Bitcoin ajudou a financiar ciberespionagem eleitoral da Rússia, alega relatório dos EUA
Pagar em bitcoins, usar moradas falsas e comprar servidores além-fronteiras ajudaram os atacantes a manter o anonimato. As transacções, que passaram despercebidas em 2016, permitiram agora aos EUA identificar os responsáveis.
A bitcoin terá sido central para financiar o esquema de ciberespionagem nos EUA levado a cabo por 12 agentes russos durante as eleições presidenciais de 2016. A informação surge no relatório de 29 páginas a pormenorizar os ataques que foi apresentado na sexta-feira pelo vice-procurador-geral norte-americano Rod Rosenstein, no âmbito das investigações do procurador especial Robert Mueller à interferência de agentes russos no processo eleitoral dos EUA.
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A bitcoin terá sido central para financiar o esquema de ciberespionagem nos EUA levado a cabo por 12 agentes russos durante as eleições presidenciais de 2016. A informação surge no relatório de 29 páginas a pormenorizar os ataques que foi apresentado na sexta-feira pelo vice-procurador-geral norte-americano Rod Rosenstein, no âmbito das investigações do procurador especial Robert Mueller à interferência de agentes russos no processo eleitoral dos EUA.
“Para evitar detecção, os [atacantes] usaram uma rede de computadores em todo o mundo, incluindo nos EUA, e pagaram por esta infra-estrutura com criptomoedas”, lê-se na acusação dos EUA contra os serviços secretos militares da Rússia (conhecidos pela sigla GRU). De acordo com o documento, a bitcoin foi a moedas mais usada para comprar servidores, registar domínios, entre outras operações. “O uso possibilitou aos [atacantes] evitar uma relação tradicional com as instituições financeiras, permitindo-lhes escapar ao escrutínio sobre a sua identidade e fundos”, explica-se.
Embora as transacções tenham passado despercebidas em 2016, o seu registo acabou posteriormente por ajudar a identificar os responsáveis. No total, os 12 agentes russos terão realizado transacções no valor de cerca de 95 mil dólares americanos, em bitcoins, sem levantar suspeitas.
A bitcoin ganhou fama por ser uma divisa digital que pode ser transferida electronicamente entre utilizadores em qualquer parte do mundo, sem precisar de uma entidade central, como um banco. As transacções ficam registadas permanentemente na Blockchain (a base de dados descentralizada em que assenta a bitcoin), mas as identidades são ocultadas através de identificadores alfanuméricos. Os espiões russos terão ido mais longe, ao usar centenas de emails diferentes, associados a identidades fabricadas, para registar as transacções. De acordo com o relatório apresentado por Rosenstein, “por vezes, como parte do processo de pagamento”, os atacantes “forneciam os vendedores com moradas absurdas como ‘usa Denver AZ’ ou ‘gfhgh ghfhgfh fdgfdg WA’”.
Apesar do carácter anónimo da bitcoin, as autoridades norte-americanas notam que o facto de as transacções serem públicas facilita a sua monitorização. Os 12 espiões russos agora acusados, por exemplo, foram detectados a utilizar os mesmos computadores em que realizam as transacções com bitcoins para levar a cabo os ciberataques. A maioria vinha sob a forma de ataque de phishing, em que emails com vírus foram enviados aos membros da campanha de Hillary Clinton para lhes roubar o acesso às contas. Os atacantes usaram os mesmos computadores que enviaram os vírus para comprar servidores onde armazenar toda a informação roubada.
Os documentos publicados na sexta-feira fazem notar que os serviços militares secretos russos também criaram parte das criptomoedas que utilizaram para pagar infra-estrutura utilizada nos ciberataques. Uma das formas de obter bitcoins é através do processo de validar blocos de transacções para acrescentar à Blockchain. As emissões são feitas periodicamente, de modo automático, e o dinheiro é atribuído ao computador que for mais rápido a resolver uma tarefa computacional. A ideia é recompensar quem gasta recursos (como tempo, ou electricidade) na manutenção da Blockchain.
O relatório dos EUA é um exemplo de como a bitcoin pode ser utilizada em operações de lavagem de dinheiro e manipulação política. De acordo com Christine Lagarde, a directora-geral do Fundo Monetário Internacional, é preciso travar “o lado negro” das criptomoedas. A expressão foi primeiro usada por Lagarde em Março de 2018, quando defendeu a introdução de regulação para impedir que as divisas digitais sejam utilizadas para facilitar actividades ilegais. Para Lagarde, a tecnologia das criptomoedas (que assenta numa base de dados distribuída) tem o potencial de substituir serviços bancários em países em desenvolvimento onde a população tem um acesso reduzido à banca, mas é preciso criar regras.