Aos 140 anos, a Ponte Eiffel é candidata a monumento nacional
Câmara de Viana apresenta o projecto de classificação neste sábado, nas comemorações do 140.º aniversário desta obra do famoso engenheiro francês.
O último quartel do século XIX garantiu a Viana do Castelo uma nova travessia em ferro sobre o estuário do Lima, projectada pela mão de Gustave Eiffel. Depois de a sua empresa ter construído a ponte D. Maria Pia, sobre o Douro, inaugurada em 04 de Novembro de 1877, e as passagens sobre o Cávado e o Neiva, o engenheiro francês garantiu a extensão da Linha do Minho até Caminha com uma ponte com 645 metros de extensão, onde o ferro sobressai, e que carrega, ainda hoje, o seu nome.
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O último quartel do século XIX garantiu a Viana do Castelo uma nova travessia em ferro sobre o estuário do Lima, projectada pela mão de Gustave Eiffel. Depois de a sua empresa ter construído a ponte D. Maria Pia, sobre o Douro, inaugurada em 04 de Novembro de 1877, e as passagens sobre o Cávado e o Neiva, o engenheiro francês garantiu a extensão da Linha do Minho até Caminha com uma ponte com 645 metros de extensão, onde o ferro sobressai, e que carrega, ainda hoje, o seu nome.
Para assinalar, neste sábado, os 140 anos da inauguração da Ponte Eiffel, a autarquia de Viana do Castelo vai apresentar a candidatura da estrutura rodo-ferroviária a monumento nacional, numa cerimónia marcada para o Teatro Municipal Sá de Miranda, que vai contar, por exemplo, com as presenças do Ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, do embaixador de França em Portugal, Jean-Michel Casa, e de dois descendentes do engenheiro - Savin Yeatman-Eiffel e Fleur Larnaudie-Eiffel.
Para o presidente da Câmara, José Maria Costa, a ponte é “um exemplar único de arqueologia industrial”, que, à data da sua abertura, constituiu mais um passo para o estabelecimento da ligação ferroviária entre o Norte de Portugal e a Galiza que concretizou-se em 1886, com a travessia entre Valença e Tui. A aproximação ao Porto e a Espanha, acrescenta, permitiu a Viana dar um “salto qualitativo” a nível económico.
Mas a Ponte Eiffel não facilitou apenas a circulação de pessoas e de mercadorias no noroeste da Península Ibérica. É também uma “obra notável” do “ponto de vista tecnológico e até estético”, afirma ao PÚBLICO o historiador José Manuel Lopes Cordeiro, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho. O especialista em arqueologia industrial vê a candidatura a monumento nacional com naturalidade e sublinha que a estrutura, apesar de não ter a “mesma publicidade” que a Ponte D. Maria Pia, monumento nacional desde 1982, está cada vez mais a ser olhada por especialistas como uma “magnífica obra de engenharia”.
Esse reconhecimento, explica, tem origem na solução técnica encontrada por Eiffel para construir uma travessia simultaneamente ferroviária e rodoviária que resolveu “satisfatoriamente todos os problemas até hoje” associados a um “rio relativamente largo”, pouco antes de desaguar no Atlântico. O historiador sugere até que o “desafio de construir uma ponte tão extensa, com função dupla” levou Eiffel a projectar a estrutura de Viana, ao contrário do que aconteceu com a Ponte D. Maria Pia, desenhada por Theóphile Seyrig - na altura seu sócio - com 353 metros de extensão.
Lopes Cordeiro alega também que o impacto da ponte foi, à época, mais evidente a nível tecnológico do que a nível social e urbanístico, já que a região do Alto Minho manteve a ruralidade até praticamente meados do século XX. “Como prevalecia essa estrutura socioeconómica, os efeitos da ponte eram atenuados, por mais tráfego que ela tivesse”, observa.
A ponte acabou por se tornar num marco da travessia sobre o Lima, assunto explorado no livro A travessia do Rio Lima em Viana do Castelo nos 140 anos da Ponte Eiffel, de Rui Viana, que será apresentado nas comemorações deste sábado. O PÚBLICO acedeu à obra, na qual se relata que, até à construção da ponte em ferro, só foi possível atravessar o rio de barco, até ao início do século XIX, e por uma ponte de madeira, desde 1819 até 16 de Fevereiro de 1880, quando, já degradada, esta foi derrubada pela cheia do rio.
Ponte preparada para modernização da Linha do Minho
A efeméride da Ponte Eiffel coincide com a modernização e de electrificação da Linha do Minho, obra com um custo de cerca de 160 milhões de euros, que inclui financiamento comunitário e já está em curso no troço entre Nine e Viana do Castelo, mas ainda não arrancou entre Viana e Valença, apesar de os “trabalhos estarem prestes a começar”, diz José Maria Costa.
O presidente da Câmara de Viana do Castelo afirma que a intervenção vai reduzir em cerca de meia hora o tempo de viagem entre Porto e Vigo, graças à “consolidação de alguns túneis e à duplicação da linha em vários trechos do percurso”, e tornar as carruagens mais confortáveis, mas que nenhuma das obras previstas se destina à ponte centenária. Intervencionada por mais de uma dezena de vezes desde a sua inauguração, a última das quais em 2016, nas rampas de acesso à plataforma sobre o Lima, a estrutura já tem “dimensão suficiente para absorver a electrificação”, explica o autarca.