Trump recebe alertas internos e externos contra a sua política comercial

Comissão Europeia diz que aumentar as taxas sobre os automóveis prejudica principalmente a economia norte-americana.

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Automóveis importados acabados de chegar aos EUA Reuters/MIKE BLAKE

Tanto do exterior como de dentro dos Estados Unidos estão a chegar à Administração Trump diversos alertas contra os riscos para a própria economia norte-americana de uma política comercial proteccionista.

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Tanto do exterior como de dentro dos Estados Unidos estão a chegar à Administração Trump diversos alertas contra os riscos para a própria economia norte-americana de uma política comercial proteccionista.

Do exterior, em resposta à possibilidade de os EUA imporem taxas mais elevadas sobre a importação de automóveis, a Comissão Europeia enviou às autoridades dos Estados Unidos um relatório em que alerta que uma medida desse tipo seria “penalizadora em particular para a economia norte-americana”.

No documento de 11 páginas entregue em Washington, Bruxelas apresenta, segundo noticia o Politico, um cálculo dos impactos resultantes da aplicação de uma taxa alfandegária sobre a importação de automóveis de 25% (actualmente é de 5% e Donald Trump ameaçou aplicar uma taxa de 20%), antecipando um efeito negativo no PIB dos EUA situado entre os 13 e os 14 milhões de dólares.

Além disso, defende a Comissão Europeia, os EUA não devem esperar que a criação de obstáculos à entrada dos automóveis europeus no seu território contribua para uma melhoria do saldo comercial.

O principal argumento usado por Bruxelas tem a ver com a presença em território norte-americano de vários fabricantes automóveis europeus, que, para além de venderem veículos nos EUA, também contribuem para as exportações do país. “Cerca de 60% dos automóveis produzidos nos EUA por empresas detidas exclusivamente por donos da UE são exportados para países terceiros, incluindo a própria UE. Medidas afectando essas empresas seriam contraproducentes e enfraqueceriam a economia norte-americana”, diz o relatório, que estima que 29% da produção automóvel nos EUA é garantida por empresas europeias e que estas importam uma parte importante dos seus componentes da Europa.

O impacto negativo na economia dos EUA calculado pela Comissão não inclui os efeitos resultantes de eventuais represálias aplicadas pela UE.

Esta linha de argumentação por parte da Europa já era esperada, mas Donald Trump vê-se também a braços com alertas provenientes do interior dos EUA. De acordo com a agência Reuters, a Câmara do Comércio norte-americana, uma entidade geralmente apoiante das políticas económicas defendidas pelo Partido Republicano, vai lançar uma campanha de oposição à política proteccionista.

A ideia base da câmara do comércio é que abrir uma guerra comercial cria o risco de efeitos negativos significativos nos bolsos dos consumidores norte-americanos. Além disso, a campanha também se centra nos impactos sofridos por via das retaliações dos principais parceiros comerciais, apresentando estimativas de perdas nas exportações Estado a Estado.

Naturalmente, que os EUA não são os únicos a perder, e poderão não ser os que perdem mais. A imposição de taxas mais elevadas sobre as importações de automóveis é uma das medidas mais temidas pelos líderes europeus, tendo em conta a importância deste sector para diversas economias da UE. Embora várias marcas tenham já unidades de produção importantes dentro dos EUA, o volume de exportações da UE para a economia norte-americana é muito elevado.

A indústria automóvel tem um peso de 10% no total da indústria da UE e, em 2016, as exportações para os EUA (de longe o principal destino) atingiram os 37 mil milhões de euros (seis vezes mais do que o aço e alumínio). Só da Alemanha, saíram 22 mil milhões de euros destas exportações.