Na encruzilhada dos Festivais de Verão
Da música antiga à contemporânea, passando pelo clássicos populares ou por repertórios pouco divulgados, os festivais do mês de Julho oferecem propostas para todos os gostos.
O mês de Julho constitui um ponto alto dos festivais de música clássica em Portugal, cruzando propostas para melómanos de diferentes gostos ao nível dos programas e dos intérpretes portugueses e estrangeiros de várias gerações. Aos festivais com várias décadas de história juntam-se iniciativas mais recentes e apostas em públicos diversificados. Esta sexta-feira começam três festivais: a 40.ª edição do veterano Festival Internacional de Música da Póvoa de Varzim; o Festival ao Largo, que desde há 10 anos tem levado um público numeroso aos concertos com entrada livre no largo do Teatro Nacional de São Carlos; e o 4.º ciclo Reencontros — Memórias Musicais no Palácio de Sintra, dedicado à época medieval e renascentista. Outros festivais, como o de Espinho, o Cistermúsica de Alcobaça e o Festival Estoril Lisboa já começaram e outros irão abrir as suas portas nas próximas semanas. Aqui ficam algumas sugestões.
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O mês de Julho constitui um ponto alto dos festivais de música clássica em Portugal, cruzando propostas para melómanos de diferentes gostos ao nível dos programas e dos intérpretes portugueses e estrangeiros de várias gerações. Aos festivais com várias décadas de história juntam-se iniciativas mais recentes e apostas em públicos diversificados. Esta sexta-feira começam três festivais: a 40.ª edição do veterano Festival Internacional de Música da Póvoa de Varzim; o Festival ao Largo, que desde há 10 anos tem levado um público numeroso aos concertos com entrada livre no largo do Teatro Nacional de São Carlos; e o 4.º ciclo Reencontros — Memórias Musicais no Palácio de Sintra, dedicado à época medieval e renascentista. Outros festivais, como o de Espinho, o Cistermúsica de Alcobaça e o Festival Estoril Lisboa já começaram e outros irão abrir as suas portas nas próximas semanas. Aqui ficam algumas sugestões.
Festival Internacional de Música da Póvoa de Varzim
A abertura do Festival Internacional da Póvoa de Varzim cabe como é habitual ao musicólogo Rui Vieira Nery, que irá proferir a conferência Vianna da Motta e a Construção de uma Identidade Musical Portuguesa (esta sexta-feira, dia 6 de Julho, às 21h45, no Cine-Teatro Garrett), assinalando assim os 150 anos do grande pianista e compositor. Já amanhã, Jordi Savall e o Hespérion XXI apresentam o programa Folías Antiguas & Criollas — da Antiga Hespéria ao Novo Mundo e no dia 8 o Ensemble Vox Luminis, sob a direcção de Lionel Meunier, interpreta música de Buxtheude e de membros da família Bach.
Se estes dois agrupamentos deixaram já boas recordações ao público fiel do festival noutras edições, o director artístico, João Marques (que este ano assina a sua última programação após um bem sucedido percurso) reserva sempre novidades. Este ano, no campo da música antiga, dá a conhecer em Portugal o grupo La fonte musica, especializado na música da Ars Nova e da Ars Subtilior (século XIV). Com direcção do alaudista Michele Pasotti apresenta um concerto inteiramente dedicado ao compositor Antonio Zacara da Teramo no dia 12.
A música de J. S. Bach terá um lugar central este ano através de intérpretes tão prestigiados como Rinaldo Alessandrini e o Concerto Italiano, Alfredo Bernardini e o Ensemble Zefiro e Ophélie Gaillard, o Chouer Arsys Bourgogne e a Pulcinella Orchestra. A ópera A Hora Espanhola, de Ravel, pelo Ensemble Messiaen, com encenação de Raquel Silva; o Vision String Quartet; a violinista Isabelle Faust; pianistas como Arcadi Volodos, Pedro Burmester e Raúl da Costa (próximo director artístico do festival) e a cravista Ana Mafalda Castro, entre outros, são outras apostas de um programa aliciante.
Reencontros em Sintra
O ciclo Reencontros “tem o Mediterrâneo no epicentro, com uma pequena digressão até às lendas medievais germânicas que nos oferecem um ponto de vista privilegiado sobre opostos de uma mesma época no continente europeu”, nas palavras de Massimo Mazzeo, responsável pela programação. O concerto de abertura (esta sexta-feira, às 21h30, na Palácio da Vila) cabe à Compañia Flamenca Cadencia Andaluza, com o espectáculo Senderos Flamencos, mas a programação contempla outros grupos de grande sucesso internacional como é o caso de L’Arpeggiata de Christina Pluhar (cujo concerto do dia 13 se encontra já esgotado).
A cantora Maria Jonas e o grupo Ala Aurea propõem um sugestivo percurso musical em torno da figura de Cundrîe, uma espécie de feiticeira, mensageira do Santo Graal e mediadora entre o Oriente e o Ocidente (dia 12); o agrupamento vocal Odhecaton de Paolo da Col, exímios intérpretes do repertório renascentista, trazem a Sintra a magnífica polifonia franco-flamenca e composições de Orlando di Lassus (dias 20 e 21); e a exuberante Accademia del Piacere de Fahmi Alqhai (viola da gamba e direção musical) percorre os caminhos da música espanhola dos séculos XVI e XVII (dias 27 e 28).
