Reino Unido identifica milhares de casos de mutilação genital feminina
A maior parte dos procedimentos são realizados no estrangeiro. A prática é considerada ilegal no Reino Unido desde 2003, mas activistas garantem que são necessárias mais medidas de prevenção.
Ao longo do último ano foram identificados milhares de casos de mutilação genital feminina no Reino Unido, de acordo com dados oficiais publicados nesta quinta-feira. Os especialistas sustentam que os números mostram a necessidade de acções mais vigorosas para combater esta prática ilegal.
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Ao longo do último ano foram identificados milhares de casos de mutilação genital feminina no Reino Unido, de acordo com dados oficiais publicados nesta quinta-feira. Os especialistas sustentam que os números mostram a necessidade de acções mais vigorosas para combater esta prática ilegal.
Mais de seis mil mulheres e raparigas que visitaram um médico, parteira, obstetra ou outro serviço de saúde pública em Inglaterra, entre Abril de 2017 e Março de 2018, foram vítimas de mutilação genital feminina (MGF), segundo os dados agora divulgados. Algumas das mulheres já tinham sido identificadas anteriormente pela prática, mas cerca de 4500 foram identificadas pela primeira vez desde que o Governo tornou obrigatório, em 2015, que os médicos reportassem os casos.
Na maioria dos casos, a excisão foi realizada no exterior do país e em mulheres nascidas no estrangeiro. Mas 150 das mulheres nasceram no Reino Unido e 85 foram submetidas ao procedimento dentro do país. Janet Fyle, assessora política da Royal College of Midwives (Ordem das parteiras), diz que são números "muito alarmantes" e que levantavam preocupações sobre a eficácia das medidas de protecção.
A Orchid Project, uma organização que luta pelo fim da mutilação genital feminina em todo o mundo, considera que são precisos mais esforços para acabar com a prática, trabalhando junto de comunidades onde é predominante. "O foco deveria estar na prevenção para manter as raparigas seguras", disse uma porta-voz do grupo à Reuters.
A mutilação genital feminina, que geralmente envolve a remoção parcial ou total da parte externa dos órgãos sexuais femininos, incluindo o clitóris, pode causar sérios problemas físicos e psicológicos, assim como complicações no parto. O número de novos casos registados diminuiu 16% em relação ao ano anterior, mas o número de comparências aos serviços de saúde onde a MGF foi identificada ou tratada permaneceu estável, registando mais de nove mil. "A MGF destrói vidas. Para nos ajudar a erradicá-la, precisamos primeiro de entender a escala do problema, que é a razão pela qual reunimos dados", esclareceu a ministra da saúde mental e desigualdades, Jackie Doyle-Price, em comunicado.
Estima-se que cerca de 137 mil mulheres e raparigas em Inglaterra e País de Gales sofreram de MGF. Muitos casos passam despercebidos porque aconteceram numa idade jovem e no estrangeiro, dizem os activistas. A prática afecta sobretudo comunidades imigrantes de países como Somália, Serra Leoa, Eritreia, Sudão, Nigéria e Egipto.
A mutilação genital feminina é uma ofensa criminal no Reino Unido desde 1985. A legislação em 2003 tornou ilegal para os cidadãos britânicos submeterem-se à MGF ou procurarem a prática no estrangeiro – mesmo em países em que é legal. Mas a polícia e os procuradores continuam a trabalhar no sentido de garantir que há uma condenação. "Uma acção penal bem-sucedida teria um efeito dissuasor mas nós sabemos que não é fácil", disse Jacqui Hunt, directora da organização pelos direitos das mulheres Equality Now na Europa, acrescentando que a MGF aconteceu em segredo e coube às raparigas contarem aos pais.