Júpiter tem 12 novas luas, uma delas “estranha”

O planeta gasoso e gigante, o maior do nosso sistema solar, conta agora com 79 luas. Esta descoberta ajuda a compreender os primeiros tempos da formação planetária.

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Júpiter, o quinto e maior planeta do sistema solar, tem agora 79 luas NASA/Reuters

Um novo estudo científico revelou a existência de mais 12 novas luas em órbita de Júpiter, incluindo uma “estranha” que está em rota de colisão com outros satélites naturais do planeta, o maior do nosso sistema solar. 

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Um novo estudo científico revelou a existência de mais 12 novas luas em órbita de Júpiter, incluindo uma “estranha” que está em rota de colisão com outros satélites naturais do planeta, o maior do nosso sistema solar. 

A recente descoberta vem aumentar o número total das luas de Júpiter para 79 – o maior número de satélites naturais de qualquer planeta do sistema solar, com o qual apenas Saturno, com as suas 62 luas, pode competir (os investigadores alertam que Saturno poderá ter um número equivalente de luas por descobrir).

Todas elas são relativamente pequenas (entre um e três quilómetros de diâmetro) quando comparadas com Ganimedes, o maior satélite natural do sistema solar com 5268 quilómetros – que chega a ser maior do que o planeta Mercúrio (que, tal como Vénus, não possui nenhuma lua). As luas foram avistadas pela primeira vez em Março de 2017, no Observatório Interamericano do Monte Tololo, no Chile.

Foi um acaso, tendo em conta que a equipa de investigação, liderada pelo astrónomo Scott Sheppard, do Instituto Carnegie (uma organização de investigação científica na cidade de Washington), procurava um nono planeta (conhecido popularmente como o Planeta X) que se acredita estar escondido a uma grande distância de Plutão. Mas “acontece que Júpiter estava no céu” e foi possível avistar os corpos que o orbitavam, explica Sheppard. Porém, foi “um longo processo”, de mais de um ano, para confirmar a descoberta.

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Carnegie Institution for Science

Os cientistas acreditam que as luas recém-descobertas são objectos que provavelmente se formaram durante os primeiros dias do sistema solar, resquícios de corpos maiores que se desintegraram em colisões com asteróides, cometas e outras luas. Poderão ser assim um intermédio entre os asteróides rochosos e os cometas gelados – “provavelmente metade gelo e metade rocha”. Em vez de serem sugados e caírem no planeta, estes corpos acabaram por ser puxados pela enorme força gravitacional de Júpiter, que Scott Sheppard compara com um grande aspirador, passando a orbitar o gigante planeta gasoso

Nove das 12 luas pertencem a um grupo exterior (mais afastado) que orbita Júpiter em sentido retrógrado (na direcção oposta à rotação do planeta) e cada uma delas demora cerca de dois anos a completar uma volta. Duas outras luas andam mais perto do planeta em órbitas progressivas (na mesma direcção do que a rotação de Júpiter) e serão pedaços de uma lua que outrora terá sido maior. Já estas duas luas demoram quase um ano a orbitar Júpiter.

“Valetudo”

Mas há uma lua que os investigadores consideraram “verdadeiramente estranha”, à qual chamaram Valetudo, que em latim significa “saúde” e que remete para Salus, a deusa romana da saúde e da higiene e que era bisneta do deus romano Júpiter. Esta lua “tem uma órbita como nenhuma outra lua de Júpiter conhecida” e menos de um quilómetro de diâmetro. “Valetudo é como conduzir pela auto-estrada do lado errado da via”, explica Scott Sheppard.

Ela orbita Júpiter na mesma direcção de rotação do planeta, levando cerca de um ano e meio para completar uma volta. Porém, encontra-se numa posição em que poderá cruzar o caminho das outras nove luas que circulam em sentido contrário, o que torna “muito provável” uma colisão frontal entre os satélites naturais – podendo até já ter colidido anteriormente. Caso aconteça uma colisão entre as luas de Júpiter (que, apesar de provável, não será em breve), os cientistas asseguram que o fenómeno seria visível da Terra. Os astrónomos suspeitam que este corpo celeste poderá ser o que resta de uma antiga lua muito maior (que se desfez durante uma colisão) que permaneceu no espaço ao longo de milhares de milhões de anos.

Compreender o que moldou a história orbital de uma lua pode ajudar a desvendar o que aconteceu durante os primeiros tempos do nosso sistema solar. A descoberta destas pequenas luas a orbitar Júpiter sugere que os corpos foram criados através de colisões que ocorreram logo após a formação planetária, quando o Sol estava ainda rodeado por um disco protoplanetário (composto por gases e poeiras) do qual surgiram os planetas, explicam os cientistas em comunicado. O estudo teve a colaboração de investigadores da Universidade do Havai, da Universidade do Norte do Arizona e do Centro de Pequenos Planetas da União Astronómica Internacional e em parceria com a NASA. 

Das agora 79 luas de Júpiter, 26 permanecem sem nome, incluindo a maioria das recém-descobertas. Em Maio, novos dados vieram revelar que Europa, uma das luas de Júpiter que tem um oceano por baixo de uma camada de gelo, é um dos locais mais promissores para procurar vida fora da Terra depois de terem sido encontradas provas de plumas de água lançadas no espaço.

Texto editado por Teresa Firmino