Mais de 350 mortos em três meses de protestos contra o Governo na Nicarágua
Secretário-geral da ONU mostra-se "muito preocupado" com a violência no país. Primeira-dama da Nicarágua diz que executivo "é indestrutível".
Pelo menos 351 pessoas morreram e 261 estão desaparecidas na Nicarágua, em resultado da repressão do Governo contra os protestos que ocorrem no país desde Abril, segundo o mais recente balanço da Associação Nicaraguense pelos Direitos Humanos (ANPDH).
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Pelo menos 351 pessoas morreram e 261 estão desaparecidas na Nicarágua, em resultado da repressão do Governo contra os protestos que ocorrem no país desde Abril, segundo o mais recente balanço da Associação Nicaraguense pelos Direitos Humanos (ANPDH).
No dia em que estes números foram divulgados, Rosario Murillo, vice-presidente e mulher do Presidente Daniel Ortega, declarou que o Governo é “indestrutível”. O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse estar preocupado com o que se passa neste país da América Central.
O relatório da ANPDH indica que, do total de mortos, 306 são civis, 28 faziam parte de grupos paramilitares que defendem o Governo de Daniel Ortega, 16 eram polícias e um era um membro do Exército.
Desde 18 de Abril que a Nicarágua é palco de manifestações e confrontos violentos. Os manifestantes acusam o Presidente e a mulher de abuso de poder e de corrupção. Rosario Murillo saiu em defesa de Daniel Ortega, que está no poder desde 2007 (depois de já ter liderado o país entre 1979 e 1990), acusando os opositores de terem lançado o terror no país. "Somos fortes, indestrutíveis, não conseguiram, nem vão conseguir derrubar o Governo”, exclamou Murillo, num discurso transmitido na quarta-feira por meios de comunicação social oficiais.
Na opinião da também porta-voz do Governo, o que está a acontecer desde 18 de Abril é "uma explosão do mal e do terrorismo", causada pelos opositores que vivem num "mundo egoísta e perverso". "Foram capazes de introduzir numa sociedade que vivia um processo de reconciliação... perversão, terror, terrorismo, crimes, sequestros e torturas", acusou.
Alvaro Leiva denunciou que, até agora, "não há fonte oficial" que forneça dados exactos sobre quantas pessoas foram feridas ou morreram nos diferentes protestos civis que têm vindo a ocorrer no país. A NPDH diz que 2100 pessoas sofreram ferimentos e não tiveram acesso a atendimento médico oportuno do sistema público de saúde. E 51 pessoas sofreram ferimentos graves com danos permanentes, refere o relatório apresentado pelo secretário-geral da organização, Alvaro Leiva, em conferência de imprensa.
ONU "deplora perda de vidas"
A violência dos últimos meses no país já levou a que o secretário-geral da ONU se pronunciasse através do seu porta-voz Stéphane Dujarric, na conferência de imprensa diária. “É uma situação que [António Guterres] tem estado a seguir de muito perto e apoia o trabalho feito pelos bispos católicos para um diálogo político”, afirmou o porta-voz. Em comunicado posterior, Dujarric acrescentou que a ONU “deplora a perda de vidas nos protestos e o ataque contra os mediadores da Igreja católica no diálogo nacional”.
O texto acrescenta que “o secretário-geral reconhece o importante papel de mediação da Conferência Episcopal Nicaraguense e pede a todas as partes para respeitarem o papel dos mediadores, abster-se do uso da violência e comprometer-se plenamente em participar no diálogo nacional para reduzir a violência e encontrar uma solução pacífica para a crise actual”.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) e o gabinete do Alto-Comissário da ONU para os Direitos Humanos condenaram a violência recente, que só no passado fim-de-semana causou mais 20 mortos, e pediram o desarmamento “urgente” dos grupos “pró-governamentais”.
Entretanto, a Conferência Episcopal da Nicarágua decidiu continuar a mediar o processo de diálogo nacional, apesar das agressões físicas e verbais os seus representantes sofreram na segunda-feira.
Neste dia, um grupo de agentes para policiais irrompeu violentamente em uma basílica da cidade de Diriamba, situada 42 quilómetros a sul de Manágua, onde agrediram os bispos, entre os quais o núncio apostólico Stanislaw Waldemar Sommertag, o cardeal Leopoldo Brenes e o bispo Silvio Báez.
Os números da CIDH apontam para 264 mortos em resultado dos protestos dos últimos três meses e mais de 1800 feridos.