Curtas Vila do Conde de ambos os lados das fronteiras
Cinema português estará em força na 26.ª edição do festival que vai decorrer de 14 a 22 de Julho. Mas que vai dar ecrã e palco, expressão e espaço ao estado do mundo actual.
Já sabíamos que caberá a uma co-produção luso-franco-brasileira, Diamantino, a abertura oficial da 26.ª edição do Curtas Vila do Conde; que o alinhamento dos cinco filmes-concerto do programa Stereo conta com os Black Bombain, Linda Martini e B Fachada, e que o festival iria dar carta-branca ao francês Yann Gonzalez e pôr In Focus o israelita Nadav Lapid, tudo, com maior ou menor reincidência, gente muito lá de casa do historicamente mais relevante festival de curta-metragem do país.
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Já sabíamos que caberá a uma co-produção luso-franco-brasileira, Diamantino, a abertura oficial da 26.ª edição do Curtas Vila do Conde; que o alinhamento dos cinco filmes-concerto do programa Stereo conta com os Black Bombain, Linda Martini e B Fachada, e que o festival iria dar carta-branca ao francês Yann Gonzalez e pôr In Focus o israelita Nadav Lapid, tudo, com maior ou menor reincidência, gente muito lá de casa do historicamente mais relevante festival de curta-metragem do país.
Esta terça-feira ficámos a conhecer a vastidão do programa em detalhe, com a habitual conferência de imprensa de apresentação realizada no Teatro Municipal de Vila do Conde, casa principal do certame que este ano vai decorrer de 14 a 22 de Julho.
Em dias marcados pelo Mundial de futebol, o chamado desporto-rei – que terá inclusivamente motivado o deslocamento de uma semana nas datas habituais do festival – não vai deixar de estar no principal ecrã do Curtas, com Diamantino, que valeu a Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt um prémio na Semana da Crítica de Cannes, inspirado pela figura de Cristiano Ronaldo mas também pelo romancista David Foster Wallace. O filme terá a sua estreia portuguesa no sábado, dia 14, às 18h00, abrindo a secção Da Curta à Longa, mas também um programa que, distribuído por diferentes secções, se apresentará como “um barómetro do estado cinematográfico do país”, como referiu Miguel Dias, um dos membros do quarteto que dirige o festival.
Na Competição Nacional, de resto, e dividida por cinco sessões, vão ser exibidos 17 filmes, onde se cruzam Onde o Verão Vai, que David Pinheiro Vicente levou a Berlim este ano, com novos títulos de Ivo Ferreira, Rodrigo Areias, João Viana, João Vladimiro ou Marco Amaral – todos estes filmes “em estreia nacional e a maior parte mesmo em estreia mundial”, acrescentou Dias, relevando o regresso em força do género animação.
Regressam aqui as duplas de animadores David Doutel/Vasco Sá (Fuligem, prémio do público e melhor realização em 2014) com Agouro, e Alice Eça Guimarães/Mónica Santos (Amélia & Duarte, prémio do público em 2015), com Entre Sombras. Ivo Ferreira, depois de Cartas da Guerra e antes de Hotel Império e da série Sul, mostra Equinócio, com Adriano Luz e Margarida Vila-Nova; um outro cineasta da longa, João Vladimiro (cujo Lacrau venceu o IndieLisboa), estreia também a concurso uma nova curta, Anteu, ao passo que a actriz Ana Moreira se aventura na realização com Aquaparque. Rodrigo Areias (Corrente) traz a ficção Pixel Frio, Eduardo Brito (Penúmbria) exibe a segunda curta em nome próprio, Declive, e João Viana mostra Madness, a curta-gémea da longa Our Madness com que venceu o IndieLisboa há poucos meses; Madness teve estreia em Berlim, onde também estreou Onde o Verão Vai, o filme de fim de curso de David Pinheiro Vicente.
A completar o panorama do cinema nacional teremos ainda três outras produções, já mostradas noutros festivais portugueses: Russa, de João Salaviza e Ricardo Alves Jr.; Anjo, de Miguel Nunes; e o documentário Os Mortos, de Gonçalo Robalo.
Já a Competição Internacional – que Mário Micaelo apresentou como a secção de referência do festival “e uma das melhores competições do género” – vai ter 31 filmes de 24 países distribuídos por nove sessões abrindo uma janela para o mundo actual e abordando temas como as questões de género, a situação da mulher e fenómenos de emergência social. Aqui veremos, entre muitos outros, novos títulos do brasileiro João Paulo Miranda Maria (Meninas Formicida) e de nomes recorrentes no festival como a dupla Ben Rivers/Ben Russell (The Rare Event) ou o transgressivo francês Bertrand Mandico (Ultra Pulpe).
Israel e Espanha em foco
Num programa que apresenta como título programático “um festival dentro e fora de fronteiras”, é neste quadro de abertura a expressões transfronteiriças que se situa também o foco dado, este ano, ao cineasta israelita Nadav Lapid, autor de O Polícia e The Kindergarten Teacher e vencedor do festival em 2016 com From the Diary of a Wedding Photographer.
Presente em Vila do Conde – onde, de resto, integrará o júri internacional –, Lapid irá acompanhar a mostra das duas primeiras longa-metragens atrás citadas e também das curtas e média Why?, Ammunition Hill e Emile’s Girlfriend – “filmes que são profundamente contemporâneos, vivem numa sociedade líquida que nos impõe identidades que estão em constante transformação”, nota a direcção do festival.
Destaque ainda, noutras das secções (e espaços) que ajudaram a fazer o reconhecimento internacional do Curtas Vila do Conde – a Solar, Galeria de Arte Cinemática –, o programa New Spain, uma exposição a abordar ainda o tema das fronteiras, sejam elas materiais ou geopolíticas. São seis obras criadas por sete artistas do país vizinho, e comissariadas por Nuno Rodrigues (Curtas) e por José Manuel Lopez (colaborador do Museu de Arte Contemporânea de Vigo e do Centro Galego de Arte Contemporânea, em Santiago de Compostela), que se expressam em instalações site-specific, filme, vídeo e fotografia, interrogando sobre “que Nova Espanha é esta que toma o título de empréstimo ao reinado de um antigo império colonial?”.