Olhar de dentro para fora: o regresso do Milhões de Festa

Sobre o Milhões, ainda há muito a dizer. Para já, fique-se com a noção de que é incontornável; que é dos pouquíssimos festivais com uma curadoria arriscada, transversal e surpreendente e que, acima de tudo, é um sítio muito, muito especial.

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Paulo Pimenta

Se me apetecesse apostar quantos textos já escrevi, em toda a minha existência, sobre o Milhões de Festa (MdF), de certeza que ficaria Milhões de Pobre. Piadinhas secas aparte, a romaria anual a Barcelos acontece, este ano, entre 6 e 9 de Setembro, ao invés do habitual mês de Julho. Dizem eles — a Lovers & Lollypops, co-organizadora do evento — que “a tradição já não é o que era”. Felizmente, acrescento eu.

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Se me apetecesse apostar quantos textos já escrevi, em toda a minha existência, sobre o Milhões de Festa (MdF), de certeza que ficaria Milhões de Pobre. Piadinhas secas aparte, a romaria anual a Barcelos acontece, este ano, entre 6 e 9 de Setembro, ao invés do habitual mês de Julho. Dizem eles — a Lovers & Lollypops, co-organizadora do evento — que “a tradição já não é o que era”. Felizmente, acrescento eu.

Para os mais incautos, o MdF localiza-se à beira do rio Cávado, costuma oscilar entre o inesquecível palco da piscina e outros três estrados, com música para todos os gostos e até de manhã. A sua imagética, o triângulo invertido, remonta às bandeirinhas das típicas festas minhotas, porque, afinal de contas, estamos em pleno Minho: a taina, o vinho verde e o arraial estão ali intrínsecos.

Não deixa de ser impressionante como uma ideia que surgiu em Barcelona, corria o ano de 2004, na cabeça do Joaquim "Fua" Durães se mantenha tão ou ainda mais pertinente em 2018. Atrás dele, muitos fiéis vieram e todos encaramos o MdF como nosso. Em certa parte é, pertence agora ao mundo de eventos de culto, nos quais já nos habituámos a ver/sentir/ouvir de tudo. Por outro lado, o passa a palavra orgânico, gratuito, do MdF é caso raro em Portugal. Ainda assim, o esforço, as dores de cabeça, a falta de horas de sono e a verdadeira “pertença” são da organização e invisíveis ao festivaleiro comum.

Há dias, uma amiga dizia-me que eu era “lírica”, portanto vou colocar isto desta maneira: há um espaço no meu coração que pertence e sempre irá pertencer ao Milhões de Festa. Não só pelos momentos profissionais (e, claro, pessoais) que por lá vivi, mas sobretudo pelo relembrar de 2010, a primeira edição do festival em Barcelos, no qual eu e toda a gente foi para um desconhecido e teve das melhores experiências que se pode guardar. Não se explica, passa-se lá, como diz o outro. 

Claro que, com o passar dos anos, todos envelhecemos, novas tendências surgem e fica sempre bem dizer o quão outdated está o MdF. Enganam-se, meus queridos. Haverá sempre, sempre, surpresas a sair do triângulo invertido, essa constante que também significa mudança (é verdade, vão googlar).

Sobre o Milhões, ainda há muito a dizer. Para já, fique-se com a noção de que é incontornável; que é dos pouquíssimos festivais com uma curadoria arriscada, transversal e surpreendente e que, acima de tudo, é um sítio muito, muito especial. Por lá, além do já conhecido hub musical barcelense, passaram nomes tão díspares como Alt-j (antes de serem famosos), Earthless, El Guincho, Causa Sui, Electric Wizard, Bo Ningen, ZA!, Bob Log III, Zu, Goat, Zombie Zombie, Radio Moscow, Washed Out, Jacco Gardner, UFOMammut, Boogarins, Chelsea Wolfe, Fumaça Preta…

Ai, está visto, vou ter de continuar a escrever sobre isto. Fica para breve. Agora, o que importa reter é que o Milhões de Festa está de volta, acontece de 6 a 9 de Setembro e que haverá mais informações em breve. Se tivesse de apostar, diria que os Riding Pânico vão lá tocar (mas não contem a ninguém).