Governo sublinha que esclarecimentos sobre Tancos só podem ser dados por Ministério Público

Ministério da Defesa divulga comunicado depois de no sábado ter afirmado que não faria comentários.

Foto
O ministro José Azeredo Lopes ouvido no Parlamento sobre o furto de armas de Tancos no ano passado Miguel Manso

O Ministério da Defesa afirmou neste domingo que cabe ao Ministério Público prestar esclarecimentos sobre a investigação a Tancos, concordando com o Presidente da República de que esta não pode ser prejudicada por qualquer questão entre as entidades policiais envolvidas.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O Ministério da Defesa afirmou neste domingo que cabe ao Ministério Público prestar esclarecimentos sobre a investigação a Tancos, concordando com o Presidente da República de que esta não pode ser prejudicada por qualquer questão entre as entidades policiais envolvidas.

"Relativamente à informação vinda a público sobre alegadas discrepâncias entre entidades policiais que investigam o furto de material militar em Tancos, recorda-se, mais uma vez, que o processo de investigação, em segredo de justiça, é dirigido pelo Ministério Público", refere um comunicado de três pontos emitido este domingo pelo Ministério da Defesa.

"Os esclarecimentos sobre o andamento da investigação, que todos aguardamos, só podem, portanto, ser prestados pelo Ministério Público", acrescenta esta nota de imprensa.

Material por devolver?

O comunicado não confirma ou nega essas discrepâncias noticiadas pelo semanário Expresso, segundo o qual o material que foi furtado do quartel de Tancos, Santarém, em 2017, ainda não foi todo recuperado, existindo granadas e explosivos por devolver.

Por outro lado, a nota do Ministério da Defesa faz questão de referir que, "como afirmado pelo senhor Presidente da República em nota sobre este assunto, 'nenhuma questão envolvendo a conduta de entidades policiais encarregadas da investigação criminal, sob a direcção do Ministério Público, poderá prejudicar o conhecimento, pelos portugueses, dessa investigação'".

O Expresso fala de um clima de desconfiança entre a Polícia Judiciária e a Polícia Judiciária Militar, órgãos de polícia criminal envolvidos no inquérito-crime aberto a 4 de Julho para investigar o furto de Tancos, coordenado pelo Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP).

Na sequência da notícia do Expresso, divulgada online na sexta-feira à noite, PSD, CDS-PP e PCP exigiram no sábado esclarecimentos urgentes ao Governo, com sociais-democratas e democratas-cristãos a não fecharem a porta à realização de uma comissão parlamentar de inquérito.

Na sexta-feira à noite, a notícia do Expresso levou o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a fazer um novo comunicado sobre esta matéria, na página oficial da Presidência, reafirmando a exigência de esclarecimentos cabais de modo "ainda mais incisivo e preocupado".

"E tem a certeza de que nenhuma questão envolvendo a conduta de entidades policiais encarregadas da investigação criminal, sob a direcção do Ministério Público, poderá prejudicar o conhecimento, pelos portugueses, dos resultados dessa investigação. Que o mesmo é dizer o apuramento dos factos e a eventual decorrente responsabilização", acrescentou ainda o chefe de Estado, ponto agora repetido pelo Governo.

Desaparecido entre Junho e Outubro

O furto de material militar dos paióis de Tancos – instalação entretanto desactivada – foi detectado a 28 de Junho durante uma ronda móvel, pelas 16h30, por um sargento e um praça ao serviço do Regimento de Engenharia 1. Entre o material furtado estavam granadas, incluindo antitanque, explosivos de plástico e grande quantidade de munições.

A 18 de Outubro passado, a Polícia Judiciária Militar recuperou, na zona da Chamusca, quase todo o material militar que tinha sido furtado da base de Tancos no final de Junho, à excepção das munições de 9 milímetros.

Contudo, entre o material encontrado, num campo aberto na Chamusca, num local a 21 quilómetros da base de Tancos, havia uma caixa com 100 explosivos pequenos, de 200 gramas, que não constava da relação inicial do que tinha sido roubado, o que foi desvalorizado pelo Exército e atribuído a falhas no inventário.