O automóvel será... conectado, autónomo, neutro e modular

O carro do futuro sustentável vai juntar a tecnologia e a mobilidade e seis grandes tendências ganham forma. Estacionar em lugares proibidos vai ser impossível. Antevisão de José Rui Felizardo, CEO do CEIIA.

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Pensar o carro do futuro para o mundo sustentável é antecipar as características da sociedade que seremos as quais já emergem entre os condutores de hoje e os seus filhos, os utilizadores de amanhã.

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Pensar o carro do futuro para o mundo sustentável é antecipar as características da sociedade que seremos as quais já emergem entre os condutores de hoje e os seus filhos, os utilizadores de amanhã.

A resposta começa por juntar a tecnologia e a mobilidade. Ao carro do futuro sustentável é pedido mais do que o transporte de pessoas e mercadorias de um ponto para outro. E este foi o desafio que o centro de engenharia e desenvolvimento de produto Ceiia lançou às escolas, onde se encontram os futuros utilizadores, para em conjunto desenharmos o carro que queremos ver nas nossas cidades.

Este trabalho veio validar tendências que tinham sido já identificadas e apontou para novas. No conjunto, seis grandes tendências marcam o caminho. Ao veículo do futuro é pedido que seja “conectado” em pelo menos três dimensões: com o utilizador; com as infra-estruturas das cidades e auto-estradas; e com outros veículos. Se a primeira dimensão é a mais imediata e irá induzir a interacção e criação de novos serviços assentes em redes sociais de utilizadores, a segunda dar-se-á com a digitalização das infra-estruturas, nomeadamente da rede de sinalização de ruas e estradas. Por exemplo, um veículo não poderá estacionar num local com sinal de estacionamento proibido, a informação transmitida entre o sinal e o veículo impedi-lo-á de cometer a infracção.

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Já a conexão entre veículos permitirá a criação de novos serviços de mobilidade que explorem a integração entre as redes de objectos e as redes sociais. Novas formas de identificação dos objectos limitarão o roubo de viaturas e irão alterar a lógica dos seguros como a conhecemos hoje.

Uma segunda grande tendência do veículo do futuro está associada à sua autonomia, concretamente à ideia de que aos carros manuais opcionalmente autónomos de hoje sucederão os autónomos opcionalmente manuais. O que significa que deve haver funções no veículo que possam não ser autónomas. Por exemplo, a ocorrência de um sismo pode causar um estado de emergência em que os dados guardados no veículo não serão ainda suficientes para daí extrair a previsibilidade necessária para uma reacção adequada do próprio carro.

Outra grande tendência toca directamente nas preocupações climáticas, antevendo-se que o veículo do futuro integrará motorizações neutras em emissões de carbono, a mais conhecida das quais é a eléctrica. 

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O veículo do futuro deverá identificar no momento em que está a ser utilizado as emissões emitidas ou poupadas em função da tipologia de energia usada para a sua motorização. O seu controlo passará a ser dos utilizadores e uma nova lógica de taxação irá surgir. Questões como o dieselgate não terão mais lugar.

Uma quarta grande tendência aponta para um veículo que será opcionalmente modular e customizável. O veículo responderá a vários tipos de utilização que gerarão também novos modelos de negócio. Pensemos numa cápsula (habitáculo), num skate (plataforma) e num drone (elevador): num mesmo skate será possível instalar diferentes tipos de habitáculo e se a ideia é ir pelo ar e não por estrada, então a cápsula poderá ser acoplada a um drone. As imagens mais sugestivas sobre o automóvel do futuro resultam deste cruzamento entre a mobilidade horizontal e vertical, uma realidade que parece possível em 2025.

A perspectiva modular e customizável procura responder à multiplicidade de usos de forma mais sustentável: um mesmo skate para várias cápsulas que mudam em função do uso, uma cápsula para lazer com características diferentes de uma outra para viagens em trabalho.

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A evolução tecnológica do automóvel está também cada vez mais ligada à democratização do seu uso, que é a quinta grande tendência: se historicamente a opção era a aquisição, agora a decisão será entre adquirir ou usar sem comprar e a perspectiva é de uma grande evolução dos modos de partilha. Começará a fazer sentido que num skate de transporte colectivo sejam instaladas várias cápsulas para um mesmo destino, permitindo assim a criação de um novo modo de mobilidade, que combinará o transporte colectivo com o individual.

Uma sexta grande tendência do automóvel do futuro prende-se com as preocupações de sustentabilidade que pressionam também a indústria para que os produtos tenham ciclos de vida produtiva mais longa e sejam mais recicláveis.

Voltemos ao desafio lançado às escolas com o programa “’desenha o carro que queres ver na tua cidade”, que o Ceiia tem em curso e no âmbito do qual motiva um grupo de crianças a partir dos 12 anos a pensarem o carro do futuro, com o envolvimento também de pais. A partir da visão delas, da geração digital native, é clara a gradual indução de assimetrias no uso do automóvel do futuro pelas famílias por via da tecnologia, para os pais de hoje e os pais do futuro. Este é talvez um dos principais desafios que o carro do futuro trará à nossa sociedade: reduzir as assimetrias de uso para que todos o possam utilizar.

*CEO do CEIIA

Para a série Futuro Sustentável, o PÚBLICO convidou individualidades de organizações reconhecidas nas suas áreas que nos contem o que se prepara para o tempo da próxima geração.