Zuckerberg criticado por usar negação do Holocausto como exemplo de liberdade de expressão

O criador do Facebook defende que há uma linha ténue entre espalhar, conscientemente, notícias falsas e partilhar uma opinião errada na internet, um direito da liberdade de expressão.

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Zuckerberg admitiu que não usou o melhor exemplo durante a entrevista, mas mantém que as pessoas têm o direito de errar Reuters/Leah Millis

O criador do Facebook está a ser alvo de críticas por defender os direitos dos utilizadores fazerem publicações a negar o Holocausto. A afirmação surgiu durante uma longa entrevista, na quarta-feira, à revista de tecnologia Recode — uma de muitas que Mark Zuckerberg deu aos media desde a erupção do escândalo com a Cambridge Analytica — sobre o papel do Facebook na difusão de informação falsa. Na altura, Zuckerberg disse que estava a dar um exemplo sobre o direito das pessoas publicarem a sua opinião, mesmo que incorrecta. 

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O criador do Facebook está a ser alvo de críticas por defender os direitos dos utilizadores fazerem publicações a negar o Holocausto. A afirmação surgiu durante uma longa entrevista, na quarta-feira, à revista de tecnologia Recode — uma de muitas que Mark Zuckerberg deu aos media desde a erupção do escândalo com a Cambridge Analytica — sobre o papel do Facebook na difusão de informação falsa. Na altura, Zuckerberg disse que estava a dar um exemplo sobre o direito das pessoas publicarem a sua opinião, mesmo que incorrecta. 

“Sou judeu, e há muitas pessoas que consideram que o Holocausto não aconteceu. Acho isso profundamente ofensivo. Mas não acredito que a nossa plataforma deva eliminar isso. Há temas em que as pessoas se enganam”, explicou Zuckerberg em resposta a uma pergunta sobre a permanência de publicações a acusar os tiroteios nas escolas dos EUA de serem maquinações liberais para acabar com o direito de porte de armas.

Para Zuckerberg há uma diferença entre chamar mentirosa a uma vítima de tiroteios (“isso é um abuso”) e expressar um ponto de vista diferente sobre o acontecimento.

“Não acho que os utilizadores se enganem, intencionalmente, nestes temas”, disse o criador da plataforma. “O que tentamos dizer é: se não estão a criar um esquema destinado a causar danos a alguém, então podem pôr o conteúdo na vossa página, mesmo que existam pessoas que discordem ou o achem ofensivo.”

O empresário judeu Mitch Kapor é um dos que criticaram de imediato a visão do fundador do Facebook. “O que Mark Zuckerberg tem que perceber é que a intenção das pessoas que negam o Holocausto não pode ser o padrão usado para a decisão. Podemos debater os limites da liberdade de expressão, mas é o impacto que mais importa, não só a intenção", escreveu Kapor no Twitter.

Zuckerberg admite mau exemplo

Zuckerberg já admitiu que o exemplo não foi o melhor e clarificou que “não queria de todo defender a intenção das pessoas que negam o Holocausto”, mas explicar que as pessoas têm o direito de ter opiniões erradas. Zuckerberg frisa que, embora não censure estas publicações, a rede social “?tenta minimizar a distribuição desse tipo de conteúdo”, impedindo que cheguem a um grande número de pessoas. “O nosso objectivo com notícias falsas não é impedir alguém de dizer algo falso, mas impedir notícias falsas e desinformação de se espalhar na nossa plataforma."

Questionado porque não são logo eliminados este tipo de posts, Zuckerberg reforça que “é o principio de dar voz às pessoas”, mas admite que “quando se entra em discussões sobre a liberdade de expressão, caminha-se sobre uma linha ténue”. E que, por vezes, se está “a defender o direito das pessoas dizerem coisas, mesmo que sejam más.”

É com esta lógica que o Facebook permite que sites de conspirações ultranacionalistas — em particular, a página Infowars, que defende que os estudantes nos tiroteios dos EUA são todos actores — permaneçam online.

A entrevista com Zuckerberg chega numa altura em que o Facebook anunciou uma nova política contra desinformação, com o objectivo de eliminar publicações com dados incorrectos que sejam utilizados para motivar a violência. A actualização — que se foca em países onde as publicações do Facebook são mais utilizadas para desencadear actos violentos entre populações — foi motivada por surtos de violência contra muçulmanos no Sri Lanka, devido a notícias falsas a circular nas redes sociais. Em Março, o governo foi mesmo obrigado a bloquear os serviços da rede social para travar a disseminação de informação.

Com a nova política, o Facebook colabora com parceiros locais que explicam, à rede social, o que pode motivar a violência no país. Um exemplo dado pela rede social é o conteúdo a circular sobre a comunidade muçulmana tentar envenenar comida para budistas. Esta semana, no entanto, o Facebook admitiu que há excepções para o conteúdo que é eliminado. Mesmo com várias publicações que violem as regras do site (por exemplo, imagens de violência), páginas de celebridades, governos, ou com muitos fãs não podem ser eliminadas directamente pelas pessoas contratadas para rever o conteúdo do site.

“O princípio sobre aquilo que removemos do serviço é: se vai causar danos, danos físicos reais, ou se está a atacar indivíduos, não devia estar na plataforma”, reforça Zuckerberg, ao longo da entrevista. A preocupação com a “linha ténue” sobre a liberdade expressão mantém-se, porém, na cabeça do criador que, acrescenta, em cada caso há sempre “muito espaço para debate”.