Costa quer"revalidar a "geringonça" e avisa esquerda para não ceder "ao eleitoralismo"
O primeiro-ministro falou do amor que tem pela solução governativa, que quer revalidar na próxima legislatura, sem tibiezas nem dúvidas da sua parte. Apesar de o PSD “não ter lepra”.
Foi uma extensa declaração de amor em vésperas de tensão anunciada aquela que António Costa fez esta terça-feira, no Alentejo, à solução governativa com o PEV, PCP e BE. No discurso de encerramento das jornadas parlamentares do partido, o primeiro-ministro dedicou quase todo o seu discurso a falar ao coração dos parceiros, que não espera que dificultem as negociações do Orçamento do Estado, porque isso poria em causa a continuidade da "geringonça".
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Foi uma extensa declaração de amor em vésperas de tensão anunciada aquela que António Costa fez esta terça-feira, no Alentejo, à solução governativa com o PEV, PCP e BE. No discurso de encerramento das jornadas parlamentares do partido, o primeiro-ministro dedicou quase todo o seu discurso a falar ao coração dos parceiros, que não espera que dificultem as negociações do Orçamento do Estado, porque isso poria em causa a continuidade da "geringonça".
Contudo, à cautela, deixou uma mensagem em tom de aviso: a um ano de eleições não é hora de “sacrificar a boa governação ao eleitoralismo”. E não é hora porque conta com os três partidos para a próxima legislatura. A continuidade é precisa porque, disse, “o mundo não acaba com esta legislatura, mas continua desde logo com outra legislatura. É preciso que todos provemos bem esta solução nesta legislatura, para todos merecermos ter continuidade desta solução de governo na próxima legislatura”, defendeu.
Costa tem em conta o calendário e sabe que está a um ano de eleições, mas mais do que isso, está em pleno furacão de negociações, primeiro com as leis laborais e depois com o orçamento, que podem deitar por terra as condições políticas para que haja uma continuidade da solução de Governo. Por isso, neste discurso que fez, voltou-se quase em exclusivo para os parceiros, sem ser em tom de ameaça. “Não acredito que o PEV, PCP e BE queiram pôr em causa o sucesso desta solução governativa. Se já provámos àqueles que tinham medo desta solução governativa que é possível governar bem, porque iríamos agora no último ano da legislatura pôr em causa aquilo que já provámos em 3 sucessivos orçamentos, que é possível?”, começou por questionar.
Mudando apenas pequenas palavras ou verbos, a intenção do conteúdo era a mesma. Com as negociações do Orçamento do Estado para 2019 atrasadas – à espera da discussão esta sexta-feira das leis laborais – Costa disse que tem “a certeza de que todos [os partidos] partem com o mesmo espírito”, e que isso é preciso para não deitar por terra o que foi construído, mas sobretudo o futuro.
“Não será por ser em ano de eleições que vamos sacrificar a boa governação ao eleitoralismo. Não é por ser o último ano da legislatura que vamos pôr em causa aquilo que conquistámos duramente ao longo desta legislatura”, disse.
E porquê? As razões são várias desde a necessidade de estabilidade das políticas, à confiança dos portugueses e dos estrangeiros, mas também é uma questão política: é preciso que haja "continuidade desta solução de governo na próxima legislatura”. Até porque neste últimos anos “a geringonça demonstrou não só que funciona como é um garante da confiança e está no coração dos portugueses”, disse.
Nesta altura, Costa quis referir que não está à procura nem quer outras companhias de outros partidos, leia-se, do PSD. Lembrando críticas que tem ouvido e dúvidas sobre o seu pensamento político, foi buscar um discurso antigo que fez, também nas jornadas parlamentares do PS, em Coimbra, para dizer que “passados estes meses e chegados quase ao final deste terceira sessão legislativa, queremos continuar este caminho com a companhia que temos porque nos sentimos bem acompanhados”, reforçou. “Não estamos nem arrependidos nem temos vontade de mudar”, disse.
E caso dúvidas houvesse, o primeiro-ministro, aqui na qualidade de secretário-geral do PS, insistiu que no seu pensamento não está nem nunca esteve uma solução de Bloco Central que considera não ser benéfica para a democracia. “Não é porque o PSD tenha lepra, é porque a democracia é feita de escolhas e precisa de opções e para isso é preciso que haja alternativas, as soluções de bloco central empobrecem as alternativas.”