Didier Deschamps: o duplo triunfo do aguadeiro
"DD" foi o terceiro da história dos Mundiais a ser campeão como jogador e como seleccionador.
“Ele vai-se safando porque dá sempre tudo, mas nunca passará de um aguadeiro. E todas as equipas precisam de um aguadeiro.” Em determinadas circunstâncias um jogador ser chamado de aguadeiro pode ser considerado um elogio, mas certamente não era com essa intenção que Eric Cantona se referiu a Didier Deschamps em 1995 na véspera de um Manchester United-Juventus. Era mais um insulto, mas a alcunha não andava muito longe da verdade. Deschamps não era um médio muito habilidoso, mas era voluntarioso, incombustível e um verdadeiro líder que deixava a arte para os outros.
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“Ele vai-se safando porque dá sempre tudo, mas nunca passará de um aguadeiro. E todas as equipas precisam de um aguadeiro.” Em determinadas circunstâncias um jogador ser chamado de aguadeiro pode ser considerado um elogio, mas certamente não era com essa intenção que Eric Cantona se referiu a Didier Deschamps em 1995 na véspera de um Manchester United-Juventus. Era mais um insulto, mas a alcunha não andava muito longe da verdade. Deschamps não era um médio muito habilidoso, mas era voluntarioso, incombustível e um verdadeiro líder que deixava a arte para os outros.
Foi ele o capitão da selecção francesa campeã mundial de 1998 e foi ele a levantar a taça primeiro que Zidane ou Henry. Vinte anos depois dessa final, entre muitas críticas, conseguiu conduzir os “bleus” a mais um título mundial, desta vez como seleccionador, tornando-se no terceiro a conseguir fazê-lo como jogador e treinador na história dos Mundiais de futebol – antes dele, conseguiram-no o brasileiro Mario Zagallo (campeão como jogador em 1958 e 1962; como treinador em 1970) e o alemão Franz Beckenbauer (campeão como jogador em 1974; como treinador em 1990).
Como jogador, “DD”, que nasceu numa pequena cidade do sul de França foi sempre um vencedor. Foi bicampeão francês no Marselha, tricampeão italiano com a Juventus, mais uma Liga dos Campeões em cada um. Pelo meio, conduziu a selecção francesa ao título mundial em 1998 e ao título europeu em 2000. Como treinador, fez um percurso em ascensão, primeiro no Mónaco, onde chegou a ser vice-campeão europeu (derrotado pelo FC Porto), depois na Juventus (onde conduziu a “vecchia signora” de regresso à Série A), regressando depois a Marselha, onde também foi campeão.
Aos “bleus” chegou em 2012 em substituição de outro campeão europeu e mundial, Laurent Blanc, mas nunca foi propriamente um seleccionador unânime e, durante uns tempos, pareceu perder a sua aura vitoriosa, sobretudo na final do Euro 2016 perdida para Portugal, tendo sido criticado pelo seu conservadorismo e por ter deixado de fora da equipa Karim Benzema. Mas, dois anos depois, Deschamps voltou a ser o homem certo no sítio certo, o seleccionador aguadeiro que construiu uma equipa sólida com alguns aguadeiros em campo e deixou que o talento desta jovem selecção francesa fizesse o resto. É verdade que Cantona era bem mais talentoso, mas o melhor que ele conseguiu na selecção francesa foi ser campeão mundial de futebol… de praia.