Começou a corrida contra o tempo na gruta de Chiang Rai
O nível de oxigénio na câmara onde estão as 12 crianças e o seu treinador está a descer, mas a morte de um experiente mergulhador veio levantar mais dúvidas sobre a hipótese de um resgate debaixo de água. Governador de Chiang Rai negou os rumores de que estaria para breve o início do resgate: "Não. Eles ainda não podem mergulhar".
A morte de um mergulhador que participava na operação de salvamento das 12 crianças e um adulto que estão encurralados numa gruta na Tailândia, na madrugada desta sexta-feira, afectou o ânimo das equipas de socorro no acampamento montado à superfície. Mas teve também uma outra consequência, mais dramática: a de tornar bem reais os riscos de se tentar resgatar 13 pessoas debilitadas e sem experiência de mergulho ao longo de um sistema de grutas com quase quatro quilómetros de extensão, a mil metros de profundidade, com secções inundadas e através de passagens onde só cabe uma pessoa.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
A morte de um mergulhador que participava na operação de salvamento das 12 crianças e um adulto que estão encurralados numa gruta na Tailândia, na madrugada desta sexta-feira, afectou o ânimo das equipas de socorro no acampamento montado à superfície. Mas teve também uma outra consequência, mais dramática: a de tornar bem reais os riscos de se tentar resgatar 13 pessoas debilitadas e sem experiência de mergulho ao longo de um sistema de grutas com quase quatro quilómetros de extensão, a mil metros de profundidade, com secções inundadas e através de passagens onde só cabe uma pessoa.
Sanan Kunan, de 38 anos, era um antigo mergulhador de elite da Marinha tailandesa e um atleta de triatlo com bons resultados — chegou a fazer parte da selecção da Tailândia e distinguia-se pelas suas boas marcas nas corridas de bicicleta de longa distância. Nos últimos tempos trabalhava como segurança no maior aeroporto do país, em Baguecoque, e foi de lá que saiu, na semana passada, para participar na operação de resgate que está a decorrer na província de Chiang Rai, a 800 quilómetros de distância, no Norte da Tailândia.
"Estamos num ambiente implacável. Quando acontece alguma coisa não é possível vir à superfície. A morte [do mergulhador] é uma notícia terrível e serve para ilustrar os perigos da operação", disse Bill Whitehouse, vice-presidente da associação britânica de voluntários que participam em operações de salvamento em grutas, citado pela Press Association.
A equação que os responsáveis têm de resolver é difícil, e vai ficando cada vez mais difícil à medida que o tempo passa. Para este fim-de-semana esperam-se fortes chuvadas, que podem provocar a subida das águas na gruta — e o nível de oxigénio na câmara terá descido dos normais 21% para 15%, também devido à presença constante na gruta das muitas pessoas que tentam salvar o grupo.
Se os responsáveis decidirem avançar para um resgate através da gruta, cada uma das crianças e o adulto terão de fazer uma travessia perigosa que os mergulhadores mais experientes fazem, no mínimo, em cinco horas. Cada um deles teria de ser acompanhado por dois mergulhadores — e como o caminho até à câmara demora seis horas, o resgate de cada um dos 13 levaria bem mais do que 11 horas, devido à sua inexperiência e debilidade física.
Para já, essa hipótese não se põe. Questionado esta sexta-feira, durante uma conferência de imprensa, o governador de Chiang Rai, Narongsak Osottanakorn respondeu aos rumores de que estaria para breve o início do resgate: "Não. Eles ainda não podem mergulhar."
É por isso que alguns especialistas aconselham que se procure outra saída. "Vale a pena tentar perceber se há acesso a partir da superfície, ou se é possível abrir um caminho", disse Peter Styles, professor de Geofísica na Universidade de Keele, em Inglaterra.
"Fazer um buraco suficientemente grande para retirar as pessoas através de rocha virgem é difícil, mas não é impossível. A alternativa é esperar que o nível das águas desça, o que pode demorar meses", disse o especialista.