Sinkovsky, um “bicho” de palco
A grande atracção do FIME era o multi-facetado artista russo Dmitry Sinkovsky, que o numeroso público presente não se cansou de aplaudir de pé.
O Festival Internacional de Música de Espinho (FIME) regressou na passada sexta-feira, com casa cheia para a abertura da sua 44.ª edição.
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O Festival Internacional de Música de Espinho (FIME) regressou na passada sexta-feira, com casa cheia para a abertura da sua 44.ª edição.
A grande atracção era o multi-facetado artista russo Dmitry Sinkovsky, que o numeroso público presente não se cansou de aplaudir de pé, conquistando assim a repetição do terceiro andamento do “Verão” d’As quatro estações de Vivaldi e, como extra, uma ária de Rodelinda, de Handel.
Esse entusiasmo é mais do que justificável, pois Dmitry Sinkovsky afirmou-se como um verdadeiro “bicho de palco” (qual estrela rock), não economizando na sua generosa e contagiante energia. As opções que fez à frente do agrupamento La Voce Strumentale (que fundou em 2011), na interpretação d’As quatro estações, mostraram bem de que matéria é feito, na forma corajosa– arriscada, mesmo – e plena de liberdade como encara a música, revelando que tem algo diferente a comunicar, mesmo numa partitura tão sobejamente divulgada como aquela de que partiu.
Inclusivamente para quem ande atento à discografia e tenha prestado atenção ao álbum que gravou em 2014 para a Naïve, o concerto mostrou-se algo bem mais além, com uma ainda mais invejável (e inventiva) paleta tímbrica, mais contraste e surpresa, numa interpretação quase sem limites, que fez o público render-se à determinação de Sinkosvky. Se algumas das suas opções (nomeadamente a nível da improvisação melódica) poderão ser de um gosto um pouquinho mais discutível, a verdade é que o violinista e maestro deu a entender que, mais do que demonstração de perfeição técnica e de maturada interpretação, encara o concerto como uma festa única em que, sem quaisquer reservas, exibe uma imensa alegria na varietas.
Foi igualmente confiante que, apesar de algumas debilidades, ao vivo mais evidentes, Sinkovsky se apresentou como contratenor na cantata Cessate, omai cessate, do mesmo compositor veneziano. O intervalo que realizou enquanto, na sua ausência, o agrupamento interpretava (menos efusivamente) o Concerto para alaúde em Ré Maior, com Luca Pianca no papel de solista, não foi o suficiente para recuperar do furor d’As quatro estações. Mas esse desgaste só foi perceptível numa certa heterogeneidade vocal, sobretudo a nível do registo grave. Em termos expressivos, Sinkovsky não traíu a expectativa deixada enquanto violinista, apresentando-se ao nível de muitas das mais aclamadas vozes da música antiga.