Papa Francisco condena política de "tolerância zero" de Trump
Durante a entrevista à Reuters, o Papa falou sobre a questão da imigração da Europa, a ascensão dos populismos e o escândalo de abusos sexuais na Igreja Católia chilena.
“Imoral” e “contrária aos valores cristãos”. É assim que os bispos católicos norte-americanos definem a política de “tolerância zero” do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que tem separado famílias na fronteira com o México. E o Papa Francisco apoia-os, como disse numa entrevista à Reuters.
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“Imoral” e “contrária aos valores cristãos”. É assim que os bispos católicos norte-americanos definem a política de “tolerância zero” do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que tem separado famílias na fronteira com o México. E o Papa Francisco apoia-os, como disse numa entrevista à Reuters.
O Papa falou também sobre a questão da imigração na Europa e o endurecer da retórica de países como Itália e Hungria. “O populismo não é a solução”, sublinha Francisco.
Numa rara entrevista, o Sumo Pontífice apoiou os bispos católicos norte-americanos que têm condenado a separação de famílias: “Estou do lado desses bispos”. O chefe da Igreja Católica posiciona-se contra as declarações de Jeff Sessions, attorney general (equivalente a ministro da Justiça) dos Estados Unidos, e Sarah Sanders, porta-voz da Casa Branca, que tentaram justificar a política de “tolerância zero” com referências bíblicas. E junta-se às vozes que têm condenado esta prática, como a actual primeira-dama Melania Trump e a ex-primeira dama Laura Bush.
De acordo com a política de tolerância zero da Administração Trump, que trata da mesma forma traficantes e pais sem documentos, e que já teve como consequência a separação de mais de 2000 famílias na fronteira desde Outubro, é instaurado um processo criminal a qualquer adulto que entre nos EUA de forma ilegal. Como consequência, as crianças acabam por ser separadas dos pais porque não podem ser enviadas para uma cadeia.
Francisco falou também sobre a questão da imigração na Europa. Face à recusa de italiana de aceitar, nos seus portos, o navio Aquarius, que seguia com 690 migrantes resgatados do Mediterrâneo a bordo, e às declarações do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, que diz que “a Hungria é contra a mistura” com povos estrangeiros, o Papa acredita que os populistas estão a “criar uma psicose” sobre a questão da imigração.
“Acho que não podemos rejeitar as pessoas que chegam. Temos de recebê-las, ajudá-las, olhar por elas, acompanhá-las, e ver onde as podemos colocar em toda a Europa”, disse Francisco. E, no entender do Papa, a imigração vem dar reposta a um dos problemas da Europa: o envelhecimento da população. Sem imigração, acrescentou, a Europa ficará “vazia”.
“Alguns governos estão a trabalhar nisso, mas as pessoas têm de ser instaladas da melhor maneira possível, criar uma psicose não é a cura”, disse. “O populismo não resolve as coisas. O que resolve as coisas é a aceitação, o estudo, a prudência.”
Durante a entrevista, o Papa Francisco admitiu a possibilidade de aceitar demissões de mais bispos chilenos. Até agora, foram três os bispos que se demitiram devido ao escândalo de abuso sexual de crianças.