Roquette quer desenvolver o segmento das cervejas artesanais e provocar uma revolução

O sabor que têm e o vasto leque de oportunidades que podem abrir ao negócio das cervejas artesanais são as duas razões que levaram o Esporão a comprar a marca e a empresa líder no segmento, a Sovina. Não para a aniquilar. Mas para crescer com ela.

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Foi durante uma prova com amigos, quando ainda estava muito longe de pensar que, três anos depois, estaria a discutir com a sua equipa de marketing e desenvolvimento de produto um plano de negócios para não só justificar o investimento, como para o rentabilizar – João Roquette começou a abrir garrafas de cerveja artesanais e, diz ele, deixou-se surpreender pela variedade, pelo sabor, pelas harmonizações que permitiam. Já estava habituado a fazê-lo com o vinho e com os azeites. Aprendeu a fazê-lo com a cerveja, e anda fascinado com o leque de sabores e possibilidades que ela lhe traz.

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Foi durante uma prova com amigos, quando ainda estava muito longe de pensar que, três anos depois, estaria a discutir com a sua equipa de marketing e desenvolvimento de produto um plano de negócios para não só justificar o investimento, como para o rentabilizar – João Roquette começou a abrir garrafas de cerveja artesanais e, diz ele, deixou-se surpreender pela variedade, pelo sabor, pelas harmonizações que permitiam. Já estava habituado a fazê-lo com o vinho e com os azeites. Aprendeu a fazê-lo com a cerveja, e anda fascinado com o leque de sabores e possibilidades que ela lhe traz.

A palavra “surpresa” saiu da boca do administrador do Esporão, a herdade alentejana produtora de vinho e azeite, quando convidou um grupo de jornalistas para visitar as instalações da Sovina, a incontestável líder de mercado no magro segmento das cervejas artesanais em Portugal, e que pertence ao Esporão há menos de quatro meses.

No fundo, Roquette quer fazer com a cerveja o que também conseguiu fazer com o azeite, antecipando um mercado com muito potencial de crescimento. Pensou se começaria do zero ou se se aproximava de quem estava no mercado. “A ideia de nos aproximarmos da Sovina começou logo ali, depois dessa prova. Avançar também para este segmento da cerveja tradicional faz todo o sentido numa empresa de raiz agrícola”, explicava então. “Não é um mero investimento financeiro de uma empresa como o Esporão, que tem já quase dez anos no mercado e se quer aproveitar do que os outros já tinham feito. Não. É, antes, aproveitar o que de bom tem cada uma destas empresas para, juntas, fazerem um caminho novo”, sintetiza João Roquette. 

O namoro com a Sovina começou naquele exacto momento, há três anos atrás. Mas a compra não se chegou a concretizar, e o Esporão ainda tentou fazer o seu próprio projecto, testando receitas, pensando em marcas, fazendo estudos de mercado. Voltou tudo para a gaveta – sendo que não há na empresa trabalho deitado fora. O namoro com a Sovina lá acabou em casamento – sem que ninguém divulgue quanto custou a boda. “Não vamos revelar valores porque a isso também estamos obrigados por compromissos contratuais. Mas foi uma operação que usou os multiplicadores normais neste tipo de negócio”, afirma o administrador do Esporão.

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O Esporão facturou 47 milhões de euros em 2017. A Sovina facturou 500 mil euros no mesmo ano. “Estamos a falar de um mercado que vale mil milhões de euros, e comprar algo que factura 500 mil euros pode ter sempre uma interpretação subjectiva. Mas se a visão estiver correcta, estamos a falar de uma oportunidade muito grande e que não é quantificável nesta altura. Também pode ser uma oportunidade que não estava lá, e nós termo-nos enganado. Mas também estamos cá para isso, para poder arriscar”, argumenta Roquette. O plano de negócios também já está traçado. “Diria que se daqui a anos este negócio das cervejas artesanais no Esporão não estiver a facturar dois milhões de euros ficamos aquém das expectativas. Mas se estivermos a facturar cinco milhões de euros, como eu, por exemplo, acho que é possível, isso quer dizer que multiplicamos o volume de negócios por dez!”, contabiliza João Roquette. Por enquanto a Sovina produz 100 mil litros por ano, e tem capacidade instalada para duplicar a produção. Assim o mercado o peça.

Mas já basta de falar de números, que, garante o investidor, não são o que mais move a empresa. João Roquette fala antes, entusiasmado, da missão que quer abraçar e que, garante, vai beneficiar todos: o desafio de fazer crescer em Portugal uma cultura da cerveja artesanal. “A construção dessa cultura é algo que nos entusiasma imenso. Porque já fizemos isso em outras áreas e porque nós próprios também estamos a descobri-la, a ver o potencial que ela tem”, afirma.

Essa foi uma das razões que levaram o Esporão a aproximar-se da Sovina: não só serem líderes de mercado, mas também pioneiros na divulgação dessa cultura, por venderem equipamentos e matéria-prima para os restantes cervejeiros, para quem quer fazer cerveja em casa ou montar um negócio em Portugal. “Obviamente agora vamos conseguir amplificá-la, com os meios de comunicação à nossa disposição, criar mais materiais, tornar tudo mais visível”, enuncia.

O Esporou já vende em 50 mercados, trabalha com uma distribuidora forte, tem ambição de criar centros de experiências onde é possível conhecer num único espaço as história que estão por detrás de cada um dos produtos que levam a sua marca: vinhos, azeites e, porque não, cervejas artesanais. “O Esporão tem condições únicas para fazer parte dessa revolução e conseguir desenvolver esta categoria”, sublinha Roquette, lembrando que nos Estados Unidos este mercado demorou 20 anos a construir-se. E em Portugal estamos a dar os primeiros passos. Não sabe se é um segmento de consumidores que vai retirar à cerveja tradicional (e industrializada), se vai trazer sacrifícios ao segmento do vinho, se serão consumidores que surgem apenas aqui, neste segmento. Com paciência, tenacidade e alguma criatividade vai começar a colocá-las nas prateleiras, também da grande distribuição, e a fazer mercado.

Depois poderá, finalmente, dar asas à vocação de empresa agrícola que lidera, e aumentar a incorporação nacional num negócio em que ela é quase inexistente. “Já há muita variedade de sabores e de receitas e ainda não estamos a falar de agricultura, de cereais plantados em sítios diferentes, de processos de maltagem. Há aqui um grande potencial para ser explorado”, afirma.

Não nos admiremos, portanto, se daqui a dois anos o Esporão estiver a plantar cereais no Alentejo para usar nas suas cervejas. Teremos todos a ganhar com isso.