Há fundos a investir em floresta e a conseguir fintar os incêndios

Nas áreas do interior geridas pelo Fundo Floresta Atlântica somam-se vitórias contra os incêndios. Mas a replicação deste exemplo custa em arrancar. Quem investe na pira que é a floresta portuguesa?

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Adriano Miranda

Pede-se gestão das florestas para as tornar mais resistentes aos incêndios. Para isso é preciso investimento mas este foge a sete pés quando se depara com as faúlhas a esvoaçar. É a chamada pescadinha de rabo na boca. Num país em que o valor acrescentado da produção de madeira na exploração florestal é dos melhores da Europa, não há forma de aliciar investidores. A única sociedade que gere os fundos imobiliários florestais existentes - o primeiro foi criado há dez anos com a missão de os atrair para as zonas deprimidas do interior -já provou que consegue reduzir o risco de incêndio nas áreas que gere. E ainda manter-se à tona de água. Mas falta mais, muito mais.

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Pede-se gestão das florestas para as tornar mais resistentes aos incêndios. Para isso é preciso investimento mas este foge a sete pés quando se depara com as faúlhas a esvoaçar. É a chamada pescadinha de rabo na boca. Num país em que o valor acrescentado da produção de madeira na exploração florestal é dos melhores da Europa, não há forma de aliciar investidores. A única sociedade que gere os fundos imobiliários florestais existentes - o primeiro foi criado há dez anos com a missão de os atrair para as zonas deprimidas do interior -já provou que consegue reduzir o risco de incêndio nas áreas que gere. E ainda manter-se à tona de água. Mas falta mais, muito mais.

A Floresta Atlântica, uma sociedade anónima constituída em 2007, tem como accionistas o Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas (IFAP), quatro bancos (CGD, Crédito Agrícola, Novo Banco e BBI) e a empresa Europac Portugal. Gere já quatro fundos e uma área superior aos 8000 hectares dispersos pelo país, e em zonas de minifúndio, onde o principal desafio é mesmo conseguir gerir reduzindo o risco de incêndio florestal.

E tem provas dadas. Segundo Rui Gonçalves, presidente executivo da Floresta Atlântica, que esta quarta-feira deu conta de como os fundos têm lidado com os incêndios rurais, os números demonstram que desde que começaram a gerir as propriedades que compraram ou arrendaram, a destruição tem sido menor do que no passado e mesmo menor quando se compara com o que se passou no resto do concelho em que estas áreas se inserem.

O primeiro fundo, com o mesmo nome da sociedade, conta com a participação de quatro bancos, uma companhia de seguros, um fundo de investimento e o importante apoio do IFAP, que investe capitais públicos, tanto nacionais como comunitários. Foi lançado em 2008 e gere 4603 hectares, predominantemente ocupados por pinheiro-bravo, no Nordeste Transmontano, Douro, Tâmega, Beira Interior Norte e Alto Alentejo. Apenas 17% das áreas têm risco baixo a moderado de incêndio mas desde que estão sob a sua gestão, estes espaços arderam metade do que arderam os municípios onde se inserem e menos de metade do que tinha sido destruído no passado.

O mesmo acontece com os restantes fundos. O Iberian Forest Fund, também lançado em 2008 com a participação da Europac e um fundo de investimento imobiliário, gere 887 hectares – cobertos sobretudo por eucalipto, pinheiro-bravo e sobreiro, em partes quase iguais – em Portalegre, Arronches e Bragança. São zonas de elevado risco de incêndio mas a destruição nos últimos dez anos foi bastante reduzida.

Já o Eglon Timbers (o quarto fundo, Iberia Capital, gere sobretudo património construído, como é o caso de fábricas) é um fundo finlandês que decidiu em 2013 investir em zonas de eucalipto que tinham ardido no sul do país. São áreas quase totalmente sujeitas a elevado risco de incêndio que praticamente não arderam nos anos recentes.

Gestão activa

Para chegar a esta boa performance em termos de redução de risco a fórmula é sempre a mesma: gestão activa. Uma gestão que passa pela existência de conhecimento nas decisões que se tomam para tornar a paisagem mais resiliente, pelo controlo de combustíveis (através tanto de pastoreio como de fogo controlado, por exemplo), pela existência de equipas de sapadores florestais que ajudam a combater o incêndio nestas propriedades e em seu redor, pelo incentivo à presença de pessoas no terreno, quer através da resinagem, quer através da contratação de mão-de-obra local, e até pelo apoio aos vizinhos para fazer queimadas, entre outras medidas, adiantou Rui Gonçalves.

Tudo isto custa 35 a 45 euros por hectare por ano se só se olhar para os custos da gestão do risco de incêndio. No total, contando também com a produção florestal, serão investidos cerca de 100 euros por hectare por ano. E tem havido retorno – cerca de 10% nestes dez anos. Mas os fogos do ano passado acabaram por pesar na factura porque a madeira desvalorizou e, por consequência, também o valor das terras baixou.

Para conseguir gerir, reduzir o perigo de incêndio e sobretudo dar retorno aos proprietários, tem de haver investimento. “O fundo foi lançado para ser uma âncora pública para que aparecessem mais. Mas não apareceram”, lamentou Rui Gonçalves. A gestão é complicada em minifúndio e o risco de incêndio é enorme. Mas o certo, indicam os últimos dados do Eurostat, o valor acrescentado da produção de madeira em Portugal é elevado – se bem que são dados mais ligados à indústria que à produção. Poderia ser um investimento interessante se... Há muitos "ses".

A floresta precisa de investimento público superior ao que existe, pois como está não dá retorno. O mercado só não chega. Tem de se pensar que a floresta tem valor para além da madeira, presta serviços ambientais e é importante para a coesão territorial”, sublinhou o presidente da sociedade Floresta Altântica. Algo que muitos exigem há já muito tempo mas que tarda em ser aplicado: era necessário um primeiro grande empurrão por parte dos apoios públicos para incentivar a gestão activa e assim reduzir os riscos de forma a atrair novos investidores.

As medidas que permitem aceder aos fundos comunitários têm de ser redesenhadas para que não só abarquem os serviços que a floresta presta, mas sobretudo para que se adaptem ao terreno já que as existentes “são dirigidas a populações que não existem e as que existem não sabem aceder a esses fundos”, criticou-se durante o debate que decorreu no auditório do Instituto Florestal do Instituto Superior de Agronomia.

Há ainda outros fundos públicos, como o florestal ou o ambiental, que todos gostariam que investissem mais na floresta e menos no combate – a principal crítica feita ao uso do dinheiro do Fundo Florestal Permanente.

Todos concordam que Portugal pode ter na floresta – como já tem, apesar dos pesares – um dos seus principais pilares económicos. Todos os dados apontam para um aumento da procura dos produtos florestais. Mas os investidores continuam arredados. Porque ninguém atira dinheiro para uma pira.