César avisa a esquerda para risco de "voltar ao isolamento” e à “falta de influência”

O presidente do grupo parlamentar do PS diz à esquerda que não deve esquecer que foram criados 15 empregos por dia com esta política e avisa que não é hora de desvios na negociação do OE que poderiam votar o acordo ao fim da convergência.

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LUSA/NUNO VEIGA

Foi uma ameaça latente em tom de pedido para que os partidos parceiros do Governo, PCP, BE e PEV, não travem esta semana no Parlamento as leis laborais que foram acordadas em sede de concertação social e para que as negociações que se iniciam para o Orçamento do Estado – o último desta legislatura – decorram com “sentido de responsabilidade”, porque caso não o seja pode votar estes partidos ao "isolamento" e à "falta de influência". Carlos César admitiu que por vezes há declarações de forma “exuberante” mas que isso não deve ser argumento para deitarem fora o capital destes anos de governação que produziram resultados de que todos se devem “orgulhar”.

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Foi uma ameaça latente em tom de pedido para que os partidos parceiros do Governo, PCP, BE e PEV, não travem esta semana no Parlamento as leis laborais que foram acordadas em sede de concertação social e para que as negociações que se iniciam para o Orçamento do Estado – o último desta legislatura – decorram com “sentido de responsabilidade”, porque caso não o seja pode votar estes partidos ao "isolamento" e à "falta de influência". Carlos César admitiu que por vezes há declarações de forma “exuberante” mas que isso não deve ser argumento para deitarem fora o capital destes anos de governação que produziram resultados de que todos se devem “orgulhar”.

Esta avaliação do socialista faz-se a dois tempos: a primeira barreira a ultrapassar é a votação das leis laborais esta semana, na Assembleia da República, que pode servir de balão de ensaio para a segunda barreira, a negociação do Orçamento do Estado para 2019. Perante os dois momentos de tensão, o presidente do grupo parlamentar aproveitou o discurso das jornadas parlamentares do partido em Beja e Évora para mandar um recado directo aos partidos que apoiam o Governo.

No final do discurso, César esticou a corda para dizer que é preciso lembrar os sucessos que foram alcançados e que não é tempo de os mandar pela borda fora, a um ano de eleições, nas negociações do Orçamento do Estado que espera que se façam com “sentido de responsabilidade” até porque “outra coisa não se espera dos partidos que certamente se orgulham dos resultados destes três anos de actividade governativa”.

Os tiros ainda não se tinham esgotado na arma do socialista que desta vez vinha carregada de respostas aos argumentos dos parceiros da esquerda, mesmo que o tom tenha sido conciliador. Um desses argumentos prende-se com o facto de para BE e PCP, o PS estar a aproximar-se demasiadas vezes do PSD e do CDS. Respondendo a esse discurso, começou por lembrar que a direita até votou várias vezes contra ou absteve-se nas medidas para a melhoria do trabalho que foram aprovadas pelos quatro partidos parceiros e que isso mostra que “nem o PS se desviou do seu percurso, nem os partidos que têm apoiado o Governo querem voltar a um regime de isolamento e de uma falta de influência”.

Mas já antes, César tinha chamado a esquerda com fel, ao começar por lembrar as leis laborais que vão ser debatidas no Parlamento na sexta-feira. Sobre esse tema, disse que nestes anos foram criados “370 empregos líquidos por dia, 15 emprego a cada hora que passa”, um “balanço da governação do PS que não pode ser escondido seja pelos partidos à direita e pelos partidos à esquerda”, defendeu. “Estes indicadores são indicadores de um percurso bem-sucedido de que nos devemos orgulhar e que os nossos parceiros à esquerda também se devem orgulhar”, acrescentou.

No longo discurso de meia hora, Carlos César apenas apontou directamente à esquerda sobre medidas quando foi hora de falar das leis laborais e os efeitos da política do PS no trabalho. Começou por lembrar que os sucessos do Governo têm a “contribuição e sensibilidade – devemos reconhecer indispensáveis – dos partidos que connosco têm colaborado, PEV, BE e PCP". Até porque, frisou, as medidas na área laboral, económica e social, que permitiram os sucessos, “foram construídas pelo Governo do PS com o apoio da maioria parlamentar que permitiu a investidura deste Governo” e, lembrou, “são medidas que constituem património da esquerda portuguesa e que devem ter continuidade”.

Apesar desta convergência até agora, o presidente do grupo parlamentar lembrou que nem sempre tem sido fácil chegarem a acordo. “Não estamos muitas vezes de acordo com eles, é certo. E somos mesmo exuberantes uns com os outros nessa demonstração. Mas é bom que assim seja. É bom que esses partidos marquem as suas diferenças. Ajuda-nos a todos a crescer, a melhorar a governação, a maturar as decisões e a esclarecer com transparência os eleitores. O que é certo é que temos feito um percurso de sucesso”, defendeu perante uma plateia passiva sem que tenha batido palmas durante o discurso. Os deputados apenas reagiram com um riso contido quando César falou da “exuberância” das relações.

O presidente do partido deu apenas a certeza que iria fazer alterações à legislação que deu entrada pelo Governo e que foi aprovada pelos parceiros sociais para “evitar abusos” que daí poderiam resultar, insistindo que agora é hora da “concertação parlamentar”.