Memorial de um Nobel, vinte anos depois
Nas celebrações dos 20 anos do Nobel, hão-de esgrimir-se intenções e “galhardetes” em nome de Saramago. O que ele não diria, se pudesse, nos seus Cadernos…
Foi no dia 8 de Outubro de 1998 que José Saramago (1922-2010) soube que ia receber o Prémio Nobel da Literatura, o primeiro atribuído a um escritor português. Nesse dia estava ele na Feira Internacional do Livro de Frankfurt, onde Portugal era o país em destaque. Foi a festa que se sabe, e teve fortes repercussões no futuro do escritor e no da sua obra, que ganhou ainda maior difusão.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Foi no dia 8 de Outubro de 1998 que José Saramago (1922-2010) soube que ia receber o Prémio Nobel da Literatura, o primeiro atribuído a um escritor português. Nesse dia estava ele na Feira Internacional do Livro de Frankfurt, onde Portugal era o país em destaque. Foi a festa que se sabe, e teve fortes repercussões no futuro do escritor e no da sua obra, que ganhou ainda maior difusão.
Vinte anos passados sobre a data, eis que é anunciada uma “descoberta”: o sexto volume dos Cadernos de Lanzarote, encontrado por Pilar del Río no disco rígido de um dos computadores que Saramago usava, durante uma busca feita para o poeta e ensaísta espanhol Fernando Gómez Aguilera, com o fito de ultimar um volume com as conferências e discursos proferidos por Saramago em vários países e em diferentes datas. O anúncio foi feito ontem, em conferência de imprensa, e Pilar del Río sublinhou que a surpresa não estava tanto na existência de tal volume (que Saramago já anunciara nos Cadernos de Lanzarote V) mas no seu aparecimento, agora, de “forma casual”. E a agência Lusa anunciou, em definitivo, que tal volume será mesmo editado em 8 de Outubro deste ano. Já o havia feito, contudo, em Dezembro de 2001. Numa notícia da agência, reproduzida no jornal A Capital, dizia-se que “o diário relativo a 1998 estará disponível no mercado português entre Janeiro e Fevereiro de 2002”. Ou seja, dois meses depois, no máximo. E a um jornal espanhol, El Comercio, de Gijon, Saramago garantia por esses dias que na Primavera de 2002 “se publicaria em Portugal o caderno de 1998, ‘para que não se diga que precisamente nesse ano em que me aconteceu algo que deveria contar, eu não o fazia.’” Tudo isto queria dizer que o volume estava praticamente pronto. E no entanto algo o adiou. A actual “descoberta”, não da sua existência (publicamente anunciada, em vários meios) mas do seu paradeiro, vem enfim trazer o volume a público, completando o memorial dos Cadernos de Lanzarote, aqui já o Memorial de um Nobel.
O que mais se discute, a propósito da efeméride? As celebrações em torno dela. Há um Congresso Internacional em Outubro, mas ainda assim o editor Manuel Alberto Valente diz que Portugal não se preparou para este aniversário. Ao que o Ministério da Cultura responde que até 2020 haverá “diversas iniciativas”: feiras de Guadalajara, Frankfurt, Biblioteca Nacional, bibliotecas públicas, etc. É isto suficiente? Só os programas detalhados o dirão. Mas hão-de esgrimir-se intenções e “galhardetes” em nome de Saramago. O que ele não diria, se pudesse, nos seus Cadernos…