Queiroz a ser Queiroz: “Não nasci para ser um rapaz simpático”

A FIFA, a Espanha e os “falsos adeptos iranianos”. O seleccionador do Irão não poupou ninguém no início da preparação para o jogo frente a Portugal.

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Carlos Queiroz LUSA/ROBERT GHEMENT

Tal como Portugal, que escolheu Kratovo para seu quartel-general no Mundial 2018, o Irão também optou por fazer de um centro de estágio nos subúrbios de Moscovo o seu refúgio na Rússia. A cerca de 30 quilómetros a Oeste do Kremlin, o que no desesperante trânsito moscovita pode resultar numa viagem de automóvel de duas horas, Bakovka é uma pequena localidade, agreste q.b.. Mas Bakovka foi o laboratório da conquista, na última época, do terceiro título russo do Lokomotiv, de Manuel Fernandes e de Éder. E foi no centro de estágio do novo campeão da Rússia que Carlos Queiroz furou o protocolo para disparar em vários direcção. Apenas Portugal, Fernando Santos e Cristiano Ronaldo foram poupados.

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Tal como Portugal, que escolheu Kratovo para seu quartel-general no Mundial 2018, o Irão também optou por fazer de um centro de estágio nos subúrbios de Moscovo o seu refúgio na Rússia. A cerca de 30 quilómetros a Oeste do Kremlin, o que no desesperante trânsito moscovita pode resultar numa viagem de automóvel de duas horas, Bakovka é uma pequena localidade, agreste q.b.. Mas Bakovka foi o laboratório da conquista, na última época, do terceiro título russo do Lokomotiv, de Manuel Fernandes e de Éder. E foi no centro de estágio do novo campeão da Rússia que Carlos Queiroz furou o protocolo para disparar em vários direcção. Apenas Portugal, Fernando Santos e Cristiano Ronaldo foram poupados.

No dicionário de futebolês, Carlos Queiroz é sinónimo de polémica. E o antigo seleccionador português, que na próxima segunda-feira colocará de lado “nacionalismos ou patriotismos”, porque o último jogo do Grupo B do Mundial 2018, entre Portugal e o Irão, é apenas “um jogo de futebol”, não refuta o seu lado politicamente incorrecto.

No primeiro treino do Irão após a derrota com a Espanha, resultado que deixou os seus jogadores “magoados e sentidos”, porque “sabem e têm consciência que o resultado normal seria o empate”, Queiroz não constava da lista dos disponíveis para falarem com os jornalistas na “zona mista”. Em representação da equipa técnica, apresentou-se Oceano, um dos adjuntos do seleccionador iraniano, para quem o Irão só é uma surpresa para “quem não está bem dentro do que é o futebol mundial”. “Desde que nos apurámos, e já foi há mais de um ano, começámos a mentalizar os jogadores de que era possível chegarmos aqui e, lutando com as nossas armas, termos a possibilidade de fazer história, que seria passar à próxima fase”, afirmou o antigo internacional português.

Depois de Oceano, num castelhano quase perfeito, o capitão Masoud disse que o Irão terá que “ter muita paciência” contra Portugal e pode passar “com um golo no último minuto”. Cristiano Ronaldo? “É o melhor do mundo. Mas é humano e há maneiras de o parar.”

Seguiu-se o experiente Dejagah, extremo que ao longo da última época fez apenas 14 minutos com a camisola do Nottingham Forest. Para o colega de equipa de Tobias Figueiredo, “defrontar Portugal será um dos maiores jogos da história do futebol iraniano” e “no futebol não há impossíveis”. Sem arriscar falar em português – “preciso de mais dois meses” -, o guarda-redes do Marítimo Amir garantiu que a sua selecção irá colocar “tudo em campo para conseguir os três pontos” e fazer o “povo feliz”. “É uma honra aprender com o Carlos Queiroz. Tem-me ensinado muito e nos últimos seis anos colocou o Irão no topo do futebol asiático. A consistência que temos deve-se a ele.” As palavras elogiosas de Amir para o seu treinador deveriam ser as últimas na “zona mista”, mas apesar de os 30 minutos estipulados já estarem ultrapassados, o seleccionador do Irão aproximou-se dos jornalistas. E Queiroz foi Queiroz.

Primeiro, em inglês, o treinador português disparou na direcção do país que representa. “Antes de virmos para cá, algumas pessoas, algumas personalidades, nem queriam permitir que o Irão viesse. Jogámos para os verdadeiros adeptos do Irão, mas estou sempre atento aos falsos que agora colocam a cara em frente ao relvado. É altura dos verdadeiros adeptos do Irão perguntarem-lhes porque prejudicaram a nossa preparação.”

Depois, em português, o alvo foi a Espanha. “Sempre que a Espanha joga, os árbitros são sul-americanos. É uma coincidência. Não há árbitros do Norte da América que falem inglês? O que se viu, foram os jogadores espanhóis permanentemente em cima do árbitro. As duas equipas acabaram com 14 faltas. Nós com dois amarelos e eles sem cartões. E o VAR só trabalhou para o nosso fora de jogo. Não trabalhou para o pisão que o Diego [Costa] fez no nosso guarda-redes. O campo está mais inclinado às vezes para um lado do que para o outro.”

Sem se deter, seguiu-se a FIFA no seu ponto de mira. “Quem está por trás disto sabe o que está a fazer. Está a por os melhores cada vez melhores e os que têm a esperança de serem melhores a ficarem lá no seu cantinho e não terem direito sequer a crescer. Portanto, estamos ainda mais felizes porque com poucas condições e pouco tempo, mas com uma fantástica atitude da parte dos jogadores iranianos, com muita disciplina e conscientes da realidade, conseguimos criar imensos problemas à Espanha.”

Mas Queiroz, que não nasceu “para ser um rapaz simpático” e tem idade para dizer “aquilo que tem que ser dito”, poupou Portugal. Parar Cristiano Ronaldo? “A fórmula mágica de parar este Cristiano Ronaldo era o Fernando [Santos] não o pôr a jogar, mas não creio que ele vá tomar esse risco. Já jogámos um match-point contra a Espanha e agora vamos jogar outro match-point contra Portugal. É um argumento que nem o Scorcese podia escrever para mim. Sairei vencedor. No final será tudo vermelho e verde no estádio. Por isso, para mim, será fantástico.”