Festival ao Largo
Desde esta sexta-feira até 28 de Julho, o Largo de São Carlos volta a ser o cenário de uma série de espectáculos de música e dança com entrada livre apresentados pela Orquestra Sinfónica Portuguesa (OSP), pelo Coro do Teatro Nacional de São Carlos, pela Companhia Nacional de Bailado (CNB) e por convidados como a Metropolitana de Lisboa ou o Lisbon Underground Music Ensemble, agrupamento formado por instrumentistas na área do jazz e da música erudita.
Esta sexta-feira, às 21h30 (com repetição amanhã), será interpretada a célebre cantata cénica Carmina Burana, de Carl Orff, pela OSP, pelo Coro do TNSC e pelo Coro Juvenil de Lisboa, sob a direcção de Domenico Longo, e durante as próximas semanas será possível ouvir obras de compositores como Mozart, Tchaikovsky, Richard Strauss ou Dvorák, entre outros. Haverá ainda lugar para a música de câmara pelos Solistas de Lisboa, com um programa constituído pelas Duas Peças para Octeto de Cordas, op. 11, de Shostakovich, e pelo Octeto, de Mendelsshon (dia 18).
Festival Cistermúsica de Alcobaça
O Festival Cistermúsica de Alcobaça, que teve início a 29 de Junho, propõe mais uma vez um programa criterioso e diversificado, que dá um lugar especial à música portuguesa. O centenário da morte de António Fragoso e os 150 anos do nascimento de Vianna da Motta são assinalados nos recitais do Trio Pangea e da soprano Filipa Portela com o pianista Stefano Amitrano, e o Requiem de Frei Manuel Cardoso, obra lapidar da polifonia portuguesa, será interpretado pelo Grupo Vocal Olisipo, dirigido por Armando Possante, num concerto que inclui poesia declamada por Ana Zanatti e a estreia de uma obra encomendada a Tiago Derriça (dia 8).
Mas uma das propostas que desperta mais expectativas é a ópera barroca Guerras de Alecrim e Manjerona (1737) de António José da Silva (o Judeu) e António Teixeira, interpretada pelos Músicos do Tejo e pelas S.A. Marionetas, numa encenação de Carlos Antunes (28 de Julho). A mini-ópera Domitila do brasileiro João Guilherme Ripper, baseada nas cartas do imperador D. Pedro I e da Marquesa de Santos, terá igualmente encenação de Carlos Antunes, e interpretação do Toy Ensemble e da soprano Carla Caramujo. Destaca-se ainda a presença do Quarteto Casals (esta sexta-feira, às 21h30), do pianista Alexander Ghindin e da Orquestra Estatal de Atenas, dirigida por Stefano Tsialis, com a Sinfonia de César Franck, uma obra do grego Nikos Skalkottas e um concerto de Weber pelo premiado clarinetista Horácio Ferreira (concerto que será também apresentado dia 24 no Festival Estoril Lisboa).
Festival do Estoril Lisboa
Também o 44.º Festival Estoril Lisboa assinala várias efemérides — o centenário do fim da I Guerra Mundial, o centenário da morte de Debussy e os aniversários de François Couperin (350 anos), Vianna da Motta (150 anos) e Leonard Bernstein (100 anos). Destacam-se as encomendas realizadas a dois compositores portugueses: Requiem pela Aurora de Amanhã, de João Madureira, a partir de um texto de José Tolentino Mendonça (dia 20 no Claustro do Mosteiro dos Jerónimos); e Te Deum em louvor da Paz, de Eurico Carrapatoso (dia 25, na Igreja de São Roque).
A estreia em Portugal da Sinfonia Fantástica, de Berlioz, executada com projecção de imagens do cinema mudo de Lang e Murnau (dia 26, na Gulbenkian), recitais de órgão por Javier Artigas na Igreja de São Vicente de Fora e de cravo por Cristiano Holtz no Palácio da Ajuda são outras propostas de um festival que inclui também o 20.º Concurso de Interpretação do Estoril e uma série de concertos dedicada aos mais jovens da qual faz parte o concerto desta sexta-feira (às 21h30, no Centro Cultural de Cascais) por alunos do Instituto Gregoriano sob a direcção de Teresa Lancastre. Será apresentada em estreia em Portugal a ópera Les enfants du Levant, de Isabelle Aboulker.
Festival das Artes de Coimbra
A 13 de Julho inicia-se a 10.ª edição do Festival das Artes de Coimbra, este ano subordinada ao tema Amores e Desamores. O ciclo dedicado à música inclui na abertura um concerto no Convento de São Francisco pela Orquestra Filarmónica Portuguesa, dirigida pelo maestro Osvaldo Ferreira. A Abertura Fantasia Romeu e Julieta, de Tchaikovsky, o Concerto para violino nº 1, op. 26, de Max Bruch (com Yang Liu como solista) e a A Sagração da Primavera, de Stravinsky, constituem o exigente e ambicioso programa proposto por esta orquestra fundada há menos de dois anos e que também estará presente no Cistermúsica de Alcobaça, num programa em colaboração com o Quorum Ballet. No dia 14, o grupo Sete Lágrimas apresenta Amores na Diáspora, com versões de reportórios populares e eruditos do século XVI ao século XX oriundo dos cinco continentes, e no dia 18 o pianista Geoffroy Couteau, vencedor do Concurso Internacional Johannes Brahms de 2005 apresenta-se pela primeira vez em Portugal com um programa dedicado a Bach, Beethoven e Brahms. A opereta, a ópera e o fado, respectivamente com as cantoras Lara Martins, Sandra Medeiros e Beatriz integram também o programa deste festival multidisciplinar.