Merkel avisa que Europa perde a alma com a política do "cada um por si"
Antes da cimeira europeia, a chanceler alemã falou em Berlim sobre os riscos e desafios da política para a migração.
A chanceler alemã, Angela Merkel, considerou nesta segunda-feira que o destino da Europa está em jogo com a questão da migração, antes do Conselho Europeu da União Europeia (UE) sobre o assunto que se adivinha difícil.
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A chanceler alemã, Angela Merkel, considerou nesta segunda-feira que o destino da Europa está em jogo com a questão da migração, antes do Conselho Europeu da União Europeia (UE) sobre o assunto que se adivinha difícil.
"A Europa tem muitos desafios, mas a questão da migração pode decidir o destino da União Europeia", disse Merkel no Bundestag (parlamento alemão), pedindo soluções multilaterais, e não unilaterais, por parte dos Estados-membros.
A chanceler, que está sob intensa pressão política interna relativamente a este assunto, alertou para o risco de a Europa perder a alma se tiver de optar apenas pela segurança e pela política do "cada um por si" na questão da política de imigração e asilo.
"Ou encontramos uma solução para que, em África e não só, as pessoas sintam que somos guiados por valores e que defendemos o multilateralismo e não o unilateralismo, ou ninguém acreditará nos nossos valores, que nos tornaram tão fortes", disse Merkel.
"Há muito em jogo", acrescentou, sobre a questão da migração, que causou tensão entre as capitais europeias, ilustradas nas últimas semanas por confrontos diplomáticos em torno dos barcos das organizações não-governamentais que transportam migrantes e que Itália recusou receber.
Merkel pediu a criação de uma "coligação de voluntários" entre os 28 países da UE para concluir acordos que permitam o retorno dos migrantes ao primeiro país onde foram registados.
"Quem chega à Europa não pode escolher o país em que quer ter asilo", disse a chanceler. "Em segundo lugar, não podemos deixar os países onde os requerentes de asilo chegam lidar com [o problema] sozinhos."
"Certamente não é uma solução perfeita, mas é um começo" para controlar os movimentos de requerentes de asilo dentro da UE, disse.
Resta saber se esta solução será suficiente para pôr fim à polémica interna sobre a questão na Alemanha.
A ala direita do Governo de coligação exige que medidas concretas sobre o assunto sejam decididas na cimeira que se realiza hoje e sexta-feira em Bruxelas. Caso contrário, o ministro do Interior, Horst Seehofer, presidente dos conservadores bávaros da CSU (partido-gémeo da CDU de Merkel que só existe na Baviera), ameaça unilateralmente afastar a partir da próxima semana imigrantes já registados noutros Estados-membros da UE. Merkel é contra qualquer medida unilateral da Alemanha como esta.
Se o ministro do Interior agir contra a opinião da chanceler, ela não terá outra opção que não demiti-lo. No limite, isso poderá poderá provocar o fim da coligação governamental e levar mesmo a novas eleições. Esta semana, apesar de não haver acordo em vista entre Merkel e Seehofer, o ministro disse que ninguém quer o fim da coligação.