O Walk & Talk trouxe arte, Conan Osiris e teatro a São Miguel
Desde 29 de Junho que está a decorrer a oitava edição deste festival multidisciplinar que inclui residências artísticas, um circuito de arte pública pela ilha, instalações, teatro, performance, música e outra programação.
Em frente ao porto de Ponta Delgada, a poucos metros dos barcos, há um mural que, com bandeiras de sinalização marítima internacional, escreve “Georgiana Leonard”. Leonard era uma mulher que, na década de 1860, se fez passar por um homem e se tornou, até ser descoberta, um dos membros mais destemidos e temíveis da tripulação do Holmes Hole, um barco que cruzava o Atlântico para caçar baleias.
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Em frente ao porto de Ponta Delgada, a poucos metros dos barcos, há um mural que, com bandeiras de sinalização marítima internacional, escreve “Georgiana Leonard”. Leonard era uma mulher que, na década de 1860, se fez passar por um homem e se tornou, até ser descoberta, um dos membros mais destemidos e temíveis da tripulação do Holmes Hole, um barco que cruzava o Atlântico para caçar baleias.
Esta é uma peça de Navine Khan Dossos (n. 1982), uma artista londrina que faz parte de Assembling a Moving Island, o circuito de arte pública, com curadoria de Dani Admiss, da oitava edição do Walk & Talk, o festival interdisciplinar de São Miguel, nos Açores, que arrancou a 29 de Junho e chega ao fim no próximo dia 14.
Perto dali, no quarto piso do Solmar Avenida Center, um centro comercial, há uma exposição chamada Untitled (How Does it Feel), com curadoria da dupla João Mourão e Luís Silva, que inclui, no terraço com vista para várias partes da cidade, a criação de um mural do artista Luís Lázaro Matos numa piscina que estava inacabada e vazia.
Já noutra zona da ilha, a Ribeira Grande, o Arquipélago, um centro de artes contemporâneas, tem uma instalação do projecto de pesquisa artística Shift Register, que une Jamie Allen, que nasceu no Canadá, ao britânico Martin Howse. Eye Land Band Width é composta por duas cabinas com lasers e espelhos que medem a actividade sísmica que acontece na ilha.
Mas o festival Walk & Talk não vive só desse tipo de peças de arte, instalações, residências artísticas ou exposições. Há também outros tipos de programação, com música, performances e teatro.
No sábado, a marginal de Ponta Delgada — onde se pode ver a tal peça de Navine Khan Dossos — esteve fechada ao trânsito, durante a tarde e até ao início da noite, para receber uma marcha das Grande Festas do Divino Espírito Santo. Por isso, no Largo de São João, onde fica o Teatro Micaelense e onde nesta edição o festival ganhou um pavilhão, uma estrutura de madeira que funciona como local central do Walk & Talk, foi apresentada uma peça de teatro com Miguel Damião e Lúcia Moniz e realizou-se um arraial que incluía DJ sets e actuações de bandas locais, como a Top Girls, uma girls band que faz versões de êxitos pop, e um concerto do lisboeta Conan Osiris.
A peça Tu de Quem És?, que se assume como “completamente insular”, é uma comédia feita por e para açorianos. Que provavelmente não funcionaria fora do arquipélago, por causa das suas referências à actividade sísmica (que também consta da instalação dos Shift Register) e a todo o tipo de fenómenos locais.
Tu de Quem És? subiu ao palco do Teatro Micaelense na sexta-feira e no sábado, com o texto da peça a fazer referências ao próprio festival e à sua programação. Entre outros temas, o seu texto fala da identidade açoriana e da dinâmica que existe entre São Miguel e a Terceira. Em representação da primeira ilha estão Miguel Damião, um dos actores em palco, e Nuno Costa Santos, um dos autores da peça, enquanto a segunda ilha é representada por Lúcia Moniz, a outra protagonista e por Alexandre Borges, o outro responsável pelo texto. Na peça os dois actores encontram-se enquanto esperam receber uma distinção e, embora não tenham nascido de facto nos Açores, definem-se como açorianos (na Terceira, já agora, haverá, como acontece desde 2016, uma versão mais reduzida do festival, de 10 a 13 de Outubro).
Depois disso, o arraial durou pela noite dentro com o músico Conan Osiris. O lisboeta, que no início deste ano mal tinha actuado ao vivo e não estava habituado a usar microfones profissionais para cantar — gravava com o seu iPhone —?, tomou nos últimos meses de assalto o panorama musical português por causa do disco Adoro Bolos, saído no final de 2017. Nessa altura era praticamente desconhecido, agora é uma das confirmações do próximo Super Bock em Stock, o festival de Lisboa que este ano volta a ter o nome original depois de ter sido Vodafone Mexefest.
Conan Osiris levou alguma estranheza ao largo micaelense, com a sua apropriação de inúmeros tipos diferentes de música, do tecno ao funaná, do eurodance à música cigana, com um ar de António Variações pelo meio — há mil outras descrições que poderíamos fazer —, sendo acompanhado em palco apenas por um bailarino. Não era o melhor sítio para falar nem para se andar, como o nome do festival indica, mas a noite deu para se dançar.
O PÚBLICO viajou a convite do Walk & Talk