Treinadores perspectivam jogo: "Selecção pode dar muito mais"

Treinadores portugueses reagem às palavras do seleccionador após o jogo com a Espanha. Para Manuel Machado, colocar André Silva contra Marrocos, em detrimento de Gonçalo Guedes, “é mais do mesmo”.

Foto
Fernando Santos considera que a Selecção tem de "ter mais bola e intensidade" LUSA/PAULO NOVAIS

Depois do empate com a Espanha no primeiro jogo do Mundial, o seleccionador nacional deixou algumas críticas à actuação de Portugal. “Se tivesse de dar nota à exibição da selecção, de zero a 10, dava um seis”, disse Fernando Santos depois do jogo, que acabou 3-3. O PÚBLICO convidou dois treinadores portugueses a comentarem as palavras do seleccionador e a perspectivarem mudanças para o jogo de hoje, contra Marrocos.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Depois do empate com a Espanha no primeiro jogo do Mundial, o seleccionador nacional deixou algumas críticas à actuação de Portugal. “Se tivesse de dar nota à exibição da selecção, de zero a 10, dava um seis”, disse Fernando Santos depois do jogo, que acabou 3-3. O PÚBLICO convidou dois treinadores portugueses a comentarem as palavras do seleccionador e a perspectivarem mudanças para o jogo de hoje, contra Marrocos.

Henrique Calisto, técnico com larga experiência na Liga portuguesa e com passagens de sucesso pelo Vietname, concorda “em absoluto” com as críticas feitas por Fernando Santos, que também afirmou que Portugal tinha de ter mais posse de bola: “A selecção pode dar muito mais, porque a selecção, em relação nomeadamente ao jogo ofensivo, pode ser melhor, a posse de bola pode ser melhor”.

Por sua vez, Manuel Machado concorda com o seleccionador nacional “do ponto de vista exibicional”. “Do ponto de vista do rendimento, julgo que merecem algo mais. Não estavam a jogar com uma selecção qualquer. A Espanha é, de facto, uma das selecções mais fortes do mundo e empatar com ela é meritório. Não foi um jogo brilhante da nossa parte. Do ponto de vista do resultado, julgo que um 8 ou 9 seria o mais adequado”, afirma o treinador, que detém um largo currículo no futebol nacional.

Machado, que diz que tem “todo o respeito pelas opções do seleccionador”, assinala que o modelo de jogo de Portugal “é de bloco médio baixo e de transição”. “Aquilo que eu vi no jogo com a Espanha, e já tinha sido de alguma maneira visível nos jogos preparatórios anteriores, é que a composição da frente de ataque nem sempre tem perfis que se adequam a este modelo”, analisa o técnico, nomeando três jogadores que considera não serem adequados a esta ideia: “Nem o [Bruno] Fernandes, nem o Bernardo [Silva] nem o [Gonçalo] Guedes são jogadores com perfis que vão nesse sentido.”

Henrique Calisto não se alonga tanto em análises tácticas. Em vez disso, aponta um lote de jogadores que considera que podem “aumentar o seu rendimento” no próximo jogo: “Houve pelo menos três jogadores que podem e devem, e vão conseguir de certeza, dar maior sequência aos jogos. Estou-me a lembrar do Bruno, por exemplo, que esperava mais dele, do William Carvalho, do Bernardo”.

Em relação à abordagem ao encontro com Marrocos, Manuel Machado aposta em “profundidade” e “um jogador mais rápido no flanco oposto ao de Bernardo”, que na sua óptica pode ser “Quaresma, João Mário ou Gelson”.
Henrique Calisto não quer apostar num onze inicial, porque “não ajuda” e “é um palpite”. “Eu, como treinador, tenho de respeitar o meu colega, porque ele é que está por cima, está junto dos jogadores, do dia-a-dia, do que se passa.”

Na hora de falar em mudanças que podem acontecer no “onze”, Manuel Machado cita Albert Einstein: “Fazer do mesmo modo à procura de um resultado diferente é insanidade.” “Eventualmente, para se manter a consistência defensiva, jogar com três médios, puxar o Bruno para o espaço interior, para juntar aos outros dois médios de cobertura, o William e o Moutinho”, aposta, defendendo que trocar Gonçalo Guedes por André Silva “é mais do mesmo”.