Bruno de Carvalho, de "traído e ferido" a pronto para a "guerra"
No dia em que a Comissão de Gestão do Sporting anunciou Sousa Cintra como presidente da SAD, o presidente destituído na AG disse que vai impugnar a vontade dos sócios e que vai recandidatar-se em Setembro.
Depois de ter dito que não ia à Assembleia Geral e ter aparecido à última hora (e de ter votado nessa AG quando disse que não o faria), Bruno de Carvalho voltou neste domingo a ser coerente com o seu histórico de voltar atrás nas decisões. Menos de um dia depois de ter sido destituído pelos sócios nessa AG e poucas horas após ter garantido que iria deixar de ser sócio e adepto do Sporting, Bruno de Carvalho anunciou a dupla intenção de, “como sócio”, impugnar a AG e de se recandidatar à presidência do clube nas eleições de 8 de Setembro. Esta mudança de rumo aconteceu, admitiu o próprio, após uma conferência de imprensa da Comissão de Gestão (CG) em que foi anunciado o nome de José Sousa Cintra, antigo presidente do clube, como presidente da Sociedade Anónima Desportiva (SAD) “leonina”.
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Depois de ter dito que não ia à Assembleia Geral e ter aparecido à última hora (e de ter votado nessa AG quando disse que não o faria), Bruno de Carvalho voltou neste domingo a ser coerente com o seu histórico de voltar atrás nas decisões. Menos de um dia depois de ter sido destituído pelos sócios nessa AG e poucas horas após ter garantido que iria deixar de ser sócio e adepto do Sporting, Bruno de Carvalho anunciou a dupla intenção de, “como sócio”, impugnar a AG e de se recandidatar à presidência do clube nas eleições de 8 de Setembro. Esta mudança de rumo aconteceu, admitiu o próprio, após uma conferência de imprensa da Comissão de Gestão (CG) em que foi anunciado o nome de José Sousa Cintra, antigo presidente do clube, como presidente da Sociedade Anónima Desportiva (SAD) “leonina”.
Para ambos os desejos do presidente destituído, a questão é a mesma: como irá fazê-lo? Bruno de Carvalho reclama a sua condição de sócio do Sporting para querer impugnar o resultado da AG e recandidatar-se à presidência, mas há um processo disciplinar contra si em curso, movido pela Mesa da Assembleia Geral (MAG), liderada por Jaime Marta Soares, que o suspendeu das funções de presidente e que pode resultar na sua expulsão de sócio. E Bruno de Carvalho chegou a invocar essa suspensão como argumento para não marcar presença na AG, algo que levantou dúvidas sobre a validade do seu voto nessa reunião magna.
Mais: como notava neste domingo Miguel Poiares Maduro, um dos argumentos de Bruno de Carvalho para contestar a legitimidade da MAG de Marta Soares era de questionar a sua manutenção em funções, porque este órgão social se tinha demitido em bloco através de uma comunicação pública. Após terminar a assembleia em que foi votada a sua destituição, Bruno de Carvalho publicou uma mensagem no Facebook durante a madrugada em que renunciava à condição de sócio e adepto dos “leões” por causa de uma AG ue considerava ser uma “golpada”. “A minha carta de suspensão vitalícia segue segunda-feira [hoje] e nunca mais seguirei sequer os eventos desportivos do clube”, escreveu.
Sejam quais forem os argumentos jurídicos que sustentam a declaração de intenções de Bruno de Carvalho (e, sendo válidos, podem ter consequências na actividade da CG), a verdade é que o presidente destituído está disposto a ir para o que considera ser uma “guerra”. “Querem guerra, eu compro! Vou impugnar a AG e o presidente da SAD ainda sou eu! Vou a eleições. Vamos ver quem vence”, escreveu já ao final do dia, justificando depois ter voltado atrás por amor ao Sporting.
“Bem sei o que disse amargurado, traído, ferido, que não queria ser mais adepto nem sócio, mas NÃO consigo [.] Fico com o ordenado congelado, sem receber nada, mas vou à luta pelos milhares que não querem mais Viscondes ou aqueles que querem assaltar o Sporting”, escreveu ainda Bruno de Carvalho, enviando um recado aos “tipos da putativa comissão disciplinar” no caso de o quererem expulsar de sócio: “Dia 30 encontramo-nos na AG pois tenho direitos [de] que não vou abdicar.”
Regressa Sousa Cintra
Sendo o presidente destituído candidato anunciado, as eleições de 8 de Setembro começam a ficar concorridas. Frederico Varandas, antigo director-clínico do Sporting, vai lançar a sua candidatura já na terça-feira, sendo que Dionísio Castro, antigo atleta do clube, também já manifestou a sua intenção de concorrer, falando-se ainda de José Maria Ricciardi, antigo presidente do BES Investimento, e do advogado Rogério Alves.
