Com a sua arte "excessiva e barroca", Joana Vasconcelos "podia bem ser espanhola"

No primeiro dia de I’m Your Mirror, a antológica de Joana Vasconcelos no Guggenheim de Bilbau, as salas encheram-se para ver as obras de uma artista cada vez mais universal.

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Muita gente no átrio, e nas escadarias do museu Guggenheim de Bilbau, de telemóvel na mão a fotografar a peça monumental Egeria. As diversas salas, com as esculturas e instalações que compõem a exposição I’m Your Mirror de Joana Vasconcelos, que se inaugurou esta sexta-feira em Espanha, também estão repletas de público.

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Muita gente no átrio, e nas escadarias do museu Guggenheim de Bilbau, de telemóvel na mão a fotografar a peça monumental Egeria. As diversas salas, com as esculturas e instalações que compõem a exposição I’m Your Mirror de Joana Vasconcelos, que se inaugurou esta sexta-feira em Espanha, também estão repletas de público.

Na quinta-feira à noite, antes de o cantor Paulo Bragança dar um pequeno concerto, o ministro da cultura Luís Filipe Castro Mendes esteve presente na inauguração só para convidados, salientando que a exposição é não só um momento muito relevante no percurso da artista, como é “também importante para a internacionalização da nossa arte e dos nossos artistas.” A mostra antológica, que estará patente no Guggenheim espanhol até 11 de Novembro, circulará depois para outras paragens, como Serralves, no Porto, e a cidade holandesa de Roterdão.

A única diferença será que, pela sua dimensão, a valquíria Egeria não deverá seguir viagem, sendo substituída por uma instalação menor. A peça de grandes dimensões é uma das grandes atracções da exposição, mais que não seja pela sua omnipresença, ocupando na vertical parte significativa do edifício concebido pelo arquitecto Frank Gehry. “Entra-nos pelos olhos adentro, é impossível escapar-lhe”, dir-nos-á Amélia Travasso do Porto, que aproveitando um fim-de-semana prolongado na região de La Rioja, se deslocou ao Guggenheim. “É muito curioso ver como as pessoas se relacionam aqui com referências tão portuguesas como o artesanato, o fado, Fátima ou o galo de Barcelos que está lá fora”, reflecte ela, dizendo que também gostou muito da escultura Solitário, um anel de noivado metalizado que se encontra no exterior do museu.

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LUIS VASCONCELOS / CORTESIA UNIDADE INFINITA PROJECTOS

Lá dentro, nas salas, gente dos sete aos setenta anos deambula, tentando tirar fotos a esculturas como A noiva, Marilyn e principalmente a nova máscara  I’ll Be Your Mirror, sendo de imediato repreendidos pelos seguranças. Os espanhóis predominam, mas também se ouve falar muito português e inglês. É o caso do americano Chris Thompson, que se tinha deslocado ao museu para ver uma selecção de obras de Marc Chagall e foi surpreendido pela “espectacularidade” das obras de Joana Vasconcelos, “de que já tinha ouvido falar, mas não conhecia bem.”

Está a utilizar um sistema de guia de áudio, com phones nos ouvidos, porque ficou “impressionado com algumas peças” e desejou saber mais, destacando Ponto de Encontro (2000), uma peça interactiva que permite que os visitantes se sentem numa série de cadeiras de metal cromado, dispostas em círculo, podendo girar e andar à roda. “Trabalho para uma instituição americana em Madrid e passo o tempo em reuniões, por isso sei o potencial que uma peça divertida como esta poderia ter num desses encontros em que toda a gente está com ar sério “, ri-se ele, destacando também a escultura que está na sala ao lado,  Call Center, com telefones analógicos a criarem a configuração de uma pistola. “Gosto da forma como integra esses materiais de utilização vulgar, como estes telefones, ou os tampões e os ferros de engomar noutras peças.”

Um dos trabalhos mais curiosos em exposição é uma instalação vídeo, que testemunha uma viagem da artista a Fátima, uma espécie de road movie num pequeno motociclo, que acaba por constituir uma reflexão sobre o convívio entre a espiritualidade religiosa e o materialismo consumista. Quando entramos na pequena sala onde passa o filme, meia dúzia de espanhóis olham absortos para as imagens e uma delas, Melisa Méndiz, diz reconhecer ali semelhanças com os caminhos de Santiago.

“Há aliás muitas referências religiosas e sexuais, e as imagens são muito femininas, excessivas e barrocas. Ela é portuguesa, mas podia bem ser espanhola”, ri-se ela. “Os espanhóis vão gostar de ver o que está aqui.”

No Guggenheim estão expostas uma trintena de obras de Joana Vasconcelos, naquela que é a primeira antológica em Espanha da artista portuguesa, que nos últimos anos se tem convertido “numa celebridade internacional do mundo da arte”, como destacava o jornal espanhol El País desta sexta-feira, graças às enormes instalações, irónicas, divertidas, femininas, por vezes politizadas, com qualquer coisa de português, de espanhol, de universal.

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LUIS VASCONCELOS / CORTESIA UNIDADE INFINITA PROJECTOS