O trabalho destes cães e gatos é decidir o que gostam mais de comer
Em Aimargues, no Sul de França, vivem os animais que provam (e aprovam) os produtos da empresa francesa de nutrição para cães e gatos. No centro, há 35 trabalhadores responsáveis por passear e brincar com 180 cães e 220 gatos. Todos os dias.
As razões para Pascal Boisot “vir trabalhar todos os dias” vivem do lado de fora da empresa onde trabalha. E fazem-se ouvir, em protesto, até receberem “toda a atenção que realmente merecem”. Num dos jardins do campus da Royal Canin, em Aimargues, no Sul de França, essas dezenas de razões de quatro patas desatam a correr, ao mesmo tempo, ao nosso encontro. “São eles que estão no centro de tudo o que aqui fazemos.”
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As razões para Pascal Boisot “vir trabalhar todos os dias” vivem do lado de fora da empresa onde trabalha. E fazem-se ouvir, em protesto, até receberem “toda a atenção que realmente merecem”. Num dos jardins do campus da Royal Canin, em Aimargues, no Sul de França, essas dezenas de razões de quatro patas desatam a correr, ao mesmo tempo, ao nosso encontro. “São eles que estão no centro de tudo o que aqui fazemos.”
Boisot gere o centro onde vivem os animais que provam (e aprovam) os produtos da empresa de nutrição para cães e gatos. Isto é, o francês é um dos 35 trabalhadores responsáveis por passear e brincar com 180 cães e 220 gatos. Todos os dias. Noutro pólo da empresa, nos Estados Unidos, onde também estão quatro das 15 fábricas da marca, localiza-se um segundo centro ligeiramente maior, com 190 cães, que representam cerca de quarenta raças e 240 gatos.“Não sei se há trabalhos com melhor descrição”, brinca, à entrada do parque recreativo onde, a meio da tarde, os cães de porte pequeno se exercitam na companhia de outros dois funcionários.
Cada um daqueles cães provadores chega ao centro aos dois meses; três no caso dos gatos, através de criadores com quem a marca trabalha frequentemente. “O objectivo é maximizar o conforto e fazer com que se habituem rapidamente ao ambiente, por isso é importante recebê-los quando são muito jovens”, explica o gestor. Todos passam por um “período de quarentena” (11 dias no caso dos cães, o dobro para os felinos) e, quando aptos, “o que até agora aconteceu sempre”, ressalva, começam a ser treinados para as provas.
São “apenas comparados produtos da Royal Canin com produtos concorrentes de gama premium, da mais elevada qualidade, o nosso mercado”, explica. Testam produtos em desenvolvimento, fórmulas melhoradas, novos palatabilizantes (aditivos alimentares destinados a tornar um alimento ou ração mais agradável ao gosto). “Nunca tivemos qualquer problema de saúde ligado à alimentação ou devido aos testes”, responde Pascal Boisot. “Tudo o que eles fazem é comer de forma saudável e ajudar-nos a perceber qual é que gostam mais”, assegura.
Nunca, “em qualquer circunstância”, são realizados testes invasivos, garantiram-nos ao longo da visita às instalações da primeira sede da agora multinacional francesa, do grupo Mars. “Não apoiamos estudos com experiências em animais durante o desenvolvimento dos nossos produtos. Esse é o nosso principio ético principal.”
Para isso, naquele centro, os animais passam por dois testes: uns realizam a “prova cega” de palatabilidade e outros a de digestibilidade.
O primeiro é o método normalmente usado para “avaliar todos os aspectos sensoriais” aliados à ingestão de um alimento. Ou seja, não é apenas examinado o paladar, mas também “o formato e o tamanho de cada peça, bem como o odor”. O ambiente da prova deve “simular o que os animais de companhia encontram nas suas casas” e os animais têm de “estar em perfeito estado físico e psicológico”, descreve, salientando a importância dos “períodos de descanso”, que podem ir até às três semanas, entre cada teste. Por ali, existem balanças electrónicas (para determinar que quantidade foi consumida) onde são depositados os alimentos duas vezes ao dia. No topo de cada taça, está a fotografia e o nome de cada um dos animais. “Aqui todos eles recebem um nome, isso é muito importante”, diz.
No caso da digestibilidade, o objectivo é “comprovar se os alimentos são altamente digeríveis”, analisando as fezes. Durante estes testes, de modo a facilitar a recolha, os animais têm de ser fechados em “gaiolas” durante cerca de três dias.
Se no caso dos cães o alimento é disponibilizado duas vezes ao dia, nos gatos, devido “à maior capacidade de auto-controlo” é “deixado à disposição”. Para aceder têm na coleira um chip que abre a porta do sítio onde está a comida.
Uma piscina para cães
Para maximizar o tempo de sociabilização dos animais, os associados da empresa podem apadrinhar um deles e levá-lo a passear. Podem também trazê-lo para o escritório, que se assume como “pet friendly”.
Quando um dos “animais provadores” chega aos oito anos, seis no caso dos cães de grande porte, são colocados para adopção num programa que apenas abrange associados da empresa, amigos e família.
Enquanto vivem no centro, os cães passam quatro horas no exterior. A hora do passeio em grupo é das mais ansiadas: há sete hectares para explorar. Dois funcionários passeiam 36 cães juntos, ao mesmo tempo. No final, são recompensados com um mergulho na piscina — para cães. Nas restantes três horas “ficam em grupos de seis a oito” nos jardins, a exercitarem-se. Dormem, aos pares, no canil.
Já a rotina dos gatos é menos diversificada. São os cuidadores que entram nas salas onde os 220 gatos, metade de raças domésticas comuns metade de outras raças, num total de 20 raças, se espraiam “para brincar com eles durante 40 minutos”. Uma vez por semana vão para o jardim. “E para eles já é suficiente, não precisam de tanto entretenimento”, brinca Boisot, enquanto passa por uma das salas, envidraçada, com plataformas para treparem para paredes e poltronas onde a maior parte se deita, ao sol. Numa delas, um gato, doméstico, estica-se, sorrateiro, até ao exterior para nos pôr as duas patas da frente em cima das sandálias. “Interagir com estranhos? Isto nunca tinha acontecido”, ri-se o cuidador. A nós também não.
O Pet conheceu o Pet Center a convite da Royal Canin