Pinheiro-bravo agoniza e põe em risco indústria que emprega milhares

Associação Zero alerta para o risco que corre uma indústria que ainda gera emprego nos meios rurais e exige que os apoios cheguem ao minifúndio.

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ADRIANO MIRANDA

São mais de 52 mil pessoas e quase 9000 empresas que dependem de uma espécie que está a ser varrida do território nacional. Os incêndios têm feito o pinheiro-bravo perder terreno e não parece haver forma de inverter esta tendência pois os apoios não chegam aos pequenos proprietários, alerta a associação ambientalista Zero. Os números recolhidos pelas organizações de produtores confirmam-no: a maioria das candidaturas aprovadas aos fundos europeus para as florestas está em concelhos do sul, na grande propriedade. Que não arde. E, entre estas, uma percentagem ínfima diz respeito ao pinheiro.

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São mais de 52 mil pessoas e quase 9000 empresas que dependem de uma espécie que está a ser varrida do território nacional. Os incêndios têm feito o pinheiro-bravo perder terreno e não parece haver forma de inverter esta tendência pois os apoios não chegam aos pequenos proprietários, alerta a associação ambientalista Zero. Os números recolhidos pelas organizações de produtores confirmam-no: a maioria das candidaturas aprovadas aos fundos europeus para as florestas está em concelhos do sul, na grande propriedade. Que não arde. E, entre estas, uma percentagem ínfima diz respeito ao pinheiro.

Com base em dados do Instituto da Conservação das Florestas e do Centro Pinus, uma associação florestal, a Zero conclui que “é muito provável que a área ocupada por povoamentos de pinheiro-bravo em Portugal após os incêndios do passado ano fique abaixo dos 500 mil hectares, uma situação que muito em breve irá colocar em risco a indústria ligada à exploração do pinhal (em particular as serrações), a qual mantém 80% do emprego no sector da floresta - mais de 52 mil pessoas trabalham em 8826 empresas, representando 45% do volume de negócios”.

O certo é que a indústria já regista um défice em matéria-prima elevadíssimo e o quadro tem tudo para se agravar. Um dos mais importantes factores para o elevado número de incêndios em Portugal é, entre outros, a falta de gestão dos espaços florestais, sobretudo no norte e centro, isto é, onde está o minifúndio. E também são estas as regiões com maior aptidão para a produção lenhosa. Mas, em vez de ser para onde se apontam as baterias do apoio ao investimento, são zonas esquecidas. “O problema está para onde não se olha”, diz João Gonçalves, do Centro Pinus.

Incontornável é o facto de que o Plano de Desenvolvimento Rural 2020 não tem servido nem para tornar a floresta mais resiliente aos incêndios nem mais produtiva. Uma análise feita por esta associação florestal aos apoios já atribuídos concluiu que das 1064 candidaturas aprovadas na altura, 446 (41%) estavam localizadas em 10 concelhos, que representam 48% do financiamento aprovado. Coruche, Chamusca e Almodôvar receberam mais de 27% do financiamento aprovado. E entre os mais de mil projectos aprovados, apenas 56 envolviam o pinheiro-bravo.

Por tudo isto, a Zero considera que “deve ser equacionada uma nova geração de políticas públicas para gestão florestal no minifúndio, a equacionar já no próximo quadro comunitário, onde o pinheiro-bravo faça parte da equação, aproveitando o carácter pioneiro desta espécie autóctone, cuja instalação em áreas de solos pouco estruturados e delgados pode facilitar a transição para uma floresta de folhosas autóctones”. Aproveitar e reforçar as verbas do Fundo Florestal Permanente são outras das sugestões da associação.

Estas críticas e a exigência de novas soluções – algo que já começou a ser aflorado na abertura de concursos regionais e não nacionais, uma medida recente do secretário de Estados das Florestas, Miguel Freitas – têm sido uma tónica comum a produtores, associações e autarquias. Porque numa mudança de políticas entronca parte da resposta aos incêndios florestais mas também à desertificação do interior, que nunca será combatida se nesses territórios não existir actividade económica.

“Assiste-se ao desaparecimento de uma economia ligada à exploração do pinheiro-bravo que ainda mantém muitos empregos nas áreas rurais, mas se se mantiverem as contradições entre os discursos políticos e os apoios públicos às actividades económicas existentes, a prazo pouca floresta resistirá”, conclui a Zero.