Melhorar é a palavra de ordem para Portugal e Marrocos

Selecção africana, com o toque de Hervé Renard, tenta sobreviver no Grupo B. Fernando Santos quer equipa ao nível do Euro 2016.

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Reuters/ALBERT GEA

Primeiro foi uma Espanha “em crise”, vítima das suas próprias idiossincrasias, mas que mostrou em Sochi ter sabido resolver os problemas antes de entrar em campo. Hoje será Marrocos, selecção que chegou ao Mundial 2018 moralizada por um ano inteiro sem qualquer derrota, mas que surpreendentemente caiu na estreia frente ao Irão, deixando presa por arames a auto-estima e a sua relação com os exigentes adeptos. Sem margem de erro, o francês Hervé Renard, seleccionador do segundo adversário de Portugal, terá, assim, que recuperar no Estádio Luzhniki os créditos que fizeram de si um dos mais cobiçados treinadores em África. Com menos problemas para resolver, Fernando Santos vai mexer no ataque e resgatar uma parceria de sucesso: Cristiano Ronaldo e André Silva.

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Primeiro foi uma Espanha “em crise”, vítima das suas próprias idiossincrasias, mas que mostrou em Sochi ter sabido resolver os problemas antes de entrar em campo. Hoje será Marrocos, selecção que chegou ao Mundial 2018 moralizada por um ano inteiro sem qualquer derrota, mas que surpreendentemente caiu na estreia frente ao Irão, deixando presa por arames a auto-estima e a sua relação com os exigentes adeptos. Sem margem de erro, o francês Hervé Renard, seleccionador do segundo adversário de Portugal, terá, assim, que recuperar no Estádio Luzhniki os créditos que fizeram de si um dos mais cobiçados treinadores em África. Com menos problemas para resolver, Fernando Santos vai mexer no ataque e resgatar uma parceria de sucesso: Cristiano Ronaldo e André Silva.

Na Zâmbia é considerado um herói; na Costa do Marfim é lembrado com saudade; em Marrocos já há quem o chame de “mágico”. Pouco reconhecido na Europa, o treinador do segundo adversário de Portugal no Mundial 2018 tem, aos 49 anos, um currículo invejável em África e é o grande responsável pela enorme evolução da selecção marroquina nos últimos anos.

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Em 2012, Hervé Renard conseguiu levar uma modesta selecção zambiana a uma vitória inédita na Taça das Nações Africanas (CAN). O sucesso no continente despertou o interesse do Sochaux, mas, de regresso ao seu país, Renard não foi feliz: acabou despromovido à segunda divisão francesa. O falhanço em França motivou novo regresso a África. Destino: Costa do Marfim. Resultado: Nova vitória na CAN (2015). Renard tornava-se no primeiro treinador a vencer a prova por dois países diferentes.

A proeza não passou despercebida. Com nova proposta saída de França, Renard cedeu ao convite do Lille, mas seis meses depois, com 13 pontos em 13 jogos, acabou despedido. Sem clube, o técnico voltou a “casa”. Em Fevereiro de 2016, o francês foi apresentado como novo seleccionador de Marrocos e precisou de um ano para, duas décadas depois, voltar a apurar os marroquinos para um Campeonato do Mundo. E o registo, num grupo no qual estavam também a Costa do Marfim, o Gabão e o Mali, impressionou: zero derrotas e zero golos sofridos.

Tolerância acima de tudo

Mas qual é o segredo do sucesso de Hervé Renard em África? O francês coloca o mérito em Claude Le Roy, actual seleccionador do Togo, de quem foi adjunto e de quem recebeu um importante conselho na primeira vez que trabalharam juntos em África: “Disse-me que o importante é ser tolerante. Não podemos chegar a África e dizer que em França se fazem as coisas desta ou daquela maneira. É preciso esquecer tudo, deixar de lado as comparações. Se mantivermos o espírito aberto sobre a cultura, as tradições e a mentalidade, podemos ter sucesso.”

Ontem, na sala de imprensa do Estádio Luzhniki, Renard mostrou que as suas qualidades não se ficam pela forma como gere o ego dos sempre problemáticos balneários africanos. Com habilidade e diplomacia, o treinador soube não hostilizar o grande trunfo do seu adversário  — “Cristiano Ronaldo é um jogador excepcional, tentaremos que seja menos excepcional” —, mas fez questão de deixar claro que Portugal não se resume a um jogador, por muita qualidade que tenha: “Se colocar três a marcarem o Ronaldo, quem marca os outros? Ele lesionou-se na final do Euro 2016 e Portugal venceu a França”, recordou.

E um dos “outros” que os marroquinos terão de marcar no palco da final do Mundial 2018 será, muito provavelmente, André Silva. Fernando Santos escondeu o jogo na antevisão da partida, mas o avançado do AC Milan deverá ser titular em Moscovo, contra Marrocos, reeditando, com Cristiano Ronaldo, uma dupla que foi de enorme sucesso ao longo da fase de qualificação.
A outra previsível alteração em relação ao jogo com a Espanha é a entrada de João Mário, relegando Bruno Fernandes para o banco de suplentes. Neste cenário, o médio que na última época esteve emprestado pelo Inter Milão ao West Ham deverá ocupar o corredor esquerdo, com Bernardo Silva a surgir novamente do lado oposto.

“Temos capacidade para fazer melhor do que fizemos contra a Espanha”, anotou ontem Fernando Santos, garantindo que “Portugal está pronto e preparado” para o segundo jogo no Mundial. O técnico português reconhece que Marrocos “tem um treinador experiente, jogadores de qualidade, que actuam nos melhores campeonatos europeus, e é uma equipa muito organizada”, que “disputa o jogo no limite”.

Independentemente dos predicados do adversário, para o selecionador de Portugal só há um caminho a seguir, o mesmo que tem trilhado a selecção nos últimos anos: “Basta jogar ao melhor nível, como fizemos no Europeu. Se fizermos isso, acredito que vamos ganhar.”