Entre o mar e o campo está a Quatro Sóis
Uma anfitriã que nos faz sentir em casa, gatos, cães, uma piscina iluminada à noite, um óptimo pequeno-almoço, encontros inesperados e conversas boas – é assim a Quatro Sóis, uma casa de hóspedes na Ericeira.
A palavra Ericeira remete para mar, sol, praia e desportos radicais. Mas pode ser mais do que isso. Pode ser campo, sossego e silêncio só entrecortado pelo canto do galo, logo pela manhã. Pode ser vista de vale com o Convento de Mafra lá ao longe, à esquerda, e o Palácio da Pena, ainda mais ao longe, à direita. É esta a vista da casa de hóspedes Quatro Sóis.
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A palavra Ericeira remete para mar, sol, praia e desportos radicais. Mas pode ser mais do que isso. Pode ser campo, sossego e silêncio só entrecortado pelo canto do galo, logo pela manhã. Pode ser vista de vale com o Convento de Mafra lá ao longe, à esquerda, e o Palácio da Pena, ainda mais ao longe, à direita. É esta a vista da casa de hóspedes Quatro Sóis.
Foi em 2010 que Cristina Bento Franco restaurou a casa onde sempre viveu, desde criança. Aquela era uma verdadeira casa de família, onde cresceu com o avô, as tias, os irmãos e as empregadas domésticas. Depois, os mais velhos foram morrendo e os mais novos foram às suas vidas. Cristina cresceu, casou, teve os seus filhos e foi reinventando-se como forma de ir respondendo aos desafios que a vida lhe foi colocando, até que em 2013 decidiu abrir a sua casa ao público.
O nome surgiu não como homenagem a José Saramago e ao seu Memorial do Convento que serve de atracção turística – parte da acção passa-se naquela região e uma das personagens principais, Baltazar, tem a alcunha de Sete Sóis –, mas aos seus descendentes. “Tenho quatro filhos, são quatro sóis”, revela Cristina Bento Franco enquanto afaga os cães que lhe pedem festas e correm pelo jardim. Em tempos fez criação destes animais.
Além destes, há gatos que se passeiam pela propriedade como se fossem uns senhores, indiferentes a quem passa e a quem fica. Mas há mais. Perto da entrada, onde o carro pode ficar estacionado no parque privativo, já da parte de dentro dos portões, está uma pequena amostra de uma quinta pedagógica com os cabritos Charlie e Kitty que, mal nos aproximamos, pedem atenção; os pavões Duffy e Ally, que têm um espelho suspenso onde se revêem; e os galos e as galinhas que não são chamados pelos nomes, nem os têm pendurados numa tabuleta de madeira com as letras desenhadas a vermelho, como acontece com os outros animais.
É perto deste espaço que há uma rampa que nos leva até à piscina quadrada de seis metros, feita à medida, com as suas espreguiçadeiras e a sombra de um pinheiro – talvez a única árvore que ficou de antes das obras – onde está um balouço de madeira. É também ali que fica o espaço de churrasco da casa que pode ser usado pelos hóspedes.
Quando chegamos junto à piscina iluminada, os nossos olhos ficam indecisos entre a água e a paisagem nocturna. “Até que horas está o convento iluminado?”, perguntamos. “Não sei. A minha piscina está até à meia-noite!”, exclama a proprietária, fazendo-nos rir. E, de facto, àquela hora as luzes apagam-se, já o convento – a menos de dez quilómetros – mantém-se brilhante.
É aqui, junto à piscina que ficam alguns dos quartos da casa. Na verdade, é quase como se de uma casa autónoma se tratasse, já que quando se entra tem uma cozinha completa e uma sala de estar com um sofá de canto enorme. É naquela cozinha que os hóspedes podem preparar as suas refeições, caso queiram fazer umas compras. Cristina Bento Franco tem ainda chás e bolachas que podem ser usados à descrição e tem também algumas garrafas de vinho da região para vender. Além destas, “não há extras, está tudo incluído no preço: o pequeno-almoço, a limpeza diária, as toalhas para uso na piscina… está tudo incluído”, frisa a dona da casa.
Entre a cozinha e a sala nasce um corredor que vai dar a três quartos com paredes de pedra. Tudo na casa foi pensado para a comodidade dos hóspedes. Na decoração é o vermelho que domina: as toalhas e os lençóis brancos têm o nome da casa bordado dessa cor, assim como muitos apontamentos decorativos – pequenos candelabros, quadros, bibelots ou mesmo algumas cadeiras – são encarnados. Uma cor que chega ainda à sala de refeições, de volta à parte de cima da casa, onde a proprietária serve o pequeno-almoço. Ali há pratos e até uma torradeira vermelha, sem esquecer a mesa de snooker.
É no primeiro andar da casa, que aparenta ser térrea quando se entra pelo portão mas que é constituída por um rés-do-chão, primeiro andar e sótão, que ficam os outros quartos, paredes meias com o espaço que Cristina reservou para si e onde vive todo o ano.
