival Internacional de Cinema. Este workshop é formado por um conjunto de masterclasses e debates com convidados internacionais e pela produção de textos críticos sobre os filmes exibidos durante o festival, que serão publicados, periodicamente, no site do PÚBLICO e no blogue do Curtas Vila do Conde.
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O texto seguinte foi produzido por um dos participantes do 3.º Workshop Crítica de Cinema realizado durante o 26.º Curtas Vila do Conde – Festival Internacional de Cinema. Este workshop é formado por um conjunto de masterclasses e debates com convidados internacionais e pela produção de textos críticos sobre os filmes exibidos durante o festival, que serão publicados, periodicamente, no site do PÚBLICO e no blogue do Curtas Vila do Conde.
Na cena inicial de Rio entre as Montanhas (2018), Kong (Kong Wei Si) está à frente de uma máquina de garra a tentar resgatar um animal de pelúcia. Por duas vezes captura-o, levanta-o, manobra-o com destreza, mas ele escapa-se das mandíbulas mecânicas. Tentar, falhar e tentar de novo; é isto o amor no filme de José Magro.
A curta-metragem produzida em 2017 resulta de uma parceria do Curtas Vila do Conde com o festival de cinema de Jinzhen, na China. Na sessão de estreia do filme, os elementos da equipa portuguesa revelaram alguns detalhes de produção: foram convidados para a Ásia Oriental com o intuito de ensaiar sobre o amor. Voltaram de lá com imagens de dois encontros românticos de um jovem chinês, os sons de uma cidade, um narrador imaterial e uma música jazz que transporta um certo imaginário nova-iorquino até à Ásia. Se Woody Allen fosse à China voltaria com um filme parecido (talvez com mais paranóias e menos motorizadas).
Os protagonistas não falam, mas a vida interior de Kong e a sua relação é contada na voz de outro actor, Wu Yi Fan. É uma opção inteligente, uma vez que, ao mesmo tempo que colmata algumas das dificuldades de dirigir atores numa língua estranha, cria possibilidades cómicas de subversão de expectativas que são aproveitadas para arrancar umas gargalhadas aos espectadores. É um olhar com alguma distância, que põe palavras na boca de um casal sem lhes dar voz.
O único passo em falso acontece nos momentos finais em que conhecemos uma personagem chinesa que trabalha no inevitável karaoke. Mas até isso se perdoa a um filme que, em todos os momentos que lhe precedem, evita a ratoeira da exotização à espera de todos os cineastas forasteiros: o deslumbramento com os clichés de uma civilização que tomam por cultura.
Num breve momento de silêncio, o casal de namorados está sentado numa roda gigante em movimento, enquanto o espectador contempla a melancolia da morte anunciada da relação. A maioria das relações estão condenadas à partida, mas Kong tem a ingenuidade - ou a sabedoria - de não continuar à procura do pinguim de pelúcia com garras desdentadas. Tentar, falhar e tentar de novo; é isto o amor.
Texto editado por Jorge Mourinha