As missões da Universidade
Para promover a Inovação não basta criar conhecimento nas Universidades ou formar pessoas ao mais alto nível científico e técnico.
As Universidades são espaços fundados nos valores do conhecimento e liberdade, cuja principal missão é a criação do futuro. Assim dito, parece simples, mas a verdade é que não é tarefa fácil, pois não há procedimentos ou referenciais para o fazer. O estudo do passado é, com certeza, muito importante para evitar repetir erros e inspirar-nos, mas a realidade ensina-nos que novos erros serão sempre cometidos e novos desafios serão colocados no nosso caminho. Só nos resta o pensar livre, despido de preconceitos e sem medo, que deve ser o nosso Norte na tarefa da criação do futuro.
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As Universidades são espaços fundados nos valores do conhecimento e liberdade, cuja principal missão é a criação do futuro. Assim dito, parece simples, mas a verdade é que não é tarefa fácil, pois não há procedimentos ou referenciais para o fazer. O estudo do passado é, com certeza, muito importante para evitar repetir erros e inspirar-nos, mas a realidade ensina-nos que novos erros serão sempre cometidos e novos desafios serão colocados no nosso caminho. Só nos resta o pensar livre, despido de preconceitos e sem medo, que deve ser o nosso Norte na tarefa da criação do futuro.
Mas convém definir o que se entende por “criação do futuro”. As Universidades formam as gerações de jovens que entram todos os anos no tecido produtivo, fazendo-o evoluir e modificando a sociedade. Mas para o fazerem bem, esses jovens têm que ir munidos de valores, capacidade de pensar e proficiência científica, humanística, artística e técnica ao nível do estado da arte. As Universidades não devem formar pessoas para o presente, mas para o futuro. Tal significa que as Universidades devem estar um passo mais além da sociedade para o poderem fazer. É aqui que entra outro pilar fundamental na criação do futuro: as Universidades devem gerar conhecimento, pois só assim é que se vislumbra o futuro. Mas que conhecimento? Ainda não sabemos. Aquilo que nos parece inútil hoje poderá ser fulcral para o nosso amanhã. A investigação fundamental sempre foi o motor do desenvolvimento e só se distingue da investigação dita aplicada porque ainda não encontrou a sua aplicação. Por exemplo, a técnica para editar genes CRISPR/Cas foi descoberta em investigações fundamentais sobre um “sistema imunitário” de bactérias mas é de tal forma revolucionária que está a permitir abrir perspectivas antes inimagináveis, com potencial uso em terapias humanas.
Considerámos até aqui dois pilares da missão da Universidade, a formação e geração de conhecimento. Mas é preciso considerar outro pilar: o da transferência do conhecimento e a criação de valor. Embora com excepções, este pilar é tradicionalmente reduzido na Universidade Portuguesa. Existem razões várias para explicar esta situação e isso daria outro artigo. Mas temos que considerar que essa actividade não era muito valorizada (nem era muito necessária) nas formações mais convencionais, em que bastava formar bem as pessoas e enviá-las para o mercado, que estava suficientemente desenvolvido nessas áreas para incorporar e desenvolver o conhecimento, muitas vezes de outros. No entanto, nalgumas áreas, nomeadamente nas ciências da vida, esta transferência de recursos humanos altamente qualificados para o mercado não tem acontecido de uma maneira eficaz. Se olharmos para os dados da Pordata, vemos que o crescimento exponencial do número de doutorados não tem sido acompanhado de um aumento idêntico dos doutorados nas empresas, como empregados ou como empregadores.
Olhando para esses dados, é evidente que para promover a Inovação não basta criar conhecimento nas Universidades ou formar pessoas ao mais alto nível científico e técnico. A universidade tem que fazer mais para se interligar com o tecido produtivo, saindo das suas missões tradicionais. Deve incorporar especialistas em transferência de tecnologia, que consigam fazer a ponte entre o conhecimento criado e as empresas que o possam transformar em produtos ou serviços, mas deve também trabalhar na promoção da cultura empresarial dos investigadores ao mesmo tempo que trabalha na promoção da cultura científica entre os empresários, a par com o resto da sociedade. Para alguns investigadores motivados, para além de formarmos pessoas com altas capacidades científicas e técnicas, devemos ainda criar as condições para que consigam desenvolver outras competências – como gestão, inovação e transferência de tecnologia. A Academia, ao formar investigadores que possam também identificar ou encaminhar processos ou descobertas que consigam criar valor para a sociedade e transformar a investigação dos laboratórios onde se encontram, em produtos e serviços úteis para a sociedade, irá promover a mudança do estado actual das coisas.
Queremos pois reforçar a formação de investigadores para a Ciência, para o Mundo e para a Sociedade. O instituto de ciências da vida que dirijo (Instituto de Tecnologia Química e Biológica António Xavier – ITQB NOVA) lançou uma pós graduação (StartUp Research) em conjunto com a NOVA School of Business and Economics que pretende contribuir para isso, dando a investigadores desta área a oportunidade de adquirirem conhecimentos nas áreas da gestão e inovação e, ao mesmo tempo, conhecer empreendedores, gestores e empresários ligados à ciência e de aprender com eles. Ao mesmo tempo que promovemos a cultura empresarial damos a oportunidade para que troquem ideias com as pessoas que andam a pensar e a fazer acontecer a translação do conhecimento para as empresas. Esperamos que mais formações destas se sigam e com isso contribuiremos para a criação de novos empregos e, mais ainda, novos empregadores. Esta aposta é também uma contribuição para o desenvolvimento do ecossistema de inovação que queremos ter no nosso país, com vista à criação de um melhor futuro, baseado num tecido empresarial baseado em alta tecnologia, que absorva a nossa mão-de-obra altamente qualificada, e que, dado o alto valor acrescentado, venha contribuir para mudar o paradigma da empregabilidade à custa de baixos salários. O futuro que imaginamos é aquele onde os nossos jovens se podem fixar, que recupera os que entretanto perdemos e encaminha os jovens que estamos a formar para que tenham um papel activo na sociedade cumprindo o seu destino – serem um futuro melhor.