O PSD. Qual é?
O problema do PSD neste momento é saber exactamente que partido é, tantas são as vozes que se sobrepõem no partido.
Nem é preciso ir pelos números das sondagens, que só confirmam o óbvio: é tão ou mais difícil ao PSD chegar à vitória nas próximas legislativas do que ao PS chegar a uma maioria absoluta.
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Nem é preciso ir pelos números das sondagens, que só confirmam o óbvio: é tão ou mais difícil ao PSD chegar à vitória nas próximas legislativas do que ao PS chegar a uma maioria absoluta.
O problema do PSD neste momento é saber exactamente que partido é, tantas são as vozes que se sobrepõem. É um problema que nasce no passado, que dificulta o presente e, sobretudo, que pode prejudicar muito o seu futuro.
O problema nasce no passado pelo que é mais óbvio: Rui Rio não é Passos Coelho, não traz o peso das opções passadas e não tem consigo a maioria da bancada parlamentar. Mas também pelo que é menos evidente: o programa de Rui Rio é, em larga medida, tão vago que deixa demasiados espaços em branco sempre que é preciso o partido reagir; e porque o novo líder criou uma série de estruturas em cima das já existentes que só potenciam a confusão.
O problema dificulta o presente porque se cria uma percepção de que o PSD não é um partido, é mais do que um; ou, pior, a percepção de um líder que não se consegue impor. Veja, por exemplo, o que aconteceu no caso das carreiras dos professores, em que o “vice” Castro Almeida diz uma coisa, o “vice” David Justino acrescenta outra, o líder parlamentar recua depois. Para chegarmos à conclusão de que o líder, ele próprio, só no fim ditou uma posição — exactamente oposta àquela que o social-democrata Miguel Albuquerque está a implementar no único governo que o PSD lidera, o da Madeira.
Mas este problema pode, acima de tudo, revelar-se um grande obstáculo ao PSD do futuro. Bastando lembrar o que se passou na votação da eutanásia, em que meio partido pareceu mais preocupado em marcar o “sim” ausente de Rui Rio do que em usar a liberdade de voto que lhe foi dada.
Veja, então, o que pode vir aí no acordo de concertação social, em que Rio (já sabemos) é favorável à viabilização parlamentar, mas em que parte da bancada pode bloquear uma ordem da direcção. E imagine, no limite, como seria se Rui Rio quisesse salvar o último Orçamento deste Governo — caso a “geringonça” falhasse. Haveria disciplina de voto? Quem a respeitaria?
É certo que Rui Rio gosta da ideia de um desafio interno, de uma oposição que o mostre como D. Quixote. Mas nenhum líder pode arriscar, com as sondagens que têm saído, ir para eleições com uma bancada em ruptura ou com um partido desmobilizado. Menos ainda arriscar que a opinião pública percepcione no PSD uma direcção que não se coordena ou que simplesmente navega à vista, à espera do dia em que este PS caia em desgraça.