Teatro Maria Matos ficará entregue à Força de Produção

Produtora de espectáculos como Mais Respeito que Sou Tua Mãe, com Joaquim Monchique, ou Deixem o Pimba em Paz, de Bruno Nogueira, ficou em primeiro lugar no concurso aberto pela Câmara de Lisboa.

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NUNO OLIVEIRA/ARQUIVO

A empresa Força de Produção, que tem na sua carteira espectáculos como Mais Respeito que Sou Tua Mãe ou Deixem o Pimba em Paz, vai ser a nova concessionária do Teatro Maria Matos, na sequência do procedimento aberto pela EGEAC tendo em vista a escolha de um novo projecto artístico para aquele equipamento.

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A empresa Força de Produção, que tem na sua carteira espectáculos como Mais Respeito que Sou Tua Mãe ou Deixem o Pimba em Paz, vai ser a nova concessionária do Teatro Maria Matos, na sequência do procedimento aberto pela EGEAC tendo em vista a escolha de um novo projecto artístico para aquele equipamento.

Das três estruturas que se candidataram à concessão deste espaço, que custará uma renda mensal de três mil euros, a Força de Produção ficou em primeiro lugar na seriação provisória disponibilizada esta tarde no site daquela empresa municipal responsável pela gestão de uma série de espaços culturais de Lisboa. Em segundo e terceiro lugar ficaram, respectivamente, as empresas Yellow Star e Meio Termo. Os candidatos têm agora cinco dias úteis para eventuais reclamações.

Após a homologação da decisão do júri presidido pela presidente da Fundação José Saramago, Pilar del Río, Pilar del Río, e composto ainda pelos vogais Joana Gomes Cardoso (presidente do conselho de administração da EGEAC), Natália Luiza (actriz e encenadora), Nuno Galopim (jornalista e radialista) e Jorge Louraço (dramaturgo e ex-crítico do PÚBLICO), a Força de Produção assegurará a gestão deste teatro lisboeta por um prazo de cinco anos, renováveis mediante a avaliação do projecto artístico.

Foi em Dezembro, numa entrevista ao PÚBLICO, que a vereadora da Cultura da Câmara de Lisboa, Catarina Vaz Pinto, anunciou a intenção de concessionar aquela sala a um privado, no âmbito de uma restruturação da rede de teatros municipais. A abertura do LU.CA – Teatro Luís de Camões, com um perfil fundamentalmente orientado para o público infanto-juvenil, e a nova vida do Teatro do Bairro Alto, que durante décadas foi a casa do Teatro da Cornucópia e deverá agora concentrar-se, sob a direcção de Francisco Frazão, numa programação aberta à criação experimental, emergente e internacional, são os outros eixos dessa restruturação. A decisão de concessionar o Maria Matos, que na altura se encontrava já sem direcção artística, após a saída de Mark Deputter para a Culturgest, foi bastante contestada, tendo motivado uma petição subscrita por mais de 2800 pessoas

As linhas orientadoras da concessão, aprovadas em reunião de câmara a 16 de Fevereiro, definem que os novos gestores do teatro terão como missão fazer dele um “pólo de forte atracção cultural”, capaz de “gerar uma dinâmica inovadora e de atrair públicos diversos”, através de uma programação “ancorada na diversidade de propostas pluridisciplinares para o grande público” que deverá abranger o “teatro nos seus vários géneros (drama, comédia, etc)” e privilegiar “espectáculos de média/longa duração”.

Chegar ao maior número

Uma passagem pela página da Força de Produção na Internet permite desenhar-lhe um perfil sumário a partir dos espectáculos que tem em carteira e dos artistas que representa. Especializada em teatro, mas também com actividade na área da música e do cinema, a empresa foi criada em 2015 por Sandra Faria, profissional com um percurso já vasto noutra empresa do ramo, a UAU, de que foi directora de produção e sócia.

Nos últimos três anos, lê-se no seu “BI” online, a empresa fez quase 1500 apresentações dos vários espectáculos que produziu, contando com 730 mil espectadores em todo o país e no estrangeiro (algumas das digressões passaram também pelos Brasil, pelos Estados Unidos e pelo Luxemburgo), uma aposta clara na “proximidade” a um público que quer vasto e diversificado: “A nossa missão é simples: criar conteúdos culturais e de entretenimento com paixão e convicção, estabelecer relações de proximidade e estimular a criatividade dos que trabalham connosco e, no caminho, tentar sempre chegar a um maior número possível de pessoas […]”.

Esta carta de intenções, assim como os artistas que agencia – entre eles alguns dos mais populares actores portugueses, como Alexandra Lencastre, Miguel Guilherme, Fernanda Serrano, Joaquim Monchique, José Pedro Gomes e Maria Rueff, e formações e músicos como os Clã e Filipe Melo –, parecem habilitar a Força de Produção a atingir os objectivos que a autarquia quer ver cumpridos pelo “novo” Maria Matos.

“Em relação ao Maria Matos, que tem tido várias vidas desde que foi construído, vamos começar um novo ciclo de programação e vocacioná-lo para teatro de qualidade para grande público – comédia, drama ou teatro musical”, dizia ao PÚBLICO em Dezembro a vereadora da Cultura, Catarina Vaz Pinto, esclarecendo em seguida que a sala junto à Avenida de Roma passará a ter um modelo de programação bastante diferente [do que tinha até aqui], com carreiras mais longas”, capazes de o rentabilizar.

“Carreiras mais longas” é o que já tem boa parte dos espectáculos da Força de Produção, quer em salas lisboetas como o Teatro Villaret e o Teatro Trindade, quer em digressões nacionais. São disso exemplo Mais Respeito que sou Tua Mãe, peça do argentino Hernán Casciari que tem Monchique no papel da protagonista, uma dona de casa desesperada chamada Esmeralda Bartolomeu; Deixem o Pimba em Paz, um concerto/espectáculo com direcção musical de Filipe Melo e Nuno Rafael, que junta em palco a vocalista dos Clã, Manuela Azevedo, e o comediante Bruno Nogueira, autor do conceito; A Pior Comédia do Mundo, peça de Michael Fryan com encenação de Fernando Gomes  e um naipe de actores que inclui Jorge Mourato, José Pedro Gomes, Paula Só e Samuel Alves; ou 40 e então?, com Ana Brito e Cunha, Fernanda Serrano e Maria Henrique.