Príncipe Aga Khan vem a Portugal com uma multidão de 45 mil fiéis
Líder da comunidade muçulmana ismailita, cujo pai foi casado com actriz Rita Hayworth, será recebido com honras de Estado por António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa. Programa inclui concerto de Cuca Roseta esta noite, no Altice Arena.
Aga Khan IV, o líder espiritual de 15 milhões de muçulmanos ismailitas espalhados pelo mundo, vai arrastar uma multidão de 45 mil fiéis a Lisboa, onde encerra, a partir desta quinta-feira e até 11 de Julho, as comemorações dos seus 60 anos como líder de uma comunidade religiosa que congrega cerca de sete mil fiéis em Portugal.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Aga Khan IV, o líder espiritual de 15 milhões de muçulmanos ismailitas espalhados pelo mundo, vai arrastar uma multidão de 45 mil fiéis a Lisboa, onde encerra, a partir desta quinta-feira e até 11 de Julho, as comemorações dos seus 60 anos como líder de uma comunidade religiosa que congrega cerca de sete mil fiéis em Portugal.
O programa, que arranca na noite desta quinta-feira com um concerto de Cuca Roseta e Cheb Khaled, inclui recepções com honras de Estado promovidas por Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa. E serve para dar a conhecer o multimilionário que lidera este ramo minoritário da comunidade muçulmana xiita com presença nas elites empresariais e académicas de cerca de 30 países, Portugal incluído.
Karim al-Hussaini não é um líder religioso convencional. Nascido na Suíça, estudou em Harvard antes de, em 1957, ter sucedido ao avô na chefia dos ismailitas que o crêem descendente directo do profeta Maomé.
Desde então, e ao contrário do seu pai (presença constante nas revistas cor-de-rosa e cuja lista de esposas integrou a actriz Rita Hayworth), Karim tem-se mostrado uma figura discreta. Sabe-se que foi casado pelo menos duas vezes – com uma modelo e com uma princesa alemã – e a revista norte-americana Forbes estimou a sua fortuna pessoal em 685 milhões de euros. Quando, como recordou a revista Visão, a Spectator o qualificou, em 1984, como “o maior evasor fiscal do mundo”, Aga Khan viu o tribunal dar-lhe razão na queixa que apresentou contra aquela publicação.
Um Estado sem território
A comunidade ismailita funciona como um Estado sem território e com direito a Constituição própria, cuja influência vai muito para além da esfera religiosa, já que detém a Rede Aga Khan para o Desenvolvimento (AKDN), com dezenas de agências em 30 países. Com um orçamento de 600 milhões de euros e 80 mil funcionários, a AKDN construiu hospitais e mesquitas por todo o mundo. Detém universidades, 200 escolas e programas de melhoria escolar em regiões remotas. E gere mais de 90 empresas em economias de regiões em fase de pós-conflito.
Aparentemente, todas as receitas desta rede de instituições financeiras e empresariais são reinvestidas na rede AKDN para acções de ajuda ao desenvolvimento. E - garantem - a riqueza multimilionária do líder é inteiramente separada das contribuições dos fiéis que são convidados a dar um oitavo do seu rendimento à comunidade.
Em Portugal, onde se implantou em 1983 enquanto fundação, a presença da AKDN e da comunidade é discreta. Mas esta invisibilidade poderá começar a romper-se a partir de meados do próximo ano, altura em que deverá ser inaugurada a sede mundial do Imamato Ismaelita, no Palacete Henrique Mendonça, onde era a sede da Nova School of Business & Economics, num investimento de cerca de 12 milhões de euros.
Esta compra foi aprovada em Conselho de Ministros pouco depois de a família Aga Khan ter contribuído com 200 mil euros para a campanha pública destinada a comprar o quadro Adoração dos Magos, do pintor Domingos Sequeira. No ano passado, a AKDN doou 500 mil euros para bolsas de estudo destinadas a crianças cujas famílias foram vítimas dos incêndios em Pedrógão. E um acordo de cooperação firmado com o Governo português prevê a atribuição de 10 milhões em bolsas a investigadores.
O programa da passagem de Aga Khan por Portugal fecha, aliás, no dia 12, com um encontro com os responsáveis dos primeiros 16 projectos de investigação aprovados. Antes disso, no dia 9, o príncipe será recebido em Belém por Marcelo Rebelo de Sousa, com quem jantará, depois de ter almoçado com o primeiro-ministro, António Costa. Estão ainda previstas uma passagem pela Assembleia da República, com direito a uma alocução na Sala do Senado, no dia 10 de Julho, e uma cerimónia religiosa reservada aos fiéis na FIL, no Parque das Nações, no dia 11 de Julho.
Nesse mesmo dia, Aga Khan visitará o Palacete Henrique de Mendonça que, uma vez inaugurado enquanto sede mundial do Imamato, funcionará segundo as regras de uma delegação diplomática estrangeira – as suas instalações serão invioláveis e o imã e os seus funcionários possuirão imunidades jurídicas e importantes benefícios fiscais.