Pequeno-almoço com companhia
A Quatro Sóis oferece um pequeno-almoço com pães diversos, bolo e doces caseiros, sumo de fruta e frutas frescas, além dos queijos, fiambres, cereais e iogurtes. Cristina faz questão de acordar cedo e de preparar tudo para os hóspedes, é ela quem os recebe logo de manhã e lhes dá os bons-dias. É ela quem os ajuda a decidir o que fazer com os seus dias. Afinal, não é por se estar perto da praia – o Seixal, onde fica a sua casa, está às portas da Ericeira – que os hóspedes procuram a Quatro Sóis, mas sim porque em pouco tempo se põem em qualquer parte da zona Oeste. Não parece, pois não se ouve o barulho dos carros a passar, mas a entrada para a A21 fica mesmo ali ao lado.
“Aconselho-os a irem a Mafra, visitar o convento; a Sintra – alerto-os que aquilo está um inferno [por causa do turismo] –; a Óbidos – que está pouco referenciado e que é uma surpresa para eles –; ou a Lisboa. Quem vem para a minha casa até pode fazer um dia de piscina ou ir à praia, mas vem para ver outras coisas, para ter outras experiências”, explica a proprietária.
O seu público é constituído essencialmente por casais entre os 30 e os 60 anos, que procuram um turismo mais cultural. À Quatro Sóis também chegam famílias mas com filhos adolescentes ou adultos com quem os pais não têm de partilhar o quarto.
A maioria dos hóspedes aproveita para ir jantar à Ericeira, aonde chega de carro em menos de cinco minutos. Também pode optar por ir a pé ou de bicicleta pois recentemente foi construída uma pista para esse efeito que passa mesmo à porta da Quatro Sóis, onde também fica uma paragem da carreira que leva os utentes da Ericeira a Mafra ou mesmo a Lisboa.
No livro de elogios que está sobre a mesa da sala estão palavras simpáticas em português, de Portugal e do Brasil, francês, alemão, inglês, há desenhos e até uma aguarela. Em comum, a maior parte das mensagens enunciam o nome da proprietária, tecendo-lhe sempre enormes elogios. Cristina Bento Franco ama a sua casa e está sempre a fazer melhoramentos, a comprar um móvel, um candeeiro ou um elemento decorativo. Por isso, não é de estranhar que quem volte uma segunda vez note algumas diferenças. “Ainda agora decapei uma secretária para pôr na entrada”, conta. “Tenho o bichinho das obras, não consigo ficar quieta. À medida que vou tendo dinheiro, faço uma obra, se não tiver uma obra para fazer fico deprimida, depois também fico porque já não tenho dinheiro!”, diz, dando uma forte gargalhada e mostrando os canteiros em tijoleira que se orgulha de ter feito.
Cristina Bento Franco confessa que gosta de conhecer pessoas e de as pôr em contacto. É assim que a Fugas fica a conhecer a ex-jornalista brasileira Letícia Coimbra, que em tempos foi hóspede na Quatro Sóis, e que, entretanto, comprou casa na Ericeira, onde passa temporadas com o marido, regressando sempre ao Rio de Janeiro, onde vivem os filhos, já adultos.
Comunicativa, Letícia conta como compraram casa e como Cristina os ajudou em tudo, até na montagem dos móveis. “Pareciam dois recém-casados”, brinca a amiga portuguesa. Sentados à mesa do pequeno-almoço, a ex-jornalista oferece à Fugas o livro que escreveu em 2013 e foi publicado um ano depois no Brasil. Chama-se Pedalando no Campo de Estrelas e relata a viagem que fez com o marido, o economista Ricardo Pereira, de bicicleta pela rota jacobea, de França até Santiago de Compostela.
A viagem aconteceu em 2003 mas, antes disso, o casal preparou-se física e mentalmente para percorrer mais de 700 quilómetros a pedalar. As bicicletas viajaram com eles do Brasil para Espanha e depois até França. Foi lá, em Saint Jean Pied de Port, que começaram o percurso que os levou por montes e vales e até pelo deserto.
Letícia e Ricardo conheceram boas e más pessoas. São as boas que os marcam e dão significado ao caminho. “Como é bom encontrar alguém que nos acolha com atenção, sem nenhum interesse que não seja ajudar”, comenta a autora, referindo que a bicicleta passou a ser o seu meio de transporte em férias, a visitar cidades pelo mundo, mas também outras rotas como a do Douro, que poderá dar origem a um novo livro.
Letícia Coimbra sabe que esta viagem, que teve como fonte de inspiração o livro de Paulo Coelho O Diário de um Mago – aliás, escreve que os brasileiros são dos principais povos a percorrer o caminho, em boa parte por causa daquele autor –, fez não só a diferença na sua vida, mas também na de outros que leram este seu diário onde a jornalista dá dicas desde a roupa a levar até ao percurso a fazer, além dos sítios onde comer ou dormir.
“Andar de bicicleta faz trabalhar uma série de coisas dentro de si. No fundo, é como a própria vida. Subir a montanha é um tempo de esforço que, depois, tem a compensação da descida, há sempre uma recompensa”, acredita.
Em casa de Cristina Bento Franco a recompensa pode ser encontrar pessoas interessantes, a começar pela proprietária, que nos prendem e com as quais aprendemos que é possível viver a vida de forma mais descontraída.
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O Fugas esteve hospedado a convite da Quatro Sóis Guest House