Recuperados corpos de três crianças, em naufrágio onde morreram mais de 100 pessoas
Há 16 sobreviventes. Motor de embarcação explodiu, provocando novo drama no Mediterrâneo, no dia em que os líderes da União Europeia chegaram dificilmente a um acordo difícil de aplicar sobre as migrações.
Foram recuperados os corpos de três crianças afogadas, mortas no naufrágio de um bote de borracha a cerca de seis quilómetros ao largo da costa da Líbia na sexta-feira em que seguiriam cerca de 120 pessoas, diz o jornal italiano Corriere della Sera. Dezasseis pessoas foram salvas e estão ao cuidado da Guarda Costeira líbia.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Foram recuperados os corpos de três crianças afogadas, mortas no naufrágio de um bote de borracha a cerca de seis quilómetros ao largo da costa da Líbia na sexta-feira em que seguiriam cerca de 120 pessoas, diz o jornal italiano Corriere della Sera. Dezasseis pessoas foram salvas e estão ao cuidado da Guarda Costeira líbia.
Pelo menos 100 pessoas estão desaparecidas depois do barco em que seguiam se ter afundado, possivelmente devido a uma explosão durante a viagem, de acordo com declarações de sobreviventes à agência de notícias AFP.
A CNN mostra imagens, chocantes, de três bebés resgatados sem vida. Há três crianças com menos de 12 anos desaparecidas.
"Havia demasiadas pessoas a bordo, e deslizaram para trás, quando se abriram brechas na parte anterior da embarcação" e "o motor pegou fogo", relatou um membro do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados no Twitter, citando o testemunho de um sobrevivente.
O ministro italiano do Interior, Matteo Salvini, fechou os portos italianos à embarcações de organizações não governamentais que ainda estão no Mediterrâneo a socorrer os imigrantes que naufragam. O mesmo fez Malta.
Os relatos de mais um drama no Mediterrâneo surgirem no dia em que a União Europeia chegou a acordo sobre esta matéria.
O documento final prevê a criação de plataformas de desembarque regionais fora da UE — basicamente ao longo da costa Norte africana, de onde saem os barcos repletos de migrantes que naufragam no Mediterrâneo — e também a instalação de novos “centros controlados” onde será feita a triagem de refugiados e migrantes. A ideia será multiplicar os actuais hotspots que existem na Grécia e na Itália por outros países.
Mas o próprio presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, considerou ser “muito cedo para falar de sucesso” e alertou para complicações futuras, quando chegar a altura de aplicar o acordo no terreno. Os países têm de estar disponíveis para acolher esses hotspots, por exemplo, e nenhum manifestou grande entusiasmo nisso.
Essa foi também a análise do primeiro-ministro português António Costa, para quem o “aparente consenso expresso no documento final não disfarça as divisões profundas que ameaçam a União Europeia, em matéria de valores e em matéria de migrações”.
Um dos sobreviventes resgatados pela guarda costeira líbia, o iemenita Amri Swileh, relatou o pesadelo vivido nesta sexta-feira durante o naufrágio: "Quem salvar primeiro, mães ou filhos? No final eu escolhi salvar a minha vida"!, disse, numa citação da AFP.
O relato de outro sobrevivente, Gambian, de 32 anos, refere que as pessoas tentaram convencer o capitão a voltar à Líbia, mas, entretanto, o motor da embarcação explodiu.
Os tripulantes de um barco de apoio humanitário espanhol a operar as águas do Mediterrâneo afirmam que as autoridades italianas lhes comunicaram para não reagir aos pedidos de socorro de uma embarcação que levaria a bordo migrantes, deixando a operação de salvamento nas mãos da guarda costeira da Líbia.
A denúncia é feita pela ONG espanhola Proactiva Open Arms. Citado pelo Guardian, Ricardo Canardo, responsável pela missão no Mediterrâneo desta ONG, afirma que pelas 8h desta sexta-feira a sua equipa interceptou comunicações entre autoridades militares europeias e a guarda costeira líbia que davam conta de um barco em dificuldades que teria pelo menos 100 pessoas a bordo.
Contudo, quando a ONG contactou Itália disponibilizando-se para entrar em acção, as autoridades italianas declinaram argumentando que a situação estaria já sob controlo da guarda costeira líbia. Pouco tempo depois a missão da Proactiva Open Arms recebia a informação de que havia uma situação de mais de cem migrantes desaparecidos e um número indeterminado de mortos precisamente na mesma área do Mediterrâneo. “Suspeitamos que se trate do mesmo barco”, alerta Canard citado pelo Guardian.
Informações da guarda costeira líbia referem ter trazido de volta a terra mais de 300 migrantes, de pelo menos dois outros barcos migrantes.
A chegada de migrantes diminui desde Julho do ano passado, porque as redes de contrabando começaram a ser interceptadas pela guarda costeira da Líbia, em resposta à forte pressão italiana. Desde 2014, e atravessando o Mediterrâneo, já chegaram à Europa mais de 650.000.