O que conduziu ao volte-face de Bruno de Carvalho? Segundo o próprio, foi a conferência de imprensa da Comissão de Gestão realizada neste domingo e que terminou pouco depois da 19h. Menos de uma hora depois, Bruno de Carvalho anunciava a sua decisão porque o órgão liderado por Artur Torres Pereira tinha anunciado José Sousa Cintra, presidente do clube entre 1989 e 1995, como o representante do Sporting na SAD, sociedade da qual o clube é o maior accionista. Bruno de Carvalho chamou-lhe “o homem do tremoço” na mensagem que publicou. O PÚBLICO tentou contactar vários membros da CG, mas não obteve resposta.
Antes da segunda mensagem de Bruno de Carvalho, a CG anunciou algumas ideias fortes do seu mandato de pouco mais de dois meses à frente do clube até às eleições de 8 de Setembro. Em conferência de imprensa realizada longe de Alvalade (onde ocorreria o quinto jogo da final do campeonato de futsal,) e num espaço que é propriedade de José Eduardo, Artur Torres Pereira anunciou que nenhum dos membros da comissão irá fazer parte de listas candidatas em futuras eleições ou será remunerado durante estes meses, revelando ainda que irá ser realizada uma auditoria forense às contas do clube e da SAD. “Os verdadeiros donos, os sócios, têm de ter conhecimento da situação do seu clube do coração”, reforçou.
Mas o prato forte da conferência de imprensa era a apresentação de Sousa Cintra como presidente da SAD, em substituição de Bruno de Carvalho, um regresso ao clube 23 anos depois de ter deixado a presidência. Como líder da sociedade, o empresário algarvio, de 74 anos, irá ter nas mãos a gestão do futebol profissional, mas pouco adiantou sobre o que irá fazer, em termos de composição do plantel ou no que diz respeito à manutenção do treinador Sinisa Mihajlovic, anunciado no início da semana por Bruno de Carvalho, com um contrato de três anos. E também não revelou o que irá fazer em relação aos nove jogadores que invocaram justa causa para rescindirem unilateralmente os contratos.
“O Sporting vai voltar à normalidade. Sobre os jogadores é prematuro falar. Só depois de conhecer as coisas é que posso falar. O tempo é curto, mas podem ter a certeza de que vamos resolver os problemas todos. A vontade é grande e o Sporting vai ter uma equipa fortíssima”, garantiu o antigo líder “leonino”, com o entusiasmo que o caracteriza. Sobre o futuro do técnico sérvio, a resposta foi nos mesmos moldes: “É compreensível que perguntem, mas hoje é só dar uma palavra de esperança.”
“Vamos lutar para sermos campeões. Tenham a maior esperança de que o Sporting irá lutar para ser campeão. Quando cheguei ao Sporting [em 1989], também estava numa situação difícil, mas consegui honrar os compromissos e tínhamos a equipa mais forte de Portugal”, relembrou Sousa Cintra, que, há 29 anos, assumira o clube após uma curta e turbulenta presidência de Jorge Gonçalves — apesar de sucesso em várias áreas, Sousa Cintra não conseguiu qualquer título de campeão no futebol.
Sobre o aspecto financeiro da SAD, Sousa Cintra também nada adiantou. “Não posso falar de algo que não sei, mas sei que [as finanças] não estão bem. Só depois de lá entrarmos e vermos com os auditores é que saberemos a situação real. Sabemos que não está bom. Mas como dos fracos não reza a história, decidi aceitar o desafio”, referiu.
A intenção desta CG é entrar imediatamente em funções, algo que foi impedida de fazer antes da AG que destituiu Bruno de Carvalho. Torres Pereira garantiu que vai reunir-se com os funcionários já na terça-feira e que, entre os passos imediatos a dar, estará a distribuição de pelouros entre os elementos da comissão, para além de decidir o que fazer com a Gala Honoris Sporting, que está agendada para a próxima sexta-feira.
Esta não é, de resto, a primeira vez que o Sporting é gerido por uma Comissão de Gestão. Em Agosto de 1979, num contexto de dificuldades financeiras em Alvalade, aquele que foi provavelmente o mais consensual dos presidentes do clube, João Rocha, deu conta da intenção de se demitir junto do Conselho Leonino.
Esta posição do líder da direcção desencadeou uma Assembleia-Geral extraordinária, realizada dois meses depois, que acabou por nomear uma Comissão de Gestão encabeçada... pelo próprio João Rocha. Este órgão transitório exerceu funções durante um ano e, apesar do clima de instabilidade que se viveu, a verdade é que, nesse período, o Sporting conseguiu ainda sagrar-se campeão.