Breaking news: Trump é política, não é “ego-política”
Se há algo que é unânime nos interlocutores norte-americanos, qualquer que seja a sua filiação, é que Donald Trump deve ser levado a sério.
1. De 2014 a esta parte, sempre por estes idos de Julho, organizo uma missão do think tank do Grupo Parlamentar do PPE a Washington. A missão consiste em reuniões e encontros no Congresso, com senadores e representantes dos Partidos Republicano e Democrata. Segue-se um seminário à porta fechada com fundações, institutos e think tanks, ligados à ala mais moderada do Partido Republicano, em que intervêm oradores com todo o tipo de responsabilidades e de sensibilidades. Pelo meio, multiplicam-se os contactos com o corpo diplomático, com membros dos gabinetes e staff da Casa Branca e personalidades ligadas ao Pentágono. Trata-se de um par de dias de intenso diálogo transatlântico, que visa um estreitamento dos laços entre aqueles que, em cada momento, têm responsabilidades políticas, administrativas e até “político-culturais” (de “produção” de pensamento e de enquadramento).
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1. De 2014 a esta parte, sempre por estes idos de Julho, organizo uma missão do think tank do Grupo Parlamentar do PPE a Washington. A missão consiste em reuniões e encontros no Congresso, com senadores e representantes dos Partidos Republicano e Democrata. Segue-se um seminário à porta fechada com fundações, institutos e think tanks, ligados à ala mais moderada do Partido Republicano, em que intervêm oradores com todo o tipo de responsabilidades e de sensibilidades. Pelo meio, multiplicam-se os contactos com o corpo diplomático, com membros dos gabinetes e staff da Casa Branca e personalidades ligadas ao Pentágono. Trata-se de um par de dias de intenso diálogo transatlântico, que visa um estreitamento dos laços entre aqueles que, em cada momento, têm responsabilidades políticas, administrativas e até “político-culturais” (de “produção” de pensamento e de enquadramento).
Em 2016, havia o ensejo de perceber se Trump ou Sanders traduziam mudanças estruturais na política americana e se teriam condições de se afirmar e impor. Em 2017, havia o interesse em perceber se Trump, já Presidente, ia mesmo pôr em prática a sua agenda aparentemente disruptiva. No ano que corre, essas interrogações e excogitações parecem largamente obsoletas. A edição deste ano tinha e teve um “atractivo” especial: os contactos iam decorrer exactamente ao mesmo tempo em que se celebrava a cimeira da NATO, se fazia a primeira viagem de Trump ao Reino Unido e se preparava o encontro de ontem com Putin.
2. Se há algo que é unânime nos interlocutores norte-americanos, qualquer que seja a sua filiação, é que Donald Trump deve ser levado a sério. Muitos fazem notar que, por causa do estilo errático e provocador, os europeus se convenceram de que Trump não tem uma agenda e um programa político. Julgam que é inconstante, arrogante, narcisista, imprevisível e que esse retrato psicológico perfaz toda a sua cartilha política. Na visão simplista de muitos europeus, a era Trump teria significado a transição da era da política para a era da “ego-política”. Ora, nada de mais errado; Trump tem um desígnio, uma visão e um programa. E está a pô-lo em prática, dia a dia, ponto a ponto. Por detrás de tweets desconcertantes, subsiste uma linha política clara, de resto, com raízes fundas e largas na história política norte-americana e, em particular, no populismo “jacksoniano” (nos antípodas das tradições políticas de um Hamilton ou de Woodrow Wilson, mais perto, apesar de tudo, da visão de Jefferson). Todos os responsáveis americanos – dos fervorosos apoiantes aos indefectíveis detractores – reconhecem o projecto político da actual Administração. Nenhum se deixa ofuscar por qualquer “efeito especial” ou “manobra de distracção”. E é isso que todos, uns e outros, aconselham os líderes europeus a fazer. A máxima poderia ser esta: “Para o bem e para o mal, deixem-se de queixar de Trump e levem-no a sério”.
3. Considerando os principais pontos de fricção, vale a pena “captar” as diferenças de avaliação do lado americano. Começando pela exigência de que os aliados da NATO reforcem o investimento na defesa, a concordância com Trump é total. Todos, das pombas aos falcões, da direita à esquerda, apoiam o Presidente nessa reclamação. Mesmo os críticos do tom ameaçador e intransigente não percebem a relutância dos europeus em pagar a sua parte da factura. E dizem que a lentidão e a passividade europeias neste domínio acabam por corroborar a narrativa “demonizadora” dos europeus.
4. No que tange à política comercial, mesmo do lado republicano, há muitas divisões. Por um lado, os republicanos sempre prezaram o livre comércio. Por outro, muitos congressistas receiam o impacto das contramedidas europeias nas suas circunscrições eleitorais. Assim, há um número diminuto que convictamente segue Trump. Há um outro grupo que defende um ataque comercial à China, mas concertado com a União Europeia e a NAFTA (sem tocar estes dois mercados). Finalmente, há um núcleo consistente que defende que a revisão das relações comerciais com a UE deveria ser feita através de um novo acordo global, retomando o projecto do TTIP.
5. Em tudo o que diz respeito à relação dos EUA com a Rússia, a distância em face de Trump é cristalina. Não há um dignitário que não veja a Rússia como o principal inimigo dos EUA e a sua maior ameaça. Podem divergir nas razões por que se chegou aqui, mas nenhum aplaude a contemporização que Trump tem com Putin e com as suas políticas. Os mais entusiastas da Administração insistem em que é preciso separar o nível do discurso do nível da prática e que, neste último, os EUA têm sido especialmente duros. Este é um dos pontos em que, mesmo em razão das investigações em curso, a linha “light” de Trump é mais abertamente criticada.
6. Quanto à UE, e com a excepção dos responsáveis políticos oficiais, o ambiente é de hostilidade ou, ao menos, de incompreensão da vantagem de os EUA a terem como interlocutor directo. A referência à vontade de transaccionar com os Estados soberanos nacionais, numa escala individual, é constante. Neste quadro, impressiona a “diabolização” da Alemanha, vista como um actor “neutralista”, que não valoriza a defesa militar e que é amante do apaziguamento internacional (com o Irão e com a Rússia, através dos negócios da energia). A singularização da Alemanha, tal como o apoio ao “hard 'Brexit'” e, bem assim, às políticas migratórias da Hungria e da Polónia, visam explorar ao máximo as divisões internas da UE. Esta é uma batalha que, no campo comunicacional e até ideológico, o aparelho de Trump está a ganhar. A ideia de que a actual Administração não vê a desintegração da UE ou o seu simples enfraquecimento como uma perda ou uma desvantagem para os EUA não só corresponde à realidade como tem simpatias mais fundas do que o expectável. Bad prospect, after all.
SIM e NÃO
SIM. Salvamento na Tailândia. A comoção global com a situação dos jovens tailandeses traz ao de cima o melhor da humanidade. A eficácia e respeito das autoridades foi também exemplar.
NÃO. Theresa May. A vulnerabilidade do governo britânico é enorme. Mais uma cedência contraditória aos apologistas do “hard 'Brexit'”. Tudo se encaminha para uma trágica saída sem acordo.