As associações de jovens precisam de jovens
A alteração do regime jurídico do associativismo jovem, que o Governo aprovou em Conselho de Ministros, no princípio de Maio, só pode ser criticada por ser tardia ou tímida.
O que se passa no associativismo juvenil é uma excelente metáfora do país: há 54 presidentes de associações juvenis com mais de 60 anos e praticamente um terço dos líderes das associações tem mais de 41. Os jovens nem sequer lideram as associações que foram criadas em seu nome: a lei actual obriga a que 75 por cento dos associados tenham menos de 30 anos, para que seja considerada juvenil, mas não tem a mesma preocupação com os dirigentes. Em suma, ela tem de ser jovem na base da pirâmide, mas pode ser gerontocrática (e masculina) no topo. Por muito banal que se tenha tornado o discurso político e mediático acerca dos jovens, a verdade é que este não passa de uma mera intenção de marketing junto de um público-alvo de consumidores, e que eles continuam sub-representados socialmente, à excepção de profissões e de modalidades nas quais a juventude e aptidões físicas são predicados incontornáveis. Por um lado, continuam a ser imbecilizados e tratados com paternalismo, por outro, continuam a ser as principais vítimas de um mercado de trabalho que lhes nega qualquer vínculo estável e que os confina à trilogia do desemprego, precariedade e imigração.
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O que se passa no associativismo juvenil é uma excelente metáfora do país: há 54 presidentes de associações juvenis com mais de 60 anos e praticamente um terço dos líderes das associações tem mais de 41. Os jovens nem sequer lideram as associações que foram criadas em seu nome: a lei actual obriga a que 75 por cento dos associados tenham menos de 30 anos, para que seja considerada juvenil, mas não tem a mesma preocupação com os dirigentes. Em suma, ela tem de ser jovem na base da pirâmide, mas pode ser gerontocrática (e masculina) no topo. Por muito banal que se tenha tornado o discurso político e mediático acerca dos jovens, a verdade é que este não passa de uma mera intenção de marketing junto de um público-alvo de consumidores, e que eles continuam sub-representados socialmente, à excepção de profissões e de modalidades nas quais a juventude e aptidões físicas são predicados incontornáveis. Por um lado, continuam a ser imbecilizados e tratados com paternalismo, por outro, continuam a ser as principais vítimas de um mercado de trabalho que lhes nega qualquer vínculo estável e que os confina à trilogia do desemprego, precariedade e imigração.
Mas a questão também pode ser encarada por um outro prisma: o envelhecimento dos dirigentes e a forma como estes se foram apropriando das suas direcções. O registo das associações tornou-se obrigatório desde 2007 para que as mesmas pudessem receber uma fatia dos 5,6 milhões de euros que lhes são destinados. Resultado: mais de metade delas teve somente um presidente desde aí e, em média, cada associação teve dois presidentes no espaço de 12 anos. A eternização do costume, que chega a prolongar-se durante décadas, segundo os dados do Conselho Nacional de Juventude.
A alteração do regime jurídico do associativismo jovem, que o Governo aprovou em Conselho de Ministros, no princípio de Maio, só pode ser criticada por ser tardia ou tímida. Obrigar as associações juvenis a terem um presidente com 30 anos ou menos chega a ser ridiculamente redundante. O mesmo se pode dizer da simples subida de quota do número de jovens de 75 para 80 por cento. Foi preciso chegar aqui para acabar com uma farsa bem antiga. Mas uma outra questão ficou por tratar: só 31 por cento das lideranças são femininas. O associativismo juvenil não precisa só de jovens a liderá-lo. A igualdade de género não faz mal a ninguém.