Noura Mint Seymali, tradição e modernidade no Mimo

Na sua terceira edição em terras portuguesas, o Mimo Festival, de esta sexta-feira a domingo, apresenta em Amarante uma programação fértil em música brasileira, portuguesa e jazz. Mas por entre Dead Combo, Otto e Jack DeJohnette, encontramos a mauritana Noura Mint Seymali.

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Nascida numa família griot, Noura Mint Seymali não tinha muito por onde escolher. Ao chegar ao mundo na cidade de Nuaquexote, na Mauritânia, o seu destino estava já traçado numa linha directa até à música. “Na Mauritânia, como não há escolas de música”, diz a cantora ao PÚBLICO, “cada família ensina o canto e os instrumentos tradicionais aos seus filhos.” No seu caso, a aprendizagem começou aos cinco anos, com o pai, Seymali Ould Ahmed Vall, uma importante figura da música nacional; a avó, Mounina, treinou-a na interpretação da ardine, uma harpa tradicional semelhante à kora. “Há instrumentos para os homens e que são interditos às mulheres, e há a ardine, um instrumento para as mulheres e interdito aos homens”, comenta. Sem alternativas e por herança familiar, as escolhas são simples.

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Nascida numa família griot, Noura Mint Seymali não tinha muito por onde escolher. Ao chegar ao mundo na cidade de Nuaquexote, na Mauritânia, o seu destino estava já traçado numa linha directa até à música. “Na Mauritânia, como não há escolas de música”, diz a cantora ao PÚBLICO, “cada família ensina o canto e os instrumentos tradicionais aos seus filhos.” No seu caso, a aprendizagem começou aos cinco anos, com o pai, Seymali Ould Ahmed Vall, uma importante figura da música nacional; a avó, Mounina, treinou-a na interpretação da ardine, uma harpa tradicional semelhante à kora. “Há instrumentos para os homens e que são interditos às mulheres, e há a ardine, um instrumento para as mulheres e interdito aos homens”, comenta. Sem alternativas e por herança familiar, as escolhas são simples.

O início de carreira de Noura Mint Seymali, um dos nomes maiores da programação do Mimo Festival (a decorrer entre 20 e 22 de Julho, em Amarante), com actuação marcada para este sábado, não tardou a seguir os passos habituais num percurso musical ditado pelos costumes griot: juntamente com a família, ainda a transitar da infância para a adolescência, foi crescendo como cantora ao animar casamentos e outras festas populares. E assim foi, cumprindo a tradição, até que Noura se cruzou com um instrumentista que acabaria por acrescentar um colorido à sua música e à sua vida. Ao lado de Jeich Ould Chighaly, hoje seu marido, deu início a um processo de modernização da música mauritana quando, em duo, trocaram os casamentos pelos palcos e lançaram os álbuns Tarabe (2006) e El Howl (2010).

“No início tivemos muitos problemas, porque era algo novo. Havia quem dissesse que aquilo que fazíamos não era música mauritana”, recorda a cantora. “Mas, aos poucos, começaram a compreender e a aceitar o nosso estilo, sobretudo desde que começámos a tocar a nossa música um pouco por todo o mundo.” Esse estilo, que Noura já em tempos baptizou como “música pop baseada na tradição mourisca”, acabaria por se desenvolver depois em quarteto, chegando aos ouvidos da editora alemã Glitterbeat, graças à qual os álbuns Tzenni (2014) e Arbina (2016) – na lista de melhores do ano de publicações como The Wire, Uncut, NPR, Les Inrockuptibles ou The Guardian — catapultaram a cantora para os grandes palcos internacionais.

É essa música também dita “tradi-moderne” que Noura Minta Seymali, a grande estrela actual da cena mauritana, trará ao Mimo Festival, aplicando aos sons tradicionais uma electrificação sonora e uma queda pouco subtil para os vapores psicadélicos.

Brasil, Portugal, jazz e outros

O Mimo Festival teve início em 2004, em Olinda, cidade pernambucana conhecida pelo seu carnaval e as suas orquestras de frevo. O crescimento contínuo do evento levou à expansão para muitas outras cidades brasileiras, tendo atravessado o Atlântico em 2016, ano em que fundou a sua ramificação portuguesa, tendo escolhido Amarante, a terra de Teixeira de Pascoaes, para se instalar. A edição deste ano, que integra ainda uma exposição dedicada a Amadeo de Souza Cardoso, tem três blocos programáticos fundamentais: o habitual destaque dado aos artistas brasileiros, a normal delegação portuguesa e um foco particular em escolhas do universo do jazz.

Desde logo, com a presença do projecto Hudson, liderado pelo baterista Jack DeJohnette, histórico do jazz enquanto sideman de Bill Evans, Miles Davis ou Charles Lloyd, nas últimas décadas notabilizado pelo seu trabalho enquanto membro do Standards Trio, de Keith Jarrett. Actua em quarteto no domingo, noite de encerramento, depois dos GoGo Penguin, trio britânico que deixa o jazz escorregar até terras do rock. Na véspera, será a vez do israelita Shai Maestro Trio e do argentino Pablo Lapidusas International Trio; na sexta, o jazz fica por conta de Matthew Whitaker.

A comitiva brasileira terá como primeiros representantes Dona Onete e Baiana System (sexta), fecha com Moacyr Luz (domingo), mas o grande momento ficará a cargo de Otto, na noite de sábado. Há muitos anos sem pisar palcos portugueses, o músico que esteve ligado ao nascimento do mangue beat regressa com o novo Ottomatopeia, disco em que cruza a MPB, com rock e música brega. Portugal estará representado pela guitarra portuguesa de Marta Pereira da Costa, pela música feita de uma colecção de passaportes falsos (é tão portuguesa quanto norte-americana, tão mexicana, brasileira ou cabo-verdiana quanto mediterrânica) dos Dead Combo (sexta), pelas canções entremeadas de blues de Rui Veloso (sábado) e pelo jazz-lounge-rock-exótico-pop de Bruno Pernadas (domingo).

A diversidade será polvilhada graças às actuações dos moçambicanos Timbila Muzimba (sexta), Noura Mint Seymali (sábado), Orquestra Chinesa Cheong Hong de Macau e do bósnio Goran Bregovic (domingo).