Uma grande pena, uma grande perda
Sabia tudo dos jornais onde esteve, conhecia segredos que não desvendava, tinha a confiança de patrões e redacções, protegia, cuidava e por vezes ralhava — e ainda bem. Nada lhe escapava, nem do ofício nem da natureza humana.
A Lucília era uma abelha mestra, uma fada e uma generala e isto desde que, nos longuínquos idos de setenta do século passado, eu a conheci a oficiar no Expresso com o maestro Balsemão. Começou como secretária, transformou-se em motor, acabou como alma-mater. Ontem, quando começaram a tocar os tan-tans da selva — esses terríveis e temíveis “já sabes que….” e os “já te avisaram que” — que haveriam de unir a nossa tribo durante a tarde, voltei a dar-me conta, e já com saudades dela, de como a Lulu foi de facto algumas formidáveis coisas ao mesmo tempo. E que isso lhe conferiu a extraordinária condição de talvez ter sido ela a única pessoa, afinal, verdadeiramente indispensável nos sítios por onde passou.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
A Lucília era uma abelha mestra, uma fada e uma generala e isto desde que, nos longuínquos idos de setenta do século passado, eu a conheci a oficiar no Expresso com o maestro Balsemão. Começou como secretária, transformou-se em motor, acabou como alma-mater. Ontem, quando começaram a tocar os tan-tans da selva — esses terríveis e temíveis “já sabes que….” e os “já te avisaram que” — que haveriam de unir a nossa tribo durante a tarde, voltei a dar-me conta, e já com saudades dela, de como a Lulu foi de facto algumas formidáveis coisas ao mesmo tempo. E que isso lhe conferiu a extraordinária condição de talvez ter sido ela a única pessoa, afinal, verdadeiramente indispensável nos sítios por onde passou.
Ainda hoje penso como foi uma fundamental trave-mestra do PÚBLICO — em certas ocasiões e atribulações parecia-nos até que era a Lulu que levava o jornal às costas, e provavelmente era. O Expresso e o PÚBLICO foram o ar que respirou com dedicação sem limite e autoridade própria. Sabia tudo dos jornais onde esteve, conhecia segredos que não desvendava, tinha a confiança de patrões e redacções, protegia, cuidava e por vezes ralhava — e ainda bem. Nada lhe escapava, nem do ofício nem da natureza humana.
As simpatias mais “esquerdistas” dela nos diversos PRECs politicos ou profissionais que vivemos, e que colidiam com o meu reaccionarismo anti-PREC, nunca por nunca porém impediram a nossa amizade de crescer, amadurecer e dar bom frutos, perdurando até ontem, mesmo que já separadas profissionalmente. E que se pode dizer de melhor e mais terno de alguém?
Vivi grandes momentos com ela, inesquecíveis momentos. “Uma grande tristeza”, dizia-me ontem o Augusto Seabra, em lágrimas, ao telefone.
Uma grande pena, uma grande perda, queridíssima Lulu. Eu gostava mesmo muito